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Coronavírus: 8 recados sobre as novas projeções do Ministério da Saúde

Um boletim traz pontos preocupantes sobre a pandemia de coronavírus no Brasil. Veja o que esperar de internações, avanço de casos, exames, máscaras...

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 12 mar 2021, 12h22 - Publicado em 4 abr 2020, 13h02
coronavirus brasil abril
O país ainda está no começo da disseminação do novo coronavírus. (Ilustração: Rômolo/SAÚDE é Vital)
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Desde a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus (Sars-CoV-2) no Brasil, muita coisa aconteceu. Em um boletim epidemiológico recente, o Ministério da Saúde consolidou as informações oficiais disponíveis até o momento — e fez uma análise com pontos críticos sobre a pandemia, que vão da falta de exames e leitos ao risco de infecção em larga escala dos profissionais de saúde, o que dificultaria o tratamento da Covid-19.

Pelos dados do governo, até o dia 3 de abril, nosso país reuniu 9 056 episódios confirmados da doença, com 359 mortes. “De acordo com padrão observado por esses primeiros casos, constata-se que a transmissão ainda está na fase inicial”, informa o relatório.

Veja a seguir pontos pinçados por SAÚDE desse boletim. A ideia não é gerar pânico, porém mostrar a necessidade de levarmos esse problema a sério e adotarmos todas as medidas possíveis de precaução.

1) Alta taxa de internações por problemas respiratórios

Apesar de estarmos no começo da crise, o número de hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) é impressionante. Cabe destacar que esse termo se refere a um conjunto de sintomas respiratórios sérios (como muita falta de ar), que podem ser resultado de diferentes infecções por vírus e bactérias.

Vamos comparar o ano passado com o atual. Na 13ª semana de 2019 (de 25 a 29 de março), 1 123 internações por SRAG foram contabilizadas. Já na 13ª semana de 2020 (23 a 27 de março), o número subiu para 7 216. É um aumento de 542%.

Apesar da falta de exames e da dificuldade em processá-los rapidamente — o que dificulta o acompanhamento em tempo real da doença e afeta a credibilidade dos dados disponíveis —, já é tido como certo que a maioria desses casos sérios de SRAG é provocado pelo novo coronavírus.

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“A partir da oitava semana de 2020, foi inserida a variável de diagnóstico para Sars-CoV-2, tornando o Sistema de Informação de Vigilância da Gripe capaz de captar os casos graves confirmados laboratorialmente para Covid-19. Desde então, a principal causa de hospitalizações por SRAG vem sendo pelo acometimento do Covid-19”, informa o relatório do Ministério da Saúde.

Do início do ano até agora, foram 772 casos de internação por SRAG em decorrência de todos os subtipos do vírus da gripe. E veja: só de 17 de fevereiro para cá, tivemos 1 769 hospitalizações confirmadas pelo coronavírus (o número deve ser significativamente maior, porque há vários episódios ainda em investigação).

Não é, nem de perto, uma gripinha.

2) Aceleração descontrolada da epidemia em certos estados

As autoridades estão dividindo a pandemia da Covid-19 em quatro fases: epidemia localizada, aceleração descontrolada, desaceleração e controle. Segundo o Ministério da Saúde, a maioria das regiões do nosso país está na primeira etapa.

No entanto, certos locais já começam a migrar para o segundo estágio, em que o número de infectados, hospitalizações e mortes sobe de maneira acentuada, impondo uma sobrecarga pesada ao sistema de saúde.

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A taxa de infecção do momento pelo coronavírus no Brasil é de 4,3 casos por 100 mil habitantes, de acordo com o governo. Como basicamente só as pessoas com sintomas graves estão sendo testadas e como o processamento desses exames está demorando, provavelmente o índice é maior.

Ainda assim, certos estados chamam atenção. “É preocupante a situação do Distrito Federal (13,2 casos por 100 mil habitantes), São Paulo (9,7 por 100 mil), Ceará (6,8 por 100 mil), Rio de Janeiro (6,2 por 100 mil) e Amazonas (também com 6,2 por 100 mil), que apresentam os maiores coeficientes. Nesses locais, a fase da epidemia pode estar na transição para fase de aceleração descontrolada”, avisa o boletim.

“A pandemia afeta principalmente as cidades com maior densidade demográfica, onde as aglomerações decorrentes do período mais frio (outono-inverno) no sul e sudeste do país exigem uma maior atenção e ampliação de leitos e estrutura de suporte ventilatório”, completa.

3) Falta de exames para coronavírus e demora no processamento dos mesmos

No 1º de abril, o Ministério da Saúde começou a distribuir 500 mil testes rápidos, voltados especificamente para profissionais de saúde e de segurança do país. Entretanto, é cristalina a falta de exames para a população em geral, como o próprio relatório admite.

“Não há escala de produção nos principais fornecedores para suprimento de kits laboratoriais para pronta entrega nos próximos 15 dias”, diz o informe.

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Com isso, apenas os casos graves de Covid-19 e alguns outros identificados em postos de saúde sentinela são reportados oficialmente. O resultado é uma subnotificação grande da doença e uma dificuldade de rastrear as pessoas infectadas — um passo primordial para impedir a disseminação do vírus e para entender quem já está imune a ele.

Pior do que isso: mesmo os exames realizados estão demorando para ser processados. Há relatos de demora de um mês, embora isso não seja uma regra. “A capacidade laboratorial do Brasil ainda é insuficiente para dar resposta a essa fase da epidemia. […]”, afirma o boletim.

