Você provavelmente já utilizou algum fitoterápico e talvez nem saiba disso. Nas farmácias, eles podem ser encontrados em forma de pílulas, cremes, xaropes e outras preparações, que contam com o nome científico de alguma planta na embalagem.
Na Antiguidade, grande parte dos tratamentos de saúde eram fitoterápicos. Ainda hoje, plantas medicinais são ingredientes para medicações caseiras tradicionais.
Mas nem toda fitoterapia tem benefícios comprovados à saúde – e nem todo fitoterápico é autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (órgão fiscalizador dos insumos e serviços de saúde no Brasil, conhecida pelo sigla Anvisa).
O chá feito a partir de uma planta colhida no quintal, apesar de até poder ter propriedades terapêuticas, não é considerado um fitoterápico.
Aprenda, afinal, o que são os fitoterápicos e conheça os cuidados para não cair em nenhuma fria na hora de buscar um tratamento.
O que é fitoterapia?
A fitoterapia inclui todo tipo de tratamento com os chamados fitoterápicos: produtos feitos a partir de plantas medicinais. Plantas medicinais, por sua vez, são aquelas que têm alguma propriedade medicinal sobre o corpo humano.
No entanto, um remédio feito com plantas não é necessariamente um fitoterápico. A própria morfina, por exemplo, deriva da flor da papoula, mas é um opioide. Só são considerados fitoterápicos remédios industrializados, obtidos a partir de várias partes da planta medicinal.
Assim, a morfina não é considerada um fitoterápico porque é produzida com apenas uma molécula isolada retirada de uma planta.
A fitoterapia é considerada um tratamento complementar, ou seja, só deve ser empregada por recomendação médica como auxiliar para a linha terapêutica adequada. Se autorizados pela Anvisa, os riscos e benefícios dos fitoterápicos devem constar na bula.
O risco está na variedade de preparos supostamente feitos com plantas medicinais comercializados de forma irregular, que podem trazer vários malefícios à saúde.
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Quais são os fitoterápicos autorizados pela Anvisa?
No Brasil, os fitoterápicos devem ser registrados ou notificados na Anvisa para terem autorização de venda regular. Os registrados devem trazer um número na embalagem, e nos produtos notificados deve constar uma frase indicativa do processo junto ao órgão fiscalizador. Dá para verificar a situação do fitoterápico junto à Anvisa no site do órgão.
Vale ficar atento também ao nome botânico da planta usada pelo fitoterápico, que aparece em itálico na embalagem. O nome científico da hortelã, muito usada em fitoterápicos, é Mentha spicata, por exemplo.
Na lista de medicamentos disponíveis para prescrição no Sistema Único de Saúde – a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais, também chamada pela sigla Rename – há doze fitoterápicos.
Saiba quais são esses fitoterápicos e quais seus benefícios comprovados cientificamente:
- Alcachofra: atua contra indigestão e gases e serve como diurético. Combate níveis elevados de gordura no sangue, assim prevenindo a aterosclerose, e pode ajudar a aliviar sintomas de síndrome do intestino irritável;
- Aroeira: funciona como anti-inflamatória e cicatrizante. Pode ser receitada para tratar problemas ginecológicos;
- Cáscara-sagrada: fitoterápico usado para tratar constipação intestinal leve e não crônica;
- Espinheira-santa: além de ser digestiva, protege a mucosa gástrica de ácidos excessivos – que causam a famosa azia;
- Garra-do-diabo: combate dor lombar e articular;
- Guaco: melhora respiração ao atuar como expectorante e broncodilatador;
- Hortelã: alivia indigestão e gases;
- Isoflavona-de-soja: aliada para quem passa pelo climatério, ajuda a combater as ondas de calor e o suor excessivo;
- Plantago: alivia constipação intestinal;
- Salgueiro: serve para dor lombar e tem ação anti-inflamatória;
- Unha-de-gato: também é anti-inflamatória.
Outras espécies são estudadas pela Anvisa para futura incorporação na Rename. Os fitoterápicos podem ser produzidos pela indústria ou manipulados em farmácias – nesse caso, o remédio pode não constar na lista da Anvisa, mas estar autorizado quando for fruto de recomendação médica e produzido em uma farmácia registrada pela vigilância sanitária.
Cuidados para não cair numa cilada
Uma porção de “medicamentos naturais” é vendida a partir de propagandas enganosas, que promete desde o emagrecimento até a melhora da saúde mental. Esses produtos são vendidos irregularmente na internet ou em lojas de produtos naturais.
Há muitos riscos envolvidos no uso de “fitoterápicos” irregulares: o principal é a hepatite, já que o fígado é o órgão que metaboliza as substâncias dessas fórmulas. Como é costumeiro que os preparos misturem uma variedade de plantas, em concentrações inconstantes, pode acontecer uma sobrecarga do fígado.
Esses produtos também podem estar contaminados por ingredientes tóxicos, e não há qualquer garantia de segurança nos processos de preparo ou na validade medicinal.
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Casos de hepatite fulminante causados por fitoterápicos costumam, inclusive, ser mais graves do que situações induzidas pelo uso de medicamentos regulares. Isso porque as combinações desses produtos irregulares são imprevisíveis, e não dá para confiar na lista de ingredientes da embalagem. Assim, fica ainda mais difícil remediar a contaminação.
Desconfie de qualquer produto que traga promessas milagrosas, ou os dizeres “produto natural” ou “100% natural”. O cuidado deve se estender aos chás. Para ter alegações de uso medicinal, o chá deve ser comercializado como fitoterápico em farmácias – e para isso, deve contar com autorização da Anvisa.
Para plantas medicinais, os cuidados são outros: é preciso utilizar a planta correta, identificada pelo nome botânico, na forma seca e embalada. Como não são medicamentos, as plantas não podem trazer promessas de tratamento nem conter bulas. A venda pode ser feita em supermercados ou a granel.