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Estudo revela as portas de entrada do coronavírus no Brasil

Ao contrário do que aconteceu em outros países, em que a Covid-19 se espalhou devagar, por aqui centenas de viajantes chegaram infectados ao mesmo tempo

Por André Biernath
Atualizado em 18 ago 2020, 10h47 - Publicado em 15 abr 2020, 19h08
origem do coronavirus
Mais da metade dos primeiros brasileiros infectados pegou o coronavírus na Itália. (Ilustração: Rômolo/SAÚDE é Vital)
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No dia 26 de fevereiro de 2020, o Brasil confirmou o primeiro caso de coronavírus (Sars-CoV-2). Tratava-se de um homem na casa dos 60 anos, que regressara a São Paulo após uma viagem para a Itália. De lá para cá, o número de casos aumentou consideravelmente, numa curva semelhante ao observado em outras partes do mundo.

Mas, claro, esse indivíduo não foi o único a importar o vírus por trás da Covid-19. Como então essa doença se espalhou entre a nossa população? Essa foi uma das perguntas que cientistas brasileiros, canadenses e ingleses responderam numa pesquisa publicada recentemente no Journal of Travel Medicine.

Os resultados mostram que centenas de viajantes chegaram já infectados da Europa ou da Ásia, que foram os primeiros epicentros globais da pandemia. Para ser exato, 54,8% dos casos confirmados no Brasil até o dia 5 de março eram pessoas que vieram da Itália. Outros 9,3% adoeceram na China e 8,3% na França. 

Vários caminhos de espalhamento

O principal destino dentro do coronavírus no Brasil foi São Paulo. Um quarto das pessoas infectadas com o Sars-CoV-2 desembarcaram no aeroporto de Guarulhos, o centro de voos internacionais que atende a capital paulista.

Mas esse agente infeccioso não se espalhou a partir de um único ponto. Outras cidades que receberam os primeiros casos foram Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Curitiba, Belo Horizonte, Recife, Vitória e Florianópolis. 

“Essas muitas entradas em conjunto podem dificultar o controle da pandemia em nosso país”, alerta a médica Ester Sabino, professora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e uma das autoras do artigo.

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Para obter essas informações, Ester e sua equipe levantaram dados de passageiros que retornaram dos países com transmissão ativa de coronavírus  e que desembarcaram nos aeroportos brasileiros entre fevereiro e março de 2020. 

As descobertas batem com as estatísticas oficiais do Ministério da Saúde, como revela um boletim da Agência Fapesp. No início da pandemia por aqui, 14 dos primeiros 29 pacientes com Covid-19 estiveram na Itália. E 23% deles regressaram dessa nação europeia para São Paulo. 

Comparação com outros lugares

De acordo com os responsáveis pelo trabalho, a situação brasileira se difere da encontrada em outros países: a Covid-19 costuma se iniciar com poucos pacientes infectados, que transmitem para contatos próximos, que passam para mais dois ou três… e assim por diante. 

O exemplo mais notável disso aconteceu na Coreia do Sul, com a chamada paciente 31. Segundo uma reportagem da Agência Reuters, essa pessoa teve contato com 1 160 outros indivíduos nas cidades de Daegu e Seul. A partir daí, o vírus se espalhou pra valer nesse país asiático.

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Claro que nem todos os primeiros casos importados para o Brasil se tornaram focos de transmissão para a comunidade. Talvez a detecção precoce de muitos desses pacientes tenha permitido tomar medidas de isolamento que impediram um estrago ainda maior. 

Navio às cegas

Mas a verdade é que precisaríamos fazer um número bem maior de exames de diagnóstico para entender o real cenário do que está ocorrendo em nosso país. Por ora, realizamos apenas 296 testes por 1 milhão de habitantes. Nações como Mongólia, México, Paquistão, Camboja, Iraque e Togo estão na nossa frente, apesar de possuírem bem menos casos confirmados e mortes.

“O monitoramento é uma das peças-chave para prevenir um avanço mais amplo da doença”, concorda a professora Ester. O problema é a falta de materiais para a produção dos testes. “Somos dependentes de tecnologia estrangeira e de insumos importados. Necessitamos aumentar muito a nossa capacidade no cenário atual”, completa a especialista.

 

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