Intoxicação por metanol: qual o risco e como saber se a bebida está adulterada
Duas pessoas já morreram em São Paulo após consumir drinks contendo tipo de álcool que é altamente tóxico para o corpo humano

Um surto de casos de intoxicação por metanol tem deixado autoridades em alerta no estado de São Paulo, onde pelo menos nove pessoas foram internadas após consumir bebidas alcoólicas adulteradas contendo a substância. Duas morreram.
O metanol é um tipo de álcool altamente tóxico ao corpo humano, que pode levar a sintomas incapacitantes e até à morte, dependendo do nível de contaminação. Ele pode aparecer em bebidas alcoólicas falsificadas, que tenham sido adulteradas deliberadamente ou até mesmo de forma acidental, quando elas foram fabricadas sem seguir cuidados básicos de segurança.
Entenda melhor o que é o metanol, por que ele é tão danoso à saúde, e o que é possível fazer para se prevenir.
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O que é o metanol e como ele foi parar nas bebidas em São Paulo?
O metanol é um tipo de álcool que existe em proporções reduzidas em frutas e até no nosso corpo, mas se torna tóxico quando sua presença aumenta demais, pois é metabolizado de forma distinta à do etanol (o álcool etílico encontrado nas bebidas). Com aplicação industrial, como na fabricação de plásticos e solventes, o metanol não deve ser ingerido.
No entanto, casos de intoxicação por metanol presente em bebidas alcoólicas acontecem ao redor do mundo de tempos em tempos. Ele pode se acumular de forma acidental em alguns processos de fermentação e destilação caseiros que não seguem as normas de segurança para eliminar o metanol da mistura, mas também pode ser adicionado deliberadamente em adulterações que buscam aumentar o teor alcoólico de uma bebida falsificada.
Em função disso, quando há surtos de contaminação por metanol, é muito mais comum que ele apareça em quantidades perigosas nos produtos com muito álcool, como destilados, embora possa estar presente em medidas menores em outros drinks.
Ainda não está clara a origem do metanol que vem causando problemas em São Paulo.
Os casos, porém, são considerados fora do padrão típico de contaminações, devido ao curto intervalo de tempo entre as intoxicações e ao fato de serem relacionadas ao consumo de bebida alcoólica que parecia ser legítima. Em geral, contaminações por metanol ocorrem em contextos de vulnerabilidade social e abusos de substâncias, o que não foi o caso desta vez.
Cegueira, morte… quais os perigos do metanol à saúde?
O metanol é altamente tóxico mesmo em quantidades reduzidas. Os sintomas de intoxicação costumam aparecer entre 12 a 24 horas após o consumo da bebida. O tempo pode variar devido à concentração do metanol e à própria ação do etanol, que retarda o metabolismo do outro álcool.
Quando surgem, os sintomas incluem dor de cabeça, náusea, vômito, dor abdominal e confusão mental. Além da intensidade dos problemas, outro sinal característico que diferencia a intoxicação por metanol de uma simples ressaca é o surgimento de sintomas oculares, como visão turva e até cegueira, segundo a Associação Brasileira de Neuro-Oftalmologia (ABNO).
Os problemas ocorrem porque, enquanto o etanol acaba sendo metabolizado em ácido acético e consumido pelo nosso organismo, o metanol é convertido em ácido fórmico, que diminui a oxigenação das células. Em excesso, ele produz um quadro conhecido como acidose metabólica, que leva às complicações de saúde.
A depender da concentração e da demora no tratamento, o consumo de metanol pode matar, como já ocorreu em São Paulo. Em 2020, um caso famoso de contaminação pela substância em uma bebida conhecida como clerén deixou 215 pessoas mortas na República Dominicana. Na ocasião, autoridades locais disseram que a concentração de metanol chegava a 50% do produto consumido.
Como identificar se a bebida tem metanol?
Infelizmente, não existe uma maneira garantida de identificar o metanol na bebida que você está ingerindo. Embora testes em laboratório possam fazer essa distinção, no bar ele se parece com o etanol: em temperatura ambiente, é líquido, inflamável e incolor, e o cheiro não se diferencia de maneira significativa, até pela presença concomitante do álcool etílico comum.
Por isso, a única maneira de se prevenir neste momento é evitando bebidas de procedência desconhecida e, se for tomar algo fora de casa, não consumir drinks em estabelecimentos que você não conheça ou não saiba a origem das garrafas.
Fuja, sobretudo, dos destilados, que costumam ser o foco de adulteração mais comum. Em São Paulo, segundo o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox), de Campinas, já foram registradas contaminações em pessoas que ingeriram gin, uísque e vodca, entre outros.
“A recomendação é que bares, empresas e demais estabelecimentos redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos oferecidos, e que a população adquira apenas bebidas de fabricantes legalizados, com rótulo, lacre de segurança e selo fiscal, evitando opções de origem duvidosa e prevenindo casos de intoxicação que podem colocar a vida em risco”, destacou Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado de São Paulo, por meio de nota.
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Como é tratada a intoxicação por metanol?
As primeiras 48 horas são consideradas cruciais para evitar complicações irreversíveis, como a perda de visão ou a própria morte.
Diante de qualquer suspeita de acidose metabólica, é fundamental procurar um serviço de saúde para receber o tratamento correspondente, que pode envolver medicamentos como o fomepizol (o “antídoto” para o metanol) ou até mesmo uma hemodiálise, em contaminações mais graves.