Que fique claro logo de cara: de maneira geral, não é preciso suplementar a alimentação após a remoção da vesícula. Existem exceções, mas elas são raras. Essa é uma dúvida que tem surgido na internet nos últimos dias, e vamos esclarecê-la neste texto.
Primeiro, é importante dizer que a vesícula é uma pequena bolsa esverdeada conectada ao fígado. Sua única função é servir como recipiente para a bile, um líquido produzido no fígado pelos hepatócitos, que ajuda na digestão da gordura presente nos alimentos.
Basta um desequilíbrio na composição da bile, seja pelo excesso de sais ou colesterol, para que se formem cálculos biliares, popularmente conhecidos como pedras na vesícula. As pedras pequenas geralmente não causam problemas e, muitas vezes, podem ser eliminadas pelo sistema digestivo.
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Por outro lado, as maiores não conseguem passar pelo ducto conectado ao intestino. Elas acabam ficando presas na vesícula e causam dores abdominais, sendo necessário extraí-las cirurgicamente, junto com o órgão, em um procedimento conhecido como colecistectomia.
A vesícula tem uma função importante?
No passado, nosso corpo precisava de mais bile para digerir os alimentos.
Isso ocorria porque os primeiros seres humanos faziam menos refeições do que nós, mas com um número maior de alimentos, explica Murillo Macedo Lobo Filho, médico especialista em cirurgia robótica do aparelho digestivo e pós-graduado em pesquisa clínica pela Universidade de Harvard.
No entanto, hoje em dia, a vesícula é um órgão praticamente em desuso no corpo humano, visto que estamos constantemente comendo ou petiscando algo.
“A gente já tem pouco uso para ela habitualmente, mas ainda assim, existe um uso, principalmente quando fazemos aquelas refeições maiores”, explica Lobo Filho. “Mas, na maior parte do tempo, ela não faz falta nenhuma”, ressalta.
Quando a suplementação é necessária?
A suplementação alimentar após a colecistectomia é recomendada em casos muito específicos e depende dos sintomas apresentados pelo paciente. “Esses sintomas são raros, especialmente nos pacientes para quem a cirurgia é bem indicada. Nesses casos, a chance de precisarem de suplementação é praticamente zero”, comenta Lobo Filho.
Os sintomas mais comuns são a dificuldade na digestão de gorduras, causando diarreia, desconforto abdominal e excesso de gases após refeições mais gordurosas.
Em geral, uma dieta com menos gordura já é suficiente para resolver o problema. É somente quando isso não basta que são indicados suplementos, que incluem ácidos biliares, vitaminas lipossolúveis ou enzimas digestivas.
Então, a resposta, no fim das contas, é que a suplementação só é indicada em casos de deficiência diagnosticada. Na maioria dos pacientes, não é necessária. Também é importante reforçar que nem todo paciente com alterações na vesícula deve ser operado – a palavra final deve ser do médico, considerando as individualidades de cada caso.
“Os pacientes devem ser avaliados por um especialista em aparelho digestivo para que a cirurgia seja bem indicada”, enfatiza Lobo Filho.