Câncer ginecológico: avanços permitem preservar fertilidade cada vez melhor
Novas técnicas terapêuticas possibilitam às mulheres manter o sonho da maternidade e garantir mais qualidade de vida após o tratamento

Os tipos de câncer ginecológico, como câncer do colo do útero, endometrial e ovariano, representam cerca de 15 a 20% de todos os casos de tumores malignos em mulheres.
O que muitos não sabem é que uma em cada cinco dessas pacientes são mulheres com menos de 40 anos e que nunca engravidaram.
Tipicamente, essas neoplasias são tratadas por meio de cirurgias que envolvem a retirada total do útero e dos ovários, além de quimioterapia e radioterapia, que podem afetar diretamente os óvulos, impossibilitando gestações futuras.
No Brasil, o câncer é uma das principais causas de morte por doenças e, anualmente, cerca de 316 mil novos casos em mulheres são registrados. Aproximadamente 10% desses ocorrem em mulheres abaixo de 45 anos, que, na maioria das vezes, desejam ter filhos algum dia.
A boa notícia é que, graças aos avanços da medicina, mais de 80% dessas pacientes sobrevivem à doença. Por isso, olhar para a vida após o câncer, com qualidade e possibilidade de maternidade, é tão importante quanto o tratamento em si. Dessa forma, abordar estratégias de preservação da fertilidade e qualidade de vida é fundamental para mulheres jovens diagnosticadas.
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Diante dessa situação, existe uma tendência de aumento no uso de técnicas mais conservadoras nos tratamentos, que tentam remover o câncer minimizando danos aos órgãos reprodutivos. A indicação dessas abordagens vai depender do tipo de tumor, do estadiamento e da experiência da equipe médica responsável pelo cuidado da paciente.
A preservação da fertilidade, por meio da medicina reprodutiva, também tem ganhado destaque nesse contexto.
Algumas das opções mais estudadas são:
- Criopreservação de embriões: técnica que congela embriões formados pela fertilização dos óvulos com espermatozoides, oferecendo taxas mais altas de fertilização.
- Congelamento de óvulos (oócitos): ideal para mulheres que ainda não têm parceiro ou não desejam utilizar esperma de doador neste momento.
- Uso de hormônios (GnRHa): medicamentos que “desligam” temporariamente os ovários durante a quimioterapia, tentando protegê-los da toxicidade do tratamento. São mais usados e estudados em câncer de mama e linfomas, sendo pouco utilizados em neoplasias ginecológicas.
Cada uma dessas técnicas possui um objetivo específico e deve ser escolhida conforme a idade da paciente, a reserva ovariana, o tempo disponível antes do início do tratamento e o tipo de câncer.
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Mesmo com o progresso descrito acima, muitas pacientes ainda enfrentam dificuldades no acesso a esses tratamentos, especialmente em países como o Brasil. Alguns dos principais obstáculos incluem:
- Elevados custos, muitas vezes sem cobertura parcial por planos de saúde ou pelo sistema público.
- Falta de informação ou preparo dos profissionais de saúde, que nem sempre discutem a fertilidade com suas pacientes.
- Pouca oferta de serviços especializados em reprodução assistida, especialmente na rede pública.
- Desconexão entre as equipes de oncologia, reprodução e obstetrícia, o que dificulta o acompanhamento a longo prazo.
Como resultado, muitas mulheres só descobrem que poderiam ter preservado sua fertilidade tarde demais, após o tratamento.
Superar os desafios da oncofertilidade requer mais informação, investimento e, principalmente, empatia. Cada caso deve ser individualizado, levando em consideração o prognóstico e o acesso aos tratamentos que preservam a fertilidade.
Infelizmente, em alguns casos, a preservação pode ser inviável devido ao estágio e à gravidade da doença, mas todas as pacientes devem ser informadas sobre as opções disponíveis nesse cenário.
*Gustavo de Oliveira Bretas é oncologista e membro da Brazil Health
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)