Abril Day: Assine Digital Completo por 1,99

Doença rara: a luta das crianças-borboleta por uma vida mais digna

Assim são conhecidos os pacientes com epidermólise bolhosa, doença que provoca lesões graves por toda a pele e as mucosas

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 23 nov 2021, 18h33 - Publicado em 18 nov 2021, 19h29
epidermólise bolhosa congênita
De origem genética, a doença torna a pele da criança tão fina que ela não suporta qualquer contato, formando feridas pelo corpo todo. A qualidade de vida é altamente prejudicada. (Foto: Trym Nilsen/Divulgação)
Continua após publicidade

Já foram catalogadas 8 mil doenças raras que afetam cerca de 3 milhões de pessoas só no Brasil. São distúrbios pouco conhecidos por muitos profissionais de saúde e, por isso, suas vítimas demoram a encontrar um diagnóstico. Entre esses males está a epidermólise bolhosa (EB), que atinge em cheio a qualidade e a expectativa de vida das crianças.

De origem genética, a doença faz com que a pele seja tão fina que ela é incapaz de suportar qualquer contato. Aí, surgem feridas pelo corpo todo. E essa característica também leva ao preconceito: por causa do aspecto na pele, muita gente acha que se trata de um problema transmissível.

“Os pacientes são chamados de crianças-borboleta, porque a pele é como a asa de um inseto”, explica Michele Migliavacca geneticista da GeneOne, empresa de genômica da Dasa. “E vão surgindo bolhas que viram ferimentos ao menor trauma”, acrescenta.

O Brasil tem pouco mais de mil pessoas pessoas diagnosticadas com o quadro, e outras 121 morreram nos últimos cinco anos. No mundo, são cerca de 500 mil acometidos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, boa parte dessas famílias não tem condições de bancar o tratamento, que custa, em média, R$ 40 mil por mês.

Apoio necessário

Ao ter contato com uma dessas histórias, Aline Teixeira da Silva foi em busca de conhecimento e descobriu que mais gente precisava de ajuda. Assim nasceu a ONG Jardim das Borboletas, no município de Calculé (BA).

A instituição envia medicamentos, dá suporte financeiro, contrata enfermeiros, enfim, faz tudo o que estiver ao alcance para melhorar a qualidade de vida de quem convive com a doença. São atendidas 100 crianças de 20 estados mais o Distrito Federal.

Continua após a publicidade

+ MAIS: Vídeo: Além da pele – o preconceito é contagioso, a doença não

Atualmente, há 11 famílias na fila de espera, com a documentação guardada nos arquivos. Mas não há dinheiro suficiente para atendê-las no momento. A ONG tem uma lojinha para arrecadar fundos e também recebe doações em dinheiro.

“Preciso cuidar bem de cada uma delas. Tem de ser por inteiro. É necessário garantir apoio de diversas especialidades médicas, bandagens especiais e até de ar condicionado, já que o calor é insuportável para quem tem a doença. Ou seja, ajudamos até na conta de luz”, explica Aline.

A presidente do Jardim das Borboletas testemunha a melhora de quem participa do projeto. Os sinais de depressão dão lugar à autoestima e, na pele, há redução das lesões – neste aspecto, contar com produtos de higiene adequados e bandagens importadas faz toda a diferença.

Para ter ideia, no lugar de gaze e esparadrapos são utilizadas esponjas de silicone, que ajudam na desinfecção e cicatrização dos machucados. Assim, facilitam a reconstrução da pele no local afetado.

Continua após a publicidade

“Já vimos crianças morrerem por ficarem com o mesmo curativo por uma semana. Algumas têm lesões dos pés à cabeça”, relata Aline.

Entendendo melhor a epidermólise bolhosa

A doença é resultado da falha de alguns poucos genes entre os mais de 20 mil códigos do nosso DNA. “Quando um dos pais já tem o diagnóstico, há 50% de chance de o bebê nascer com essa letrinha trocada no genoma. Mas há casos em que ocorre uma mutação genética espontânea no embrião”, esclarece a geneticista Michele.

Como citamos, a principal manifestação do quadro são lesões na pele. Mas há pacientes mais graves ainda, que têm feridas também nas mucosas, com danos nos olhos, no esôfago, no intestino, nos ossos e até no coração. A evolução da maioria dos casos é para o câncer de pele.

+ LEIA TAMBÉM: Doenças raras: questões e desafios que todo mundo deveria conhecer

Continua após a publicidade

Há mais de 30 tipos de EB. A maioria dos pacientes não passa das três décadas de vida, segundo dados da Debra Internacional, associação que dá apoio a pacientes em todo o mundo. Algumas crianças não sobrevivem aos primeiros meses de vida.

Sem cura, o tratamento requer a união de diversas especialidades médicas, com o objetivo suavizar os sintomas. A dermatologista, o pediatra e o geneticista costumam ser os primeiros profissionais a terem contato com a doença.

Sintomas e complicações

Há uma lista considerável de sinais da doença. Eles podem variar conforme idade e o subtipo do quadro, segundo material divulgado pela Debra.

  • A pele forma bolhas e dilacerações com facilidade
  • Feridas que não cicatrizam
  • Manchas na pele que mudam de cor
  • Rouquidão
  • Olhos afetados por bolhas
  • Bolhas dentro da boca e dificuldade de engolir
  • Estreitamento do esôfago e das vias aéreas
  • Contração da boca e movimento reduzido da língua
  • Queda de cabelo
  • Anemia
  • Perda das unhas
  • Engrossamento da palma das mãos e das plantas dos pés
Continua após a publicidade

Em busca da cura

Estudos sobre a possibilidade de cura da doença estão em andamento há anos. Em 2017, um menino sírio que já estava no estágio avançado e com inflamações por todo o corpo conseguiu reverter seu estado com um tratamento experimental com células-tronco, na Alemanha. Cerca de 80% da pele dele foi substituída por enxertos geneticamente modificados. Contudo, não deu para fazer nada com as lesões na mucosa.

O sucesso da experiência foi publicado na revista Nature. A qualidade de vida da criança síria melhorou muito, mas ainda não foi possível entender esse avanço como cura da doença.

“Há muita pesquisa com medula-óssea, células-tronco e edição de genoma. Por ser uma doença sistêmica, é muito mais difícil chegar a uma conclusão, mas estamos caminhando bem”, comemora a geneticista Michele.

DICA: A coreógrafa Deborah Colker tem um neto de 11 anos que foi diagnosticado com epidermólise bolhosa ao nascer. Ela se inspirou na luta dele para criar o espetáculo “A Cura”, que está em turnê por todo o Brasil.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

ABRILDAY

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
A partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.