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Quais são os riscos de usar antibióticos sem prescrição?

Prática da automedicação com esses remédios traz riscos especialmente graves, como intoxicação e resistência bacteriana

Por Lucas Rocha
Atualizado em 12 abr 2024, 12h19 - Publicado em 12 abr 2024, 12h18
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Antibióticos devem ser utilizados a partir de prescrição médica (Foto: Christina Victoria Craft/Unsplash)
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Você certamente já ouviu aquele velho ditado que diz: “de médico e louco todo mundo tem um pouco”. Mas bancar o médico e, na prática, se automedicar, pode ser um problemão – ainda mais se você resolver fazer isso com antibióticos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada e que 50% dos pacientes não faz o uso correto.

No caso de antibióticos, além de reações graves no corpo, a utilização indiscriminada favorece o surgimento de resistência microbiana aos fármacos. Com a potencialização do fenômeno, infecções que hoje são tratáveis de maneira simples podem se tornar difíceis e, em casos extremos, até impossíveis de curar.

+ Leia também: Supermicróbios: a ameaça da resistência aos antibióticos para a humanidade

No Brasil, o acesso a esse tipo de medicamento passou a ser mais restrito em 2010, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) atualizou as regras de comercialização da classe.

“A resolução que determina a retenção de receita de medicamentos à base de substâncias classificadas como antimicrobianos contribui de forma incontestável com a redução do uso indiscriminado de antimicrobianos pela população brasileira, tendo em vista que a exigência da receita, além de inibir a automedicação, prevê a necessidade de um diagnóstico médico de infecção”, avalia a Anvisa, em nota.

Contudo, ainda é possível encontrar no mercado ilegal a venda desse tipo de remédio sem qualquer controle. No mais, há quem pegue a receita do vizinho ou mesmo engane o farmacêutico para contornar a recomendação da Anvisa.

+ Leia também: Profecia patogênica: bactérias e fungos resistentes exigem mobilização já

Por que é perigoso tomar antibióticos sem acompanhamento?

Em primeiro lugar, você pode acabar adiando o tratamento adequado. Explica-se: há várias doenças com sintomas similares aos de uma infecção bacteriana. Ao tomar um antibiótico contra elas, no mínimo você está perdendo tempo.

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Doenças causadas por vírus, como gripe, resfriado, Covid-19, dengue e tantas outras, não são combatidas com antibióticos – embora eles até possam entrar em cena em casos específicos para evitar coinfecções oportunistas.

Além disso, há diferentes tipos de antibiótico – cada um pode receber antibióticos distintos. “Eles são como armas certeiras para determinadas infecções. É preciso usar de forma direcionada cada tipo de medicamento para cada tipo de infecção”, detalha o infectologista Moacyr Silva, do Hospital Israelita Albert Einstein..

+ Leia também: Ozempic: os riscos de usar apenas para perder uns quilinhos

Para ficar mais claro, vamos pegar como exemplo duas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) causadas por agentes bacterianos.

A sífilis é ocasionada pela bactéria Treponema pallidum, enquanto a gonorreia é associada à Neisseria gonorrhoeae. Para a primeira, o tratamento é realizado basicamente com um antibiótico chamado penicilina benzatina (ou benzetacil). Já para a segunda, o esquema terapêutico inclui combinações da azitromicina com ciprofloxacina ou ceftriaxona.

Ou seja, se uma pessoa com sífilis decidir tomar por conta própria doses de azitromicina, vai deixar a bactéria T. pallidum incólume. E, com a ideia equivocada de que está se tratando, pode deixar o quadro se agravar.

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Isso destaca como a prescrição médica não é um detalhe. É justamente o conhecimento técnico que permite que os especialistas direcionem as estratégias precisas para o combate aos diversos tipos de infecções.

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Automedicação representa um sério risco à saúde (Ilustração: Yann Valber/Veja Saúde)

Reações adversas dos antibióticos

“Utilizar algo sem prescrição médica pode trazer efeitos colaterais“, pontua Silva. Os impactos mais comuns podem incluir irritação na pele, náusea, diarreia e infecções por fungos.

Em alguns casos, a prática leva a quadros graves de intoxicação, especialmente quando o uso é feito de maneira abusiva, em dosagens mais altas do que o recomendado em bula.

Nessa situação extrema, a Anvisa recomenda acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), disponível no número 192, ou ligar para o Disque-Intoxicação criado pela agência (0800-722-6001).

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Resistência antimicrobiana

A resistência antimicrobiana é resultado da alteração genética de agentes causadores de doenças, como bactérias e fungos, que deixam de responder aos medicamentos utilizados para combatê-los. Especificamente no caso das bactérias, falaríamos de resistência bacteriana.

Nesse contexto, os remédios se tornam ineficazes (ou menos úteis), o que representa um grave risco para o tratamento de infecções. Vale destacar que não se trata de uma perspectiva sobre o futuro: isso já acontece em certos casos de pneumonia, tuberculose, gonorreia e salmonelose, por exemplo.

Embora seja um fenômeno natural de adaptação dos germes em busca da própria sobrevivência, o problema é potencializado pelo uso excessivo e inadequado de remédios. Entre o conjunto de medidas preconizadas pela OMS, estão algumas recomendações para a população em geral:

  • Use antibióticos apenas prescritos por profissional de saúde
  • Siga sempre a receita médica – mesmo se tiver melhorado, continue tomando o fármaco conforme a orientação
  • Nunca exija antibióticos se o médico disser que você não precisa
  • Jamais compartilhe ou use sobras de medicamentos
  • Previna infecções higienizando mãos e alimentos
  • Evite contato próximo com pessoas doentes
  • Mantenha o calendário de vacinas atualizado

Descarte adequado

Os medicamentos, quando jogados fora de forma inadequada, tornam-se um risco relevante.

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“Quando as pessoas jogam o restante não consumido de remédios, sólidos ou líquidos, nas latrinas dos banheiros, essas substâncias podem ser lançadas diretamente nos sistemas aquáticos”, afirma o sanitarista Paulo Barrocas, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz). Se você considerar que cerca de 50% do esgoto gerado no Brasil não é coletados em redes de tratamento, o quadro piora.

Mais: estudos demonstram que os processos utilizados nas estações de tratamento não degradam as medicações por completo. Além desta rota, medicamentos também podem ser introduzidos no ambiente quando descartados em lixões.

Esse tipo de atitude pode, de um lado, ameaçar outros seres vivos. “Além disso, representa um risco de saúde pública, porque pode causar envenenamento acidental ou ser usado de forma errada por pessoas que os encontrem”, acrescenta Barrocas. Isso sem contar que o descarte inadequado também favorece a resistência bacteriana.

Remédios vencidos ou não utilizados devem ser entregues em pontos de coleta para a destinação adequada. A lista inclui farmácias, unidades básicas de saúde, supermercados e institutos de pesquisa, como a Fiocruz (consulte aqui).

“Os medicamentos coletados devem sofrer tratamento adequado, como a incineração. Em alguns países, existem políticas que determinam que as próprias farmacêuticas coletem e deem descarte adequado”, diz o sanitarista. “É fundamental desenvolvermos ações de educação que informem a população sobre os riscos do descarte inadequado de medicamentos”, conclui.

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