Pouco depois que a variante Ômicron foi identificada, tivemos a confirmação dos primeiros infectados em nosso país: um casal brasileiro, morador da África do Sul, que veio visitar a família. Após especulações, confirmou-se que tanto o homem como a mulher tinham recebido a vacina contra o coronavírus. Esses não foram os únicos casos de pessoas vacinadas recebendo o diagnóstico positivo da variante.
Nesse contexto, vários boatos começaram a circular nas redes sociais, basicamente com o seguinte tom: “Ué, se quem recebeu a picada foi contaminado, é sinal de que a vacina não funciona”. Um prato cheio para quem difama a imunização com base em informações falsas ou meias-verdades.
Em primeiro lugar, os especialistas frisam que as vacinas não têm a capacidade de zerar o risco de contaminação pelo vírus — e isso vale para qualquer cepa, inclusive aquela original, que serviu como base para o desenvolvimento dos imunizantes. Na verdade, esse raciocínio serve para vacinas em geral, independentemente da enfermidade.
Mas voltando à Ômicron: sabe-se, até o momento, que sua capacidade de transmissão é maior. Há indícios de que ela pode se replicar até 70 vezes mais rápido nas vias aéreas do que a variante Delta. Daí porque é natural ter mais gente infectada.
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Porém, a função primordial das vacinas é evitar que uma possível infecção se transforme em um quadro preocupante que exija hospitalização ou, pior ainda, que evolua para um óbito. E, até o momento, tudo indica que elas continuam valiosas nesse processo.
“A imunização pode até não impedir a transmissão da Ômicron em si, mas, até onde sabemos, ela aumenta as chances de os casos não se agravarem. Por isso, receber as doses continua imprescindível”, reforça o infectologista Alberto Chebabo, da Dasa.
E tem mais: mesmo que um indivíduo vacinado seja contaminado, os estudos mostram que ele terá menos poder de transmissão do que um colega que decidiu não tomar sua dose — não importa de qual cepa de Sars-CoV-2 estamos falando. É outra grande vantagem de estar com a carteirinha de vacinação em dia.
“Seja qual for a variante que causou a infecção, é certo que os vacinados tem uma carga viral menor nas vias aéreas e transmitem o vírus por menos tempo”, crava Dania Abdel Rahman, infectologista clínica do Hospital Albert Sabin de São Paulo (HAS).
Ainda segundo a médica, sem contar com a vacina, uma pessoa poderia propagar o coronavírus por 14 dias, enquanto quem já recebeu o ciclo completo transmitiria o agente infeccioso por apenas cinco.
“Com a Ômicron, porém, ainda não é possível detalhar esse tempo de janela da transmissão. Mas ela sempre será menor em quem está protegido”, completa Dania.
Como essa nova cepa se espalha rápido, a preocupação agora é descobrir sua gravidade. Em paralelo, as farmacêuticas ainda estão estudando até que ponto seus imunizantes podem proteger contra casos crítico no mundo real.
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Em laboratório, sabe-se que a eficácia de algumas vacinas acaba um pouco reduzida, mas o entrave pode ser resolvido com a terceira dose.
“Uma análise recente da Pfizer mostra que, diante da Ômicron, a proteção conferida por duas doses do seu imunizante sofre uma redução de 25% em relação a outras variantes. Mas, com o reforço, ela já é mais efetiva”, esclarece a médica.
É por isso que países como o Reino Unido, que já registraram milhares de contaminados com a nova cepa, correm para aplicar a dose extra na população.
“Ainda há poucos dados sobre sua letalidade, mas a percepção é de que ela não deve provocar casos mais graves do que as outras variantes. E como temos uma porcentagem maior de vacinados atualmente, é preciso observar por mais tempo como ela vai se comportar nesse cenário”, comenta a médica do Hospital Albert Sabin.
E nunca é demais ressaltar que cepas novas, a exemplo da Ômicron, surgem por causa da baixa vacinação em nível global, que dá espaço para que o vírus continue se propagando e, dessa maneira, passe por mutações. Essa conta é clara: quanto mais gente protegida, menos brecha para o Sars-CoV-2 circular. É assim que poderemos vislumbrar o fim da pandemia.