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Câncer: ao menos um quarto dos casos seria evitado com hábitos saudáveis

Novo cálculo reacende debate sobre a importância do estilo de vida para prevenir tumores - e o número pode ser ainda maior. Quais as atitudes recomendadas?

Por Lucas Rocha
11 jan 2024, 18h23

O câncer pode surgir por fatores não modificáveis, como a herança genética, ou por fatores modificáveis, como infecções, alimentação e tabagismo. Muitas vezes, aliás, é uma combinação de ambos.

Eis que pesquisadores da Suíça decidiram fazer uma estimativa do impacto de certos hábitos de vida na ocorrência de tumores.  Por lá, o câncer é a segunda principal causa de mortalidade, com aproximadamente 17,2 mil óbitos e mais de 46,4 mil casos registrados em 2019.

Publicado no International Journal of Cancer, o estudo analisou um conjunto de dados epidemiológicos reunidos entre 2015 e 2019. Eles foram extraídos de um levantamento nutricional da Suíça, de revisões de literatura científica e do National Institute for Cancer Epidemiology and Registration.

Foram investigados fatores de risco como consumo de álcool, tabagismo, excesso de gordura corporal, sedentarismo e alimentação inadequada.

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A pesquisa revela que, quando combinados, esses problemas foram associados a 25,2% dos casos de câncer potencialmente evitáveis no país europeu – ou seja, um quarto dos casos. A proporção de diagnósticos foi ligeiramente maior entre os homens (28,4%) em comparação com as mulheres (21,9%).

O tabagismo, o excesso de peso e o abuso de álcool foram os principais contribuintes para os casos atribuíveis ao estilo de vida.

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Alimentação e a nutrição inadequadas são classificadas como a segunda causa de câncer que pode ser prevenida (Foto: Freepik/Divulgação)

A oncologista Anelisa Coutinho, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), ressalta que, de maneira geral, os resultados encontrados são semelhantes ao nosso cenário. “Sem dúvida, esses também são os principais fatores de risco modificáveis no Brasil e em diversos países”, afirma.

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A médica ressalta que o tabagismo é, de longe, o maior deles. Segundo ela, essa prática aumenta o risco não só de câncer de pulmão, como também de laringe, orofaringe, esôfago, bexiga, pâncreas, reto e outros.

“A obesidade também está associada a vários tipos de câncer”, destaca Anelisa.  Nesse caso, a relação é complexa, porque o excesso de gordura corporal se correlaciona com outros fatores de risco, como alimentação desbalanceada, sedentarismo e mesmo consumo de álcool.

Ou seja, muitos desses fatores andam juntos, e isso dificulta determinar a parcela de culpa de cada um. Mas o fato é que todas merecem atenção.

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O que não dá para evitar – e outras ponderações sobre o câncer

Como destacamos logo no início, o câncer não tem uma causa única. Até por isso, a oncologista Solange Sanches, coordenadora da Equipe Mama (Oncologia Clínica) do Centro de Referência de Tumores de Mama do A.C.Camargo, destaca a importância de pesquisas como essa realizada na Suíça, mas ressalta que os dados devem ser interpretados com cautela.

“Estudos como esse alertam para pontos que podemos melhorar para diminuir o risco de câncer, o que não quer dizer zerar o risco”, diz a médica.

Ou seja, mesmo pessoas que seguem a cartilha de hábitos saudáveis não estão imunes a tumores – embora o risco seja menor. Isso significa, entre outras coisas, que elas não devem se descuidar dos exames, tampouco abrir mão de consultas regulares com os profissionais de saúde.

Além disso, há tumores que são mais evitáveis, como o de colo de útero (tomando a vacina do HPV), enquanto outros não têm prevenção, a exemplo de muitos cânceres pediátricos.

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Por fim, a população suíça não é igual à brasileira, e está exposta a diferentes fatores de risco. Solange ressalta, por exemplo, que, no nosso país, um componente especialmente relevante é a exposição ao sol. Em excesso, a radiação solar está associada ao surgimento do câncer de pele (veja como se cuidar aqui).

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Mais estimativas e dicas de prevenção

A Organização Mundial da Saúde (OMS) traz números mais ousados do que as do trabalho suíço. De acordo com ela, entre 30% e 50% de todos os casos de câncer podem ser evitados com mudanças no estilo de vida.

“O tabagismo, a alimentação não saudável, a inatividade física, o excesso de gordura corporal e o consumo de bebidas alcoólicas são os principais fatores de risco para câncer e outras doenças crônicas não transmissíveis”, reforça a pesquisadora Luciana Grucci, da área técnica de Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer do Instituto Nacional de Câncer, o Inca.

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Para a prevenção, essa instituição recomenda a adoção de um modo de vida saudável que inclui:

  • Não fumar ou consumir bebida alcoólica
  • Manter o peso corporal dentro dos limites
  • Priorizar alimentos de origem vegetal como frutas, legumes, verduras, cereais e leguminosas
  • Cortar ao máximo os alimentos ultraprocessados (comida congelada pronta, macarrão instantâneo, bebidas açucaradas e refrigerantes, bolachas e salgadinhos de pacote)
  • Prática de atividade física

Nesse último quesito, cabe destacar que os exercícios ajudam a equilibrar os níveis de hormônios, aprimorar o funcionamento gastrointestinal, fortalecer as defesas do corpo e não engordar, entre outros efeitos que reduzem o risco de tumores.

A OMS recomenda que adultos saudáveis reservem de 150 a 300 minutos de atividade aeróbica por semana. Já crianças e adolescentes precisam se movimentar pelo menos 60 minutos por dia para se manter longe do sedentarismo. Mas lembre-se: comece aos poucos e qualquer movimentação vale.

“Além disso, vacinar contra o HPV as meninas de 9 a 14 anos e os meninos de 11 a 14 anos, assim como contra a hepatite B, são importantes estratégias para a prevenção da doença”, acrescenta Luciana.

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Políticas públicas

Conhecer a incidência de casos de câncer atrelados a certos hábitos ajuda a detectar quais as principais ameaças à saúde de uma população e a embasar políticas públicas mais eficazes.

“A identificação dos fatores de risco modificáveis e a proporção de casos relacionados é primordial para que medidas de prevenção e combate a esses determinantes sejam pensadas e implementadas adequadamente. O planejamento das soluções precisa ter como base o tamanho do problema”, conclui Anelisa Coutinho.

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