Ao longo da gestação, o líquido amniótico serve para proteger o bebê no útero. Quando chega a hora do parto, esse líquido é liberado com a ruptura da bolsa gestacional. Em alguns casos raros, o líquido amniótico pode invadir a corrente sanguínea da gestante durante ou logo após o parto, causando uma embolia amniótica.
Apesar de ser uma complicação rara do parto, a embolia amniótica é uma emergência associada a taxas muito altas de mortalidade, que chegam a 80%.
A doença só foi descrita por médicos na década de 1940, e ainda hoje não se conhecem suas causas exatas. O diagnóstico é feito por exclusão, com base na apresentação clínica, e a prioridade do manejo é garantir a sobrevivência da mãe e do bebê.
O que é embolia amniótica?
A embolia amniótica ocorre quando o líquido amniótico – que contém, além de água, eletrólitos, células e tecidos do feto – entra na corrente sanguínea da gestante.
O contato se dá por meio da placenta, órgão que realiza as trocas fisiológicas entre o organismo da gestante e o feto.
A embolia pulmonar é uma condição em que as artérias pulmonares ficam obstruídas, em geral, por um coágulo sanguíneo. No caso da embolia amniótica, esse bloqueio seria causado pelo líquido amniótico.
O que causa embolia amniótica?
A medicina ainda não encontrou uma causa específica para a embolia amniótica.
Acreditava-se que a invasão do líquido na corrente sanguínea seria responsável pelo bloqueio pulmonar. Mas por conta da similaridade entre o funcionamento da embolia amniótica e do choque séptico ou anafilático, investiga-se a associação da condição com uma resposta inflamatória mediada pelo sistema imunológico.
O líquido amniótico seria tratado como um corpo estranho no organismo da gestante, o que causaria uma espécie de resposta alérgica que, então, seria responsável pelos sintomas graves.
A embolia pode ocorrer tanto em um parto natural quanto em uma cesárea. O mais comum é que o agravamento aconteça durante o parto, mas também é possível que os sintomas comecem a aparecer logo após o nascimento do feto.
A insuficiência respiratória causada pela embolia amniótica pode levar a um colapso do sistema cardiovascular da gestante, o que gera paradas cardiorrespiratórias e pode decorrer em morte.
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Fatores de risco
Não há forma de prever ou prevenir a embolia amniótica. Alguns fatores são associados à condição, mas nenhum deles é decisivo para essa complicação do parto.
A embolia amniótica costuma ser mais comum em casos de gestação múltipla (de gêmeos, trigêmeos ou mais fetos) e quando há quantidade excessiva de líquido amniótico – o que pode estar ligado a diabetes gestacional. Um trabalho de parto muito intenso, prolongado, ou que gera hipertonia ou hipersistolia uterinas, também pode aumentar os riscos de embolia amniótica.
Outras condições que podem estar associadas à embolia amniótica são:
- Pré-eclâmpsia e eclâmpsia;
- Descolamento prematuro de placenta;
- Placenta acreta ou prévia;
- Morte fetal;
- Diabetes gestacional;
- Macrossomia fetal;
- Cardiomiopatia periparto;
- Idade materna avançada;
- Restrição de crescimento intrauterino;
- Ruptura uterina ou de membranas.
Em geral, o diagnóstico é feito pela identificação de células fetais na circulação pulmonar, mas isso só costuma aparecer em biópsias posteriores aos sintomas. Além disso, há casos em que há presença de células fetais nos pulmões mas a gestante não passa por embolia amniótica.
Principais sintomas
Os primeiros sinais de embolia amniótica costumam ser hipotensão – queda na pressão arterial – e dispneia súbita – falta de ar. As batidas cardíacas ficam aceleradas ou irregulares e torna-se difícil respirar. A pele pode ficar azulada (situação chamada de cianose) e, na sequência, podem ocorrer convulsões e parada cardiorrespiratória.
Agitação, confusão e ansiedade são outros sinais da embolia amniótica.
Com a parada cardiorrespiratória, a oxigenação ao cérebro fica prejudicada, o que gera, em muitos casos, sequelas neurológicas. Também pode ocorrer AVC, choque e coma.
A embolia amniótica provoca uma fase de problemas de coagulação sanguínea – chamada de coagulação intravascular disseminada – que causa hemorragias. Ao invadir os pulmões, o líquido causa edema.
O quadro pode evoluir para Síndrome da Angústia Respiratória Aguda, quando há acúmulo de fluidos nos pulmões.
Há risco para o bebê?
No processo da embolia amniótica, ocorre sofrimento fetal: condição em que há oxigenação inadequada do feto durante o trabalho de parto.
Se o parto não for realizado, o quadro pode ameaçar a vida do bebê ou deixar sequelas neurológicas.
Existe tratamento?
A linha de cuidados para embolia amniótica busca lidar com os sintomas conforme eles aparecem, tentando manter a saúde da mãe e do bebê. O ideal é monitorar a frequência cardíaca da parturiente e do feto, e considerar uma intervenção obstétrica se for viável.
A prioridade é manter as vias aéreas maternas com boa oxigenação, para garantir o fluxo sanguíneo adequado. Transfusões de sangue, plasma e plaquetas podem ser necessárias. Em caso de parada cardiorrespiratória, a ressuscitação cardiopulmonar é outra medida emergencial. Oxigenação por máscara ou entubação para ventilação também podem ser requeridas para a gestante.
Medicações podem ser administradas para melhorar o débito cardíaco e combater a hipotensão. Em casos de hemorragia intensa, uma histerectomia de emergência pode ser realizada para estancar o sangramento.