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O atendimento contra o câncer durante a pandemia de coronavírus

Em entrevista, o oncologista Bruno Ferrari conta os ajustes necessários no tratamento dos tumores e revela suas preocupação com o novo coronavírus

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 18 ago 2020, 10h47 - Publicado em 6 abr 2020, 15h24

Diante de uma pandemia como a do novo coronavírus (Sars-CoV-2), outras doenças saem um pouco dos holofotes da imprensa. Pior: dependendo de como o sistema de saúde se organiza, a sobrecarga de pacientes infectados faz com que os profissionais não consigam atender adequadamente vítimas de outros problemas. E, entre eles, há uma preocupação especial com o câncer.

Pessoas diagnosticadas com um tumor são mais suscetíveis a complicações da Covid-19, a enfermidade provocada pelo novo coronavírus. Por outro lado, via de regra elas não podem suspender o tratamento. Como lidar com esse grupo de risco durante a crise?

Foi sobre esse tema que conversamos com o oncologista Bruno Ferrari, presidente do conselho de administração do Grupo Oncoclínicas, que tem unidades espalhadas por 11 estados do Brasil. Ele também aponta as mudanças na rotina de atendimento por parte dos profissionais e quais os temores que têm para os próximos meses. Confira:

Revista SAÚDE: o que mudou no atendimento dos pacientes com câncer onde o senhor trabalha?

Bruno Ferrari: a gente costuma dizer que o paciente oncológico é muito bem educado na prevenção de infecções. Porque, independentemente do coronavírus, os tratamentos que usamos e a própria doença geram uma imunossupressão. Então eles lavam as mãos ao chegar em casa, não dividem utensílios domésticos, evitam aglomerações. Enfim, seguem rotineiramente as orientações que têm sido divulgadas hoje.

Isso já ajuda, mas obviamente tivemos que mudar o fluxo nas clínicas. Não temos um setor de emergência nas unidades exclusivas e mesmo nas que ficam dentro de hospitais, mas nós estamos fazendo uma pré-triagem com todo paciente antes de ele ir para a clínica. A gente pergunta se a pessoa tem sintomas respiratórios, se está se sentindo bem. E nós sempre avaliamos para ver se ela precisa ou não ir para a clínica.

Chegando na clínica, o profissional de saúde faz outra triagem na recepção. Ele pergunta se o paciente está com algum sintoma e mede a temperatura. Esse profissional usa um termômetro digital e está adequadamente protegido pra fazer esse procedimento. Se tem sintomas e está com febre, é atendido em um fluxo especial, separado. Se não, adotamos o fluxo normal: passa pelo médico para ver como está a evolução do tratamento contra o câncer, faz exames para ver se imunidade está boa e, se for o caso, já vai para fazer a quimioterapia.

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Porque, de modo geral, o paciente com câncer não pode suspender a quimioterapia. O câncer não para e espera o coronavírus passar. A gente fica preocupado com desinformações que circulam, dizendo que o indivíduo deve parar o tratamento. Ele deve conversar com o oncologista, isso sim.

Há um temor de o coronavírus começar a circular em locais de atendimento a pessoas com câncer?

Nós sempre temos uma preocupação com infecções de vírus e bactérias. Pra ter ideia, o enfermeiro que entra em contato com os pacientes tem toda uma recomendação de uso de avental, luva e outros equipamentos. Isso já acontece normalmente, mas, agora, de maneira ainda mais sistemática.

Tem outra recomendação: normalmente,  o paciente vai com mais de um acompanhante. Hoje, pedimos que vá, no máximo, com um. Aumentamos também o espaço das salas da espera, tiramos cadeiras. E, quando podemos, usamos a telemedicina para conversar com os pacientes e diminuir o fluxo nas clínicas.  E temos procurado diminuir o tempo de consulta e sermos mais objetivos. Os psicólogos e nutricionistas, por exemplo, também podem usar a telemedicina para manter um bom atendimento sem aumentar o risco de infecção pelo coronavírus.

O câncer pode perder prioridade no atendimento de hospitais públicos e mesmo privados?

Temos medo disso. E temos medo de o paciente que tem câncer ou uma suspeita disso de não querer ir ao hospital para não entrar em contato com o coronavírus. É importante dizer que, em casos graves como esse, a pessoa precisa ir, sim, ao hospital. Esses locais têm se preparado para adequar o fluxo de pessoas e minimizar o risco de infecção. Se tiver algum sintoma importante, não deixe de ir ao hospital.

No momento, estamos preocupados com os profissionais de saúde que atendem o paciente oncológico. Eles precisam de treinamento e equipamentos para continuarem ajudando as pessoas com um câncer.

É possível que os oncologistas e outros profissionais voltados para o câncer sejam remanejados para atender indivíduos com coronavírus em geral?

Espero que não, porque temos carência de profissionais que atuam na oncologia. Esse profissional já fica 100% do seu tempo dedicado ao tratamento oncológico, tanto no serviço privado como no público. Seria uma temeridade deslocar um oncologista para enfrentar o coronavírus diretamente. O paciente com câncer é considerado grave. O tratamento dele é de urgência. Se não for tratado adequadamente, há um risco de morte.

E o desabastecimento de remédios e outros materiais para atender o paciente com câncer, é uma preocupação?

Essa é uma preocupação mesmo, porque muitos dos nossos medicamentos são importados. Se os aviões não voarem mais, os remédios não chegarão. Mas conversamos com fornecedores e diferentes atores da área. E foi garantido que não faltarão insumos. Mas se o isolamento se intensificar e se estender por muito tempo, será necessário pensar a questão logística para não termos problemas.

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