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Avanço da gripe aviária em mamíferos é sinal de alerta, afirma especialista

Presidente da Sociedade Brasileira de Virologia discute a situação atual do vírus H5N1 e os resultados de sua pesquisa sobre leões marinhos infectados

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 31 jul 2024, 14h54 - Publicado em 31 jul 2024, 14h43
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Leões marinhos foram infectados pela gripe aviária na costa brasileira em 2023  (David Corby / Wikimedia/Reprodução)
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Em 2023, a gripe aviária, provocada pelo vírus H5N1, acendeu o sinal de alerta entre especialistas brasileiros e da América Latina, ao ser detectada pela primeira vez em diversas aves e animais silvestres da região.

Agora, estudos demonstram que o vírus está se estabelecendo entre mamíferos, o que aumenta o risco de que ele passe a infectar humanos. Hoje isso já acontece, mas apenas pelo contato direto com animais doentes.

Um dos trabalhos, publicado recentemente na revista científica Nature por pesquisadores brasileiros, confirma a transmissão sustentada do vírus entre vacas nos Estados Unidos.

Outro, disponível na BMC Veterinary Research, também realizado por autores daqui, aponta que o H5N1 causou a morte de leões marinhos em Santa Catarina no ano passado. A pesquisa também mostrou que o vírus da gripe aviária sofreu mutações que o tornam mais capaz de infectar mamíferos e aumentam sua virulência — a capacidade do patógeno se replicar no organismo.

VEJA SAÚDE conversou sobre os achados com Helena Lage Ferreira, uma das autoras do estudo. Ela é professora da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV).

VEJA SAÚDE: Qual foi o principal achado do estudo e por que ele é importante?

Helena Lage Ferreira: A principal conclusão é a identificação do vírus H5N1 nos leões marinhos, e os achados sugerem que o vírus se transmitiu entre eles. Havia sido identificada uma alta mortalidade destes animais em Santa Catarina e em outros locais por conta da infecção, e nosso estudo fez uma caracterização molecular do vírus.

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Também identificamos marcadores genéticos associados a potencial adaptação do vírus em mamíferos e aumento de virulência. Então o artigo gera um alerta em relação a isso. 

Conte um pouco sobre o H5N1. De onde ele veio e quando chegou ao Brasil pela primeira vez? 

O vírus foi identificado pela primeira vez em 1996, no sudeste da China, em uma granja de gansos domésticos. Um ano depois, foi identificado em um mercado de aves vivas em Hong Kong. Nessa ocasião, 18 humanos foram infectados e 9 pessoas morreram. Milhões de animais foram abatidos e entendeu-se que ele havia sido erradicado.

Porém, em 2003 ele reemergiu na China e a partir de 2005 começou a se disseminar para fora do sudeste Asiático por meio de aves migratórias. A partir daí, o vírus evoluiu, deu origem a variantes como H5N2, H5N6 e outras. Seguiu infectando aves e, eventualmente, pessoas.

Em 2020, na Europa, houve uma mutação significativa e ele voltou a ser um H5N1. Depois, viajou para a América do Norte por meio de aves que cruzam o norte do Oceano Atlântico e chegou à América Latina. É importante entender que, após 2020, estamos falando de outro vírus, que não tem a mesma mortalidade da primeira aparição, na Ásia. 

Ele segue se disseminando em aves silvestres de todo o mundo, e é encontrado cada vez mais em mamíferos silvestres. Mais recentemente, foi identificado em vacas nos Estados Unidos, em março de 2024. 

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Você mencionou o H5N2. Alguma relação com o vírus de mesmo nome que levou à morte um homem no México

O nome é o mesmo, mas são vírus diferentes, que não estão relacionados. O do México parece ser endêmico há algum tempo no país e já há vacina desenvolvida contra ele.

Já houve casos em humanos de gripe aviária causada pelo H5N1? 

Se considerarmos a reaparição de 2003, ele foi responsável por cerca de 800 casos de influenza em humanos, sendo que 50% dos infectados morreram.

Só que, ao analisarmos dados somente de 2020 em diante, foram 30 casos e 3 deles resultaram em óbito. É uma diferença muito grande. Não é banal, é uma mortalidade superior à da Covid-19, mas é uma estatística menos alarmista. 

+ Leia tambémGripe aviária: quais os potenciais riscos do vírus para a saúde global?

O que sabemos sobre características como virulência e transmissibilidade?

Como é um vírus estudado há muito tempo, já foram identificadas alterações no genes da hemaglutinina (a parte “H” da sigla) que favorecem a replicação do vírus. E encontramos agora outras mutações, em diferentes genes importantes para esse processo. 

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Entre as alterações da hemaglutinina, também detectamos mudanças nos aminoácidos do vírus que se conectam a receptores celulares dos hospedeiros. Encontramos parte dos aminoácidos funcionando muito bem para receptores tanto de mamíferos quanto de aves, mostrando que ele está no meio do caminho, por assim dizer, para se tornar adaptado para os mamíferos.

Mas nosso estudo apenas viu as alterações genéticas. Ainda precisamos de pesquisas biológicas, com animais, para confirmar essas características.

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Há risco de uma pandemia causada por esse vírus? Qual a percepção dos grupos de trabalho internacionais dos quais você participa?  

A capacidade de transmissão entre tantas aves e mamíferos, com hábitos de alimentação tão diferentes, é alarmante, sem dúvidas. Há um espectro muito grande de espécies se infectando, e com isso temos uma maior chance de o vírus se adaptar para se transmitir entre humanos.

A comunidade internacional tem acompanhado em especial o caso das vacas nos Estados Unidos, que são animais de produção, com contato direto com várias pessoas. O país está investindo em pesquisas, testagem e estuda-se a vacinação destes trabalhadores. É difícil monitorar o avanço entre os bovinos, porque nem sempre eles têm sintomas.  

A partir do momento em que você tem uma disseminação nesse nível, nos preocupamos e muito. O vírus tem alta capacidade de mutação, e bastaria um evento para que ele acumule alterações que facilitem seu estabelecimento entre nós. Agora, estamos na estação em que as aves migratórias e mamíferos marinhos de outras regiões chegam ao Brasil, é o momento de aumentar a vigilância. 

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Além deste, algum outro vírus te preocupa pelo potencial pandêmico? 

Temos alguns patógenos para ficar de olho. O mpox, que segue se espalhando na África, mas para o qual temos vacina. O Nipah, na Índia…

E também vale mencionar o H5N2 encontrado no homem que morreu no México. O relato identificou o óbito, mas o indivíduo não teve contato com animais infectados, então isso pode indicar a transmissão entre pessoas, e a população não tem anticorpos contra nenhum influenza H5. 

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