Fibrose pulmonar: novo remédio reduz mortalidade de forma inédita
O nerandomilaste também foi capaz de diminuir a perda da capacidade dos pulmões de se encherem de ar

Após 10 anos sem novidades no tratamento da fibrose pulmonar, um novo medicamento demonstrou reduzir a progressão e a mortalidade da doença de forma inédita. Trata-se do nerandomilaste, um fármaco desenvolvido para frear a inflamação e a cicatrização descontrolada nos pulmões.
Em estudos clínicos publicados na revista The New England Journal of Medicine nesta segunda-feira (19), a medicação teve eficácia e segurança comprovadas contra dois tipos diferentes da condição: a fibrose pulmonar idiopática e a progressiva.
“A fibrose pulmonar ocorre quando há um excesso de tecido cicatricial nos pulmões”, explica Thais Melo, diretora médica da Boehringer Ingelheim no Brasil. “Esse tecido dificulta a passagem do oxigênio para a corrente sanguínea, gerando diversos problemas para a saúde, inclusive sintomas como a falta de ar.”
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A doença é classificada como idiopática quando não há uma causa identificável para o quadro, enquanto que a progressiva cursa com outros problemas associados, principalmente doenças autoimunes e reumatológicas (como artrite reumatoide, esclerodermia e esclerose sistêmica).
Os estudos clínicos avaliaram o efeito da droga em ambos casos.
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Por dentro do estudo
Mais de 2 mil pacientes com fibrose pulmonar participaram da terceira fase dos testes clínicos Fibroneer, que foi realizado em dois braços: o Fibroneer-IPF, para o seguimento de pacientes idiopáticos, e o Fibroneer-ILD, para casos progressivos.
O objetivo principal do estudo era saber se o nerandomilaste era capaz de aumentar a capacidade dos pulmões de se encherem de ar mesmo com a presença das cicatrizes causadas pela doença. Essa habilidade é chamada de capacidade vital forçada (CVF).
Os participantes de ambos os braços da pesquisa foram divididos em três grupos: os que tomaram dose de 9 mg do medicamento, os que ingeriram 18 mg a cada dose e os que ficaram no grupo placebo.
Aqueles que receberam nerandomilaste tiveram um menor declínio da capacidade de encher os pulmões de ar comparado ao placebo. Os voluntários foram acompanhados durante um ano e também foi observado uma diminuição no número de óbitos aqueles que receberam a nova medicação.
“Este é um desfecho secundário do estudo, mas de grande relevância: houve uma redução de 52% na mortalidade pela doença ao longo de um ano de uso da droga”, ressalta Mello. Não foi visto, no entanto, diminuição expressiva na quantidade de exacerbações (crises) da condição ou de hospitalizações.
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O medicamento
Desenvolvido pela Boehringer Ingelheim , o nerandomilaste é um remédio completamente novo, classificado como inibidor da fosfodiesterase 4B (PDE4B).
“No mercado, há alguns inibidores da enzima PDE4, que está relacionada à processos inflamatórios, mas esta droga é a primeira a atuar sobre a PDE4B, que está relacionada exclusivamente com a fibrose pulmonar”, explica a diretora médica da farmacêutica. “Isso torna o medicamento mais assertivo e reduz a interação com outras partes do corpo, o que também diminui os efeitos adversos.”
O nerandomilaste foi bem tolerado pelos voluntários do estudo clínico e o principal efeito colateral relatado foi a diarreia, sendo mais frequente entre aqueles que tomaram doses maiores da droga.
O medicamento foi desenvolvido para ser ingerido por via oral, duas vezes ao dia. Com os resultados positivos publicados, agora ele segue para avaliação dos principais órgãos regulatórios do mundo.
A Boehringer Ingelheim submeteu o nerandomilaste à aprovação nos Estados Unidos, na União Europeia, na China e em outros países. Em breve, será encaminhado para averiguação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).