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Cientistas identificam alterações na urina de crianças com autismo

Mudanças na concentração de certas substâncias presentes no xixi podem, no futuro, contribuir para o diagnóstico desse transtorno. Mas o estudo é inicial

Por Lucas Rocha
Atualizado em 4 abr 2024, 17h06 - Publicado em 4 abr 2024, 15h29
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Alterações na urina de pessoas com autismo podem contribuir para diagnóstico, aponta estudo do Butantan (Foto: gpointstudio/Freepik)
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O transtorno do espectro do autismo (TEA) é definido como uma condição de desenvolvimento neurológico caracterizada por dificuldades de comunicação e de interação social, além de comportamentos repetitivos e interesses restritos. Mas, na prática, fazer o diagnóstico do quadro é bem complexo. Daí porque pesquisadores buscam identificar, dentro do organismo dessas pessoas, biomarcadores que ajudem a detectá-la.

Nesse contexto, um grupo de pesquisa do Instituto Butantan detectou alterações de substâncias em amostras de urina de crianças com o transtornoA expectativa é de que, no futuro, isso ajude a formular testes que ajudem a diagnosticar e a acompanhar a evolução do quadro. Os achados foram publicados no periódico científico Biomarkers Journal.

+ Leia também: O acolhimento ao aluno autista na escola

Por dentro do estudo

Os cientistas avaliaram um conjunto de amostras de 44 crianças, sendo metade diagnosticadas com TEA e a outra parte de indivíduos neurotípicos (sim, é pouca gente, e essa é uma das limitações do trabalho). Os participantes fazem parte do Centro de Especialização Municipal do Autista, em Limeira (SP), e da Associação de Pais e Amigos do Autista da Baixa Mogiana, em Mogi Guaçu (SP).

Na secreção de crianças com autismo foram observadas alterações nas quantidades de diversos aminoácidos:

  • Arginina
  • Glicina
  • Leucina
  • Treonina
  • Ácido aspártico
  • Alanina
  • Histidina
  • Tirosina

De acordo com o estudo, os níveis anormais podem estar relacionados a diversas manifestações observadas em pessoas com TEA. Durante a formação do feto ou no período pós-natal, quando os receptores de neurotransmissores estão em desenvolvimento, o desequilíbrio de aminoácidos pode tornar o cérebro vulnerável à superestimulação, por exemplo.

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Muitas dessas substâncias, aliás, tambem têm relação com o sistema gastrointestinal. E indivíduos com TEA podem apresentar problemas nessa seara, inclusive intolerância a alimentos como derivados do leite ou glúten. Vale destacar que a microbiota intestinal tem sido amplamente estudada no campo da psiquiatria como um todo, incluindo estudos voltados para o autismo, depressão e transtorno bipolar.

Leia também: Autismo: “Vejo mais diagnósticos equivocados do que nunca”

“Nossa intenção foi trazer elementos não só para a caracterização do quadro do TEA, como para fornecer um acompanhamento da evolução do distúrbio. As informações precisam ser validadas em uma população maior, mas indicam um caminho a ser seguido”, pontua o farmacêutico-bioquímico Ivo Lebrun, coordenador do estudo, em comunicado.

A pesquisa abre caminhos para a investigação de potenciais biomarcadores para o transtorno. Mas, como o próprio autor dela reitera, os resultados não justificam, hoje, avaliar essas substâncias na urina em busca de um diagnóstico.

O psiquiatra Antonio Egídio Nardi, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), reitera isso: “Sem dúvida, a psiquiatria está caminhando para o desenvolvimento de testes que possam ser usados na clínica. O do Butantan é uma hipótese que vem a ser estudada“.

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Nardi acrescenta que, entre os possíveis exames, um de urina seria especialmente benéfico pela facilidade da coleta, que poderia ser feita até mesmo em casa. “Estudamos biomarcadores no sangue e outros líquidos do corpo humano, como o líquor que banha o sistema nervoso central. Mas a urina é de fácil acesso”, destaca.

Diagnóstico clínico

A suspeita do transtorno do espectro autista surge geralmente ainda na infância, seja pelos serviços de atenção primária à saúde ou pela comunidade escolar.

Os primeiros sinais costumam envolver dificuldades no aprendizado ou atrasos no uso da linguagem. A criança também pode demonstrar o que parece ser indiferença aos cuidadores, momentos de agitação e comportamentos repetitivos.

O diagnóstico é essencialmente clínico, o que significa que a identificação de traços do espectro autista deve ser conduzida pela observação da criança, diálogo com os pais, além da aplicação de métodos de monitoramento do desenvolvimento. Até o momento, não há nenhum exame laboratorial para confirmar o quadro.

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“O diagnóstico não é simples. Não há uma regra para todo mundo, mas ele pode levar de seis meses a um ano”, analisa Nardi.

O termo “espectro” é utilizado para incluir as diversas apresentações do autismo e destacar que a condição se manifesta de maneiras diferentes para cada indivíduo. Os níveis são classificados de leve a grave, de acordo com o grau de dependência ou necessidade de suporte.

Embora não tenha cura, o TEA pode ser administrado com suporte psicológico e técnicas que estimulam a independência e ampliam a qualidade de vida, além de medicações para certos sintomas. Nesse sentido, a intervenção precoce possibilita ganhos significativos no aprendizado e no desenvolvimento da criança.

“Além do diagnóstico precoce, é importante um esforço coordenado entre equipes multidisciplinares, famílias e escolas. É fundamental que a equipe seja capacitada e acolhedora, para orientar famílias e escolas para que possam intervir e manejar o comportamento de forma adequada. É importante observar os sinais em crianças desde muito pequenas. Precisamos saber os marcos do desenvolvimento típico, para podermos perceber se há diferenças desses padrões”, a pedagoga Adriana Faria Pereira, especialista em neuropsicologia aplicada ao TEA, do Centro de Terapia ABA Sepaco.

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