Toda a rede laboratorial pública, atuando com carga máxima, é capaz de processar aproximadamente 6 700 testes por dia. Para o momento mais crítico da emergência, será necessária uma ampliação para 30 a 50 mil testes de RT-PCR por dia.

O Ministério da Saúde argumenta que está estabelecendo parcerias público-privadas e ampliando a capacidade de seus laboratórios. Contudo, sem insumos para os exames, fica difícil rastrear a evolução do novo coronavírus.

A VEJA mostrou como o maior cemitério da cidade de São Paulo já tem um crescimento expressivo da quantidade de sepultamentos. O município dobrou o número de coveiros.

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4) A recomendação para a população usar máscaras caseiras

“Dados científicos recentes constatam que a transmissão da Covid-19 pode ocorrer mesmo antes do indivíduo apresentar os primeiros sinais e sintomas. Por esse motivo, o Ministério da Saúde passou a recomendar o uso de máscaras faciais para todos”, justifica o relatório.

No entanto, se a população em geral começar a comprar as máscaras cirúrgicas, faltará para os profissionais de saúde e para os doentes e seus cuidados, que precisam muito mais delas.

A solução? Um improviso. Diz o boletim: “Foi solicitado aos cidadãos […] para que produzam a sua própria máscara de tecido, com materiais disponíveis no domicílio. Esse fato, por si só, demonstra a gravidade da situação e a necessidade de manutenção das medidas de distanciamento social ampliada que foi adotada por diversos gestores estaduais e municipais. Esse é o único instrumento de controle da doença disponível no momento”.

Atenção: como o governo destaca, o uso das máscaras caseiras não substitui a necessidade de isolamento. A pessoa só deve sair de casa em situações de muita necessidade, como comprar alimentos, mesmo se estiver com um pedaço de pano no rosto.

5) A saúde dos profissionais está em risco

Muitos encaram a pandemia do Sars-CoV-2 como uma guerra. Seguindo essa analogia, para vencer a batalha sem tantas baixas, é necessário equipar bem as tropas da linha de frente e cuidar delas. A infecção de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde é especialmente preocupante, uma vez que escasseia o material humano para contra-atacar a crise.

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Essa é a razão pela qual um trecho do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde chama atenção: “O Hospital Israelita Albert Einstein informou que, desde o registro do primeiro caso da Covid-19, no dia 25 de fevereiro, 348 dos 15 mil colaboradores (2%) foram diagnosticados com a doença […]. A constatação de casos entre profissionais de saúde é a maior preocupação da resposta à emergência e um dos eixos centrais da cadeia de resposta, juntamente com os equipamentos de proteção individual e equipamentos de suporte”.

Isso sem contar que já sofremos uma falta de mão de obra especializada. “Há carência de profissionais de saúde capacitados para manejo de equipamentos de ventilação mecânica, fisioterapia respiratória e cuidados avançados de enfermagem direcionados para o manejo clínico de pacientes graves da Covid-19”, destaca o informe.

Não à toa, cerca de 5 milhões de profissionais de todo o país, que vão de médicos a nutricionistas, passando por educadores físicos e veterinários, terão de se cadastrar no Ministério da Saúde. Eles poderão ser convocados para atuar no controle da pandemia.

6) Leitos insuficientes

O relatório é taxativo: “Os leitos de UTI e de internação não estão devidamente estruturados e nem em número suficiente para a fase mais aguda da epidemia”.

Nesse cenário, os hospitais de campanha devem ganhar importância com o avançar da Covi-19 no nosso país.

7) Não são só os grupos de risco que preocupam

É inegável que as pessoas mais velhas e os portadores de certas doenças (hipertensão, diabetes, asma…) têm uma probabilidade maior de complicações e mortes. Ainda assim, gente mais jovem ou sem diagnóstico de enfermidades crônicas não deve andar por aí despreocupada.

“Com relação à idade, 85% dos casos de óbito por Cóvid-19 tinham 60 anos ou mais”, avisa o relatório. Isso significa que 15% das mortes ocorreram em pessoas abaixo dessa faixa etária. Se considerarmos o tamanho da população brasileira, esse número é preocupante.

O Ministério da Saúde informa, ainda, que 82% dos indivíduos que morreram em decorrência do novo coronavírus apresentavam algum fator de risco. De novo: 12% dos falecimentos aconteceram em brasileiros tidos como saudáveis.

8) Isolamento social é vital

Antes das medidas de isolamento social em São Paulo, o Ministério da Saúde estimava uma taxa de transmissibilidade de três a seis. Isso significa que cada infectado espalhava o Sars-CoV-2 para uma média de três a seis pessoas.

Depois da adoção dessa estratégia, o índice caiu para dois (até três vezes menor, portanto). Ao reduzir o ritmo de novos casos, ganhamos tempo para que as autoridades se preparem e comprem os insumos necessários, abram mais leitos e por aí vai. Isso reduz a mortalidade pela Covid-19.

“O Ministério da Saúde avalia que as estratégias de distanciamento social adotadas pelos estados e municípios contribuem para evitar o colapso dos sistemas locais de saúde, como observado em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Itália, Espanha, China […]. Essas medidas temporárias permitem aos gestores tempo relativo para estruturação dos serviços de atenção à saúde da população, com consequente proteção do Sistema Único de Saúde”, afirma o boletim.

De acordo com o relatório, as medidas de distanciamento social mais generalizadas devem ser mantidas até que todos os suprimentos necessários e as equipes de saúde estejam “disponíveis em quantitativo suficiente”.

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