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Câncer de mama não existe? Médicos espalham notícias falsas sobre a doença

Médicos são investigados após divulgação de boatos sobre a doença e a mamografia em pleno Outubro Rosa

Por Lucas Rocha
30 out 2024, 13h45
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O Inca estima que sejam registrados 74 mil casos de câncer de mama no Brasil por ano até 2025 (Foto: Anastasia Kazakova/Freepik/Divulgação)
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Nem tudo que está na internet é verdade, isso é um fato. Mas, quando médicos no exercício da profissão e com registro em conselhos regionais publicam informações sobre saúde, a tendência é que muita gente acredite no que está sendo dito.

Fatos recentes reforçam que é preciso cautela mesmo quando a mensagem vem de um profissional de saúde. Recentemente, dois médicos divulgaram em redes sociais informações falsas sobre o câncer de mama e estão sendo investigados por seus conselhos de classe.

Lana Tiani Almeida da Silva, médica inscrita no conselho do Pará, publicou vídeo no Instagram em que afirma que a doença não existe.

“Esqueçam Outubro Rosa, esqueçam mamografia. Mamografia vai causar inflamação nas mamas. Por que eu falo que câncer de mama não existe? Porque simplesmente o que existe é uma inflamação crônica nas mamas que pode ser inflamação da tireoide, do rim, do fígado, em qualquer lugar, é cálcio nas mamas”, diz a médica em trecho do vídeo publicado no Instagram.

+ Leia também: Câncer de mama: prevenção e novos tratamentos mudaram história da doença

Consultado pela reportagem, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Pará (Cremepa) confirmou que a médica é inscrita no CRM do estado. O Cremepa informou ter tomado conhecimento da postagem e destacou que o fato está sendo apurado internamente.

“Ressaltamos que os procedimentos no CRM-PA tramitam sob sigilo, de acordo com o art. 1°, do Código de Processo Ético-profissional”, diz trecho da nota.

No momento, o perfil da profissional no Instagram aparece disponível apenas para seguidores. Contudo, o vídeo circula em diversas plataformas.

Câncer de mama existe

Não só existe como é o mais comum no Brasil e o que mais mata mulheres. “Negar isso, realmente, é uma coisa que beira o absurdo. É difícil até de explicar isso, principalmente quando produzido por médicos”, afirma o médico mastologista Marcelo Bello, diretor do HC III, unidade referência do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para o tratamento da doença.

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O Inca também se posicionou em nota contra a desinformação que circula nas redes.

“O câncer de mama é uma doença real e comprovada cientificamente, sendo um dos tipos de câncer mais comuns entre mulheres no Brasil e no mundo. Diagnósticos e tratamentos precoces são fundamentais para reduzir a mortalidade pela doença, assim como são de suma importância os exames de rastreamento, como a mamografia, e campanhas de conscientização como o Outubro Rosa”, diz o instituto em nota.

O Inca enfatiza ainda que o conteúdo sobre a inexistência do câncer de mama não tem respaldo científico e prejudica a saúde pública, colocando vidas em risco ao desencorajar exames preventivos e tratamentos essenciais.

+ Leia também: Outubro Rosa: 7 passos para diminuir o risco de câncer (não só de mama)

Mamografia não causa câncer

O segundo episódio de desinformação envolve o médico Lucas Ferreira Mattos, registrado nos conselhos de São Paulo e de Minas Gerais, de acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM).

Em vídeo publicado no Instagram, o profissional responde a uma caixinha de perguntas de uma pessoa que afirma ter cistos nos dois seios. A postagem permanece disponível no perfil, com mais de 55 mil curtidas.

“Uma mamografia gera uma radiação para a mama equivalente a 200 raios-X. Isso aumenta a incidência de câncer de mama, por excesso de mamografia. Tenho 100% de certeza que o seu nódulo benigno na mama é deficiência de iodo”, afirmou Mattos.

A informação sobre o exame que rastreia tumores no seio não procede. “A mamografia é o melhor exame que temos para diagnóstico de câncer de mama e ela é segura, não produz uma radiação equivalente a 200 raios-x, isso é mentira. A dose de radiação é muito pequena”, afirma o médico do Inca.

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O especialista dá um exemplo que ajuda a ilustrar quão desprezível é o risco. “A chance de desenvolver a doença fazendo uma mamografia é a mesma que você tem de desenvolver câncer de pulmão fumando um cigarro por ano, ou seja, é muito baixa, principalmente hoje com os modernos aparelhos digitais.”

Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) informou que investiga o caso e que os trâmites seguem sob sigilo determinado por lei. Consultado, o conselho mineiro ainda não retornou.

+ Leia também: Câncer de mama: plataforma inteligente detecta e perfila a doença

A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) divulgou um comunicado em que expressa preocupação com o crescente número de notícias falsas a respeito do tratamento e da prevenção do câncer.

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“A mamografia é a principal forma de prevenção de mortes pela doença. O diagnóstico precoce, obtido pela mamografia, permite a descoberta do câncer em estágios menores, onde as chances de cura são maiores e os tratamentos menos agressivos”, diz trecho da nota.

A SBM destaca ainda que estudos comparativos realizados em países europeus e norte-americanos demonstraram que a realização anual do procedimento por mulheres entre os 40 e 75 anos reduz em 20% a 30% a mortalidade do câncer de mama em comparação com aquelas que não fizeram o exame.

O Inca estima que sejam registrados 74 mil casos da doença no Brasil por ano até 2025. Mulheres de 50 a 69 anos devem fazer uma mamografia de rastreamento a cada dois anos. Para quem apresenta risco elevado de câncer de mama, o acompanhamento médico deve ser individualizado e a periodicidade do teste definida de acordo com cada caso.

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