A endometriose profunda, uma das formas mais severas da doença, pode causar dor intensa e uma série de complicações, invadindo órgãos como o intestino e a bexiga. Para quem não sabe, aliás, a endometriose é uma doença na qual tecidos da camada interna do útero (o endométrio) surgem em locais onde não deveriam estar.
Aqui no Brasil, temos avançado significativamente no diagnóstico, tratamento e na pesquisa sobre essa condição debilitante. Como médico especialista em endometriose, eu tenho dedicado grande parte da minha carreira a entender e tratar esta condição, que afeta aproximadamente 10% das mulheres em idade reprodutiva. Vou compartilhar um pouco sobre os tratamentos disponíveis, os sintomas mais comuns e as novas perspectivas sobre ela.
Capacidade de gestação em mulheres com endometriose
É verdade que a condição pode afetar a fertilidade por razões que incluem problemas de ovulação, obstrução das tubas uterinas e dificuldade para implantação do embrião fertilizado. E, mesmo que as mulheres engravidem, há risco maior de aborto ou problemas de sangramento no fim da gestação.
Apesar disso, muitas pacientes conseguem conceber um filho, seja naturalmente, seja com auxílio de tratamentos de fertilidade, como a fertilização in vitro (FIV). É crucial que pessoas com endometriose busquem orientação de especialistas em fertilidade familiarizados com a complexidade da doença.
Tratamento da endometriose profunda
Respondendo à pergunta do título: não, a endometriose não tem cura. Mas os tratamentos reduzem os sintomas e melhoram a qualidade de vida.
No Brasil, a abordagem pode incluir desde medicamentos para aliviar a dor até intervenções cirúrgicas minimamente invasivas para remover a doença (a chamada cirurgia por “excisão”).
Em minha prática, tenho visto que essas operações podem oferecer resultados significativos, especialmente em casos de endometriose profunda.
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Primeiros sinais e a importância do diagnóstico precoce
Os sintomas iniciais da endometriose são frequentemente relacionados a dor pélvica severa, cólicas menstruais intensas e dor durante relações sexuais. A conscientização sobre eles é vital para um diagnóstico precoce, que pode levar a um tratamento mais eficaz.
Incentivo minhas pacientes a não ignorarem sinais persistentes e a consultarem um especialista, caso haja suspeita de endometriose.
Pesquisa e desenvolvimentos futuros
Estamos investigando novas terapias, além de avançar na compreensão da base genética e molecular da doença. Esses estudos são essenciais para desenvolver tratamentos mais eficientes e, quem sabe, uma cura futura.
A luta contra a endometriose é um caminho contínuo de desafios e descobertas. No Brasil, estamos fazendo progressos significativos para melhorar o manejo desta doença, com foco na melhoria da qualidade de vida das mulheres afetadas.
*Mauricio S. Abrão é ginecologista, professor associado da Faculdade de Medicina da USP, responsável pelo Setor de Endometriose do Hospital das Clínicas e coordenador do Serviço de Ginecologia Avançada do Hospital BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)