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As particularidades do diabetes em mulheres

Características femininas favorecem o surgimento do tipo 2 dessa doença. Especialistas apontam uma preocupação especial na gestação

Por Fabiana Schiavon
8 set 2022, 14h44
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  • O diabetes em mulheres foi um dos temas debatidos durante o 35º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia, realizado esta semana em São Paulo (SP). Em uma das discussões do evento, médicas alertaram para a suscetibilidade do sexo feminino à doença e sobre a importância de planejar a gravidez adequadamente.

    Os pontos de atenção foram mais direcionados ao diabetes tipo 2, que é mais comum. “Estima-se que cerca de 60% da população brasileira com diabetes não sabe que tem a doença, porque não faz exames regulares”, calcula Cristina Façanha, diretora do Departamento de Diabetes Mellitus da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e médica no Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão do Ceará.

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    Enquanto o diabetes tipo 1 começa com um ataque das próprias células de defesa ao pâncreas, a fábrica de insulina, o tipo 2 é marcado pela resistência à insulina, o hormônio que coloca a glicose (nutriente vindo dos alimentos) para dentro das células. Em ambos os casos, a glicemia vai às alturas, o que provoca problemas pelo organismo.

    O que acontece com as mulheres?

    Uma metanálise (artigo que reúne dados de diferentes pesquisas) ressalta que a mulher tem mais resistência à insulina por algumas características de seu corpo. É uma equação que envolve, entre outras coisas, a menor porcentagem de massa muscular e a maior de gordura corporal, em comparação com os homens. E lembramos que a resistência à insulina deