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Covid-19 e gripe estão entre os principais gatilhos da asma grave

Em estudo, contato com vírus respiratórios apareceu entre os fatores que mais estimulam crises. Mudanças de clima também foram citadas

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 1 abr 2022, 17h08 - Publicado em 9 fev 2022, 19h13
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  • Um estudo apresentado recentemente em reunião do American College of Allergy, Asthma and Immunology apontou os cinco principais gatilhos para ocorrência de crises de asma grave de acordo com a percepção dos pacientes.

    A informação é relevante para combater ou tentar reduzir o número de episódios na população. Afinal, trata-se de um problema crônico que pode levar à morte – são 46 mil óbitos relacionados a essa versão da doença por ano em todo o mundo.

    Estima-se que 300 milhões de pessoas vivem com asma ao redor do globo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo que de 5% a 10% desses pacientes têm o quadro grave.

    “Quando uma pessoa sem a doença aspira pó, por exemplo, ela espirra ou tosse para se livrar dele. Mas um asmático entra em crise. É que os tubos que levam ar para o pulmão ficam obstruídos, ocasionando uma reação exagerada”, explica o pneumologista Ciro Kirchenchtejn, professor na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

    O estudo envolveu mais de 1 400 pessoas que sofrem ataques graves e chegou a esses cinco principais fatores desencadeantes:

    1º Mudanças climáticas

    As mudanças climáticas são uma realidade e têm efeitos diferentes em cada parte do mundo.

    “No Brasil, essa onda de enchentes faz as casas apresentarem mais mofo e também proliferação de baratas. Esses insetos são totalmente alergênicos. Fragmentos de barata, como de suas patas e os ácaros são exemplos de gatilhos alérgicos”, conta o médico.

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    2º Infecções virais, como a Covid-19 e a gripe

    Vacinar-se deve ser uma prioridade para o asmático. Nesse momento, especificamente, é essencial buscar a dose contra o coronavírus e o Influenza – dois vírus com intensa circulação.

    “Estar com a imunização em dia reduz o risco de ter novas infecções virais, que provocam crises “, raciocina o pneumologista.

    Ainda não há estudos que comprovem a relação direta de uma complicação da asma após um quadro de Covid-19, como relatado pelas pessoas ouvidas nesse estudo.

    “De qualquer forma, percebe-se que o isolamento devido à pandemia protegeu os asmáticos das crises, porque eles tiveram menos contato com outras doenças respiratórias”, avalia o médico.

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    Em relação ao Influenza, dados do Centro de Controle de Doenças (CDC) apontam que, após uma infecção pelo vírus causador da gripe, os asmáticos correm maior perigo de desenvolver complicações graves, mesmo que os sintomas estejam bem controlados por medicação. É que o quadro evolui facilmente para pneumonia e inflama os pulmões de forma mais intensa.

    + Leia também: Tire 7 dúvidas sobre isolamento e testagem por Covid-19

    3º Alergias sazonais

    Mudanças na temperatura e umidade interferem na forma com que as doenças respiratórias podem se manifestar – esse fator aqui se mistura um pouco com as transformações climáticas citadas acima.

    Associada à alta umidade do ar, por exemplo, temos mofo e proliferação de ácaros. Por outro lado, quando esse índice está baixo, os níveis de poluição sobem e há ressecamento das vias áreas.

    Já a primavera é uma estação conhecida pela maior proliferação de pólen, minúsculos grãos que se desprendem das flores e se espalham pelo ar. Com isso, podem disparar reações alérgicas. Esse processo é marcante sobretudo no Sul do Brasil.

    “Na previsão do tempo de algumas regiões, até se divulga a contagem de pólen para que as pessoas possam se proteger com máscaras”, relata Kirchenchtejn.

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    Limpeza/trabalho doméstico

    O pó é o pior inimigo. Por isso, sempre prefira o aspirador no lugar da vassoura. Janelas devem ser mantidas abertas para permitir a ventilação do ambiente. Para evitar o contato direto com produtos que disparam crises, use luvas e máscaras.

    Mas os médicos ressaltam que, nesse quesito, cada asmático tem seus gatilhos em particular. Por isso é importante ter conhecimento sobre as substâncias que podem levar a um episódio grave. Aliás, essa consciência faz parte do tratamento da doença.

    5º Emoções fortes 

    Elas são capazes de afetar a maneira como respiramos, explica Kirchenchtejn. E isso vale tanto para as negativas como as positivas.

    “Elas podem desencadear sintomas como tosse, chiado ou aperto no peito e dificuldade para recuperar o fôlego”, observa o médico.

    Para 43% das pessoas com asma, o estresse é gatilho de crises. Depressão, ataques de pânico e luto também estão ligados aos sintomas da doença.

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    “Mesmo após um bom tempo de controle, ser surpreendido por uma forte emoção, como a morte de alguém próximo, pode desencadear uma crise grave”, avisa o especialista.

    Curiosamente, até a risada é um estímulo comum para o problema. “O mecanismo é semelhante ao dos exercícios aeróbicos, quando se troca o ar em grandes volumes e com maior velocidade, sem tempo de ser umidificado e aquecido ao entrar nos pulmões”, ensina Kirchenchtejn.

    A situação é especialmente preocupante em crianças asmáticas – vale lembrar que acessos de choro tendem a provocar impacto parecido. “Muitas vezes os pais demoram para reconhecer, e o tratamento é difícil, porque é preciso que o filho se acalme antes de inalar os medicamentos que revertem o quadro” relata o pneumologista.

    O que é asma e quando ela é grave?

    A asma é caracterizada pela inflamação crônica das vias aéreas, e pode ser alérgica ou eosinofílica (autoimune, quando o próprio sistema de defesa se volta contra o organismo). Algumas pessoas desenvolvem os dois tipos. 

    Ela é considerada grave quando, mesmo com uso de medicamentos e outros recursos, ainda há sintomas que criam limitações para o dia a dia, como respiração ofegante, falta de ar, aperto no peito, tosse noturna ou matinal.

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    Esse quadro pode mudar ao longo da vida, ou seja, a pessoa que está com sintoma grave num período muitas vezes consegue reverter os sintomas e passar a conviver com uma versão mais leve do distúrbio respiratório.

    “Diferentemente de outras doenças crônicas, a asma pode ser controlada totalmente com o apoio de tratamento”, ressalta o pneumologista da Unifesp.

    Um quadro menos intenso pode ser manejado com medicamentos ou medidas comportamentais, como se afastar do que provoca crises (ambiente com muito pó, animais domésticos, um parceiro fumante…).

    + LEIA TAMBÉM: Asma é um problema sério, mas brasileiros desconhecem seus riscos

    Para se definir a gravidade da asma e o tratamento exato, o médico avalia a frequência e a intensidade dos sintomas.

    “Ter uma crise bastante grave ao ano é diferente de ter várias crises recorrentes, mesmo que leves ou moderadas. Em alguns momentos, é possível fazer uma episiotomia, que mede o grau de obstrução das vias aéreas”, esclarece Kirchenchtejn.

    O pneumologista dá como exemplo o caso de uma paciente que teve crise só durante a reforma da casa do vizinho. “Ela ficou medicada durante esse período todo e, quando a poeira baixou, ela não teve mais sintomas e pôde deixar o tratamento”, conta.

    Ter informação é parte da solução

    Segundo o pneumologista da Unifesp, há quem sofra de asma e acredite que não tem escolha a não ser conviver com esses sintomas. Isso quando não confunde a doença com outro quadro, como a bronquite.

    Assim, a falta de informação faz com que alguns asmáticos coloquem a sua vida em risco e frequentem o pronto-socorro com regularidade.

    “Só com o diagnóstico correto é possível levar uma vida normal, dormir bem e por aí vai”, reforça Kirchenchtej.

    O tratamento, não custa frisar, envolve uma lista de cuidados que é criada a partir da análise especializada e conversa do médico com seu paciente. É preciso descobrir os gatilhos das crises para se livrar deles; entender quando procurar ajuda do profissional de saúde; tratar o refluxo; repensar a presença de certos objetos em casa, entre outras coisas.

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    Tratamento medicamentoso

    Remédios específicos para asma podem ser associados a antialérgicos e a opções mais modernas, como os imunobiológicos, que entraram, recentemente, na lista do SUS.

    “Um deles é o omalizumabe, opção injetável e usada para asma grave alérgica, a mais comum entre os pacientes. Esses indivíduos são os que mais procuram a emergência e são internados”, informa José Roberto Megda Filho, diretor do departamento de pneumologia da Associação Brasileira de Asmáticos.

    Outra estratégia para a asma grave eosinofílica é o mepolizumabe, também injetável, utilizado em pacientes com inchaço das vias aéreas e do sistema respiratório. Em abril, ainda, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aprovou a entrada do dupilumabe no rol de cobertura obrigatória dos planos de saúde, o que abre mais uma possibilidade tratamento.

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