Cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com colaboração do hospital americano Children’s National Health System, encontraram uma associação entre a febre amarela e problemas do coração.
Segundo o cardiologista intervencionista do Hospital das Clínicas da UFMG, Bruno Ramos Nascimento, que liderou a pesquisa, trabalhos anteriores já haviam mostrado uma relação entre manifestações cardíacas, como arritmia, e arboviroses (infecções transmitidas por insetos). “Mas, até então, nenhum grande estudo tinha feito uma análise focada na febre amarela”, afirma.
Os experts analisaram pacientes do Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte, de março a abril de 2018. Dos 103 casos com suspeita de febre amarela, 70 foram confirmados – e 69% (48 indivíduos) correspondiam à forma grave da doença.
Os voluntários passaram por avaliações clínicas e exames como eletrocardiograma e ecocardiografia, que averiguam o estado do coração. Se alguma anomalia era identificada, o paciente começava a ser monitorado por um holter – aparelho que mede em tempo real o ritmo cardíaco enquanto a pessoa anda por aí. Alguns inclusive se submeteram a uma ressonância magnética.
Após essa bateria de testes, os estudiosos encontraram alterações eletrocardiográficas em 52% dos voluntários com infecção leve ou moderada e em 77% nos casos graves.
Em dois meses, cinco pessoas morreram. Na necropsia de uma delas, foram encontrados padrões sugestivos de miocardite — um tipo de inflamação no coração. “Outras pesquisas sugerem que parece existir um padrão inflamatório produzido pelo próprio vírus”, explica o cardiologista.
O professor também acredita que a febre amarela seja um gatilho que ativa as nossas defesas naturais de maneira exagerada. “A replicação do vírus pode levar a uma desregulação do sistema imune, causando uma liberação das citocinas, o que ocasionaria o processo inflamatório”, complementa.
Nascimento conta que ainda não conseguiram identificar fatores específicos que expliquem essa relação entre a febre amarela e disfunções do músculo cardíaco. “O que sabemos é que os pacientes que desenvolvem a forma grave da infecção correm maior risco”, aponta.
Apesar dos resultados, o cardiologista pensa que é muito cedo para defender uma investigação cardiológica em todos os episódios de febre amarela. “Mas os médicos precisam ficar atentos. Se surgirem alterações, aí eles devem indicar exames”, conclui.