A gota é uma doença inflamatória provocada pelo acúmulo de ácido úrico no sangue. Dor, rigidez e vermelhidão nas articulações são os incômodos mais evidentes durante as crises. Mas a ciência mostra que o quadro pode ter outras repercussões no organismo, incluindo um risco elevado de doença renal crônica.
Em uma pesquisa recente publicada no periódico British Medical Journal, estudiosos compararam quase 69 mil indivíduos com gota a outros 554 mil sem a doença. Eles concluíram, então, que o primeiro grupo tinha uma probabilidade 29% maior de apresentar um comprometimento dos rins. Para piorar, esse índice subiu para 50% considerando especificamente a versão mais avançada da doença renal crônica.
Os pesquisadores utilizaram dados do serviço de saúde pública britânico. Outros fatores de risco para a falência dos rins, como pressão alta, diabetes, problemas cardiovasculares, tabagismo e consumo de álcool, foram considerados para que não interferissem no resultado final da análise.
“Sempre acreditamos que níveis altos de ácido úrico seriam ruins para os rins, mas ficamos surpresos com a magnitude dos achados”, declarou, ao site Medical News Today, Austin Stack, nefrologista da Universidade de Limerick, na Irlanda, que conduziu o trabalho, também assinado pela farmacêutica AstraZeneca.
A ligação entre gota e a doença renal crônica
Ainda não se sabe exatamente o que está por trás desse elo. Mas as maiores suspeitas recaem sobre o ácido úrico. Uma das possibilidades é a de que a hiperuricemia, o nome técnico para o acúmulo dessa molécula, lesionaria os vasos sanguíneos que abastecem os rins. Com o tempo, esses órgãos sofreriam com o desabastecimento e perderiam parte de sua função.
Os autores argumentam também que a inflamação do organismo durante as crises de gota e a formação dos cristais de urato — consequência do excesso de ácido úrico — seriam danosas aos rins. O mesmo valeria para o uso de anti-inflamatórios que visam amenizar as dores da gota.
Outras repercussões no corpo
Não é uma novidade que o aumento nos níveis de ácido úrico faz estragos para além da gota. A substância, por exemplo, colabora para a retenção de sódio, que leva ao aumento da pressão arterial, e para o surgimento de outras enfermidades cardiovasculares.
Considerando o perigo generalizado, vale manter a gota bem controlada e, se necessário, dosar o ácido úrico no sangue. Se o nível estiver acima da normalidade, ajustes na dieta e no estilo de vida ajudam a contê-lo —e, consequentemente, afastam os estragos.