CID-11: entenda o que muda na nova Classificação Internacional de Doenças
Documento em fase de implementação no Brasil promete facilitar diagnósticos e trazer maior integração a sistemas digitais usados atualmente na medicina

A CID-11, mais recente revisão da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS), já teve sua tradução para o português concluída e está em processo de implementação no Brasil.
Enquanto profissionais de saúde se preparam para esse momento (previsto para 2027), vale entender melhor a importância dessa atualização e o que de fato muda nesse documento.
O que é a CID?
Se você já precisou de algum atestado médico, provavelmente foi apresentado à CID como o número que identifica a doença ou lesão que o levou até o consultório.
Essa é a ponta final do documento, que busca classificar e definir as diferentes doenças conhecidas pela medicina. Para chegar nesses códigos, são considerados dados estatísticos, sintomas, queixas possíveis feitas por pacientes, questões sociais e fatores externos, entre muitos outros aspectos que contribuem no desenvolvimento de um problema de saúde.
O código é a forma de identificar, dentro da CID, uma questão de saúde com suas características próprias, além de agrupá-la juntamente de outras doenças similares.
Mas o documento tem funções ainda mais amplas do que determinar o que um paciente tem individualmente: ao codificar as doenças de forma sistemática, ele ajuda na elaboração de políticas de saúde pública, facilita chegar a diagnósticos mais precisos e contribui para traçar perfis epidemiológicos ao redor do mundo.
Ao seguir padrões de classificação universais, a CID permite que os médicos de diferentes países “falem a mesma língua” quando estão discutindo saúde, o que favorece a colaboração internacional em tratamentos e pesquisas científicas, por exemplo.
Tentativas de sistematizar doenças globalmente existem desde o século 19. Sob a guarida da OMS, a CID passa por revisões periódicas: a CID-10, ainda em vigor no Brasil, foi aprovada em 1990 e começou a ser utilizado em 1993. Já a CID-11 veio a público em 2018 e começou a ser implementada ao redor do mundo em 2022.
O que muda na CID-11?
As principais mudanças da CID-11 não necessariamente serão percebidas por pacientes. Isso porque o principal objetivo da revisão é facilitar diagnósticos mais precisos por parte dos médicos, criando um maior número de códigos e permitindo mais detalhamento na identificação dos problemas de saúde.
A nova classificação é considerada mais flexível e permite uma personalização maior de tratamentos. Além disso, uma das promessas do novo sistema é sua integração facilitada com os atuais sistemas digitais de prontuários e softwares usados na medicina.
Embora a CID-10 tenha sido adaptada para lidar com as novas realidades, ainda era um modelo que já tinha três décadas de vida, feito em outro contexto. Muitos países, inclusive, precisaram desenvolver subclassificações próprias para lidar com especificidades locais, algo que a CID-11 promete eliminar.
Que doenças serão incluídas?
Segundo a OMS, o maior número de códigos encontrado na CID-11 — são 17 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte, acompanhados por 120 mil termos codificáveis — permite individualizar mais de 1,6 milhão de situações encontradas na prática clínica. A nova classificação tem novos capítulos relacionados à medicina tradicional, saúde sexual, doenças do sistema imune, entre outros.
Mudanças aguardadas também incluem a codificação de problemas que já eram conhecidos, mas ainda não contavam com uma classificação exata.
Novidades nessa seara incluem o reconhecimento do lipedema como uma “nova doença” à parte de condições vasculares já identificadas antes e a inclusão de um capítulo sobre vício em jogos eletrônicos na seção dedicada às chamadas desordens de dependência.
CID-11 só valerá no Brasil em 2027
Apesar de já estar em uso em outros países desde 2022, a CID-11 só passa a valer definitivamente no Brasil em 1º de janeiro de 2027.
O novo prazo foi anunciado no começo deste ano, após uma expectativa inicial de que pudesse entrar em vigor já em 2025. Nessa janela, algumas doenças que já estão diferenciadas no CID-11 ainda podem acabar sendo identificadas por códigos antigos em pacientes brasileiros, mas isso não deve alterar condutas relacionadas ao diagnóstico e tratamento.
A demora na implementação foi justificada pela necessidade de traduzir o documento, capacitar os profissionais de saúde e atualizar os sistemas de vigilância em saúde utilizados no Brasil. Já é possível acessar a CID-11 em português e também existe um Manual de Capacitação da CID-11 desenvolvido pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).