O futuro já começou: hoje em dia, é possível passar por um exame que inspeciona os genes e estima o risco de desenvolver um câncer de mama ou de ovário lá adiante e tomar medidas para que isso não ocorra. E não para por aí: vasculhar o DNA das pacientes, mesmo após o diagnóstico, permite selecionar o tratamento mais indicado.
Mas, no contexto brasileiro, quando esses testes devem ser feitos? “Nosso povo é miscigenado, enquanto os estudos disponíveis se baseiam em mulheres da Europa e dos Estados Unidos”, diz a geneticista Maria Isabel Achatz, do Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista.
Para tirar a limpo essa história, ela e outros cinco cientistas avaliaram as principais mutações genéticas para os tumores de mama e ovário no Brasil. Os resultados dessa análise permitem agora ter recomendações personalizadas para a nossa população.
As respostas da ciência
Confira algumas das conclusões obtidas pela investigação feita em território nacional
Quando uma brasileira deveria realizar testes genéticos para os tumores de mama e de ovário?
De forma geral, eles estão indicados para as mulheres que tiveram um ou mais casos desses cânceres na família. Ou quando a própria paciente já sofreu com a doença antes dos 40 anos de idade. Vale frisar que o exame precisa ser feito com o acompanhamento de um geneticista, que vai ajudar a interpretar os resultados e dar as orientações necessárias.
Mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 são relevantes por aqui?
Essas duas siglas ganharam fama em 2015, quando a atriz americana Angelina Jolie anunciou que seus testes tinham resultados positivos, o que motivou a retirada de suas mamas e ovários. Os BRCA1 e 2 respondem por quase 50% das alterações hereditárias que levam a esses tumores. Curiosamente, no Brasil outro gene se destaca: o TP53. Mutações nele são mais comuns entre a nossa população em comparação com o restante do mundo.
Esses exames podem ajudar no tratamento do câncer?
Sim. Vamos usar o tumor de ovário como exemplo: se a paciente apresenta determinada mutação genética, o médico poderá utilizar uma classe de drogas chamada inibidores de Parp, que chega a ampliar o tempo de vida em até três anos. É algo muito significativo.
Como está o acesso a essas inovações? Já estão no Sistema Único de Saúde (SUS)?
Esse é um enorme gargalo no país: por mais que o preço tenha caído bastante, nem todo mundo tem condições de custear um teste genético e não há disponibilidade na rede pública. Mas tudo leva a crer que isso vai mudar nos próximos anos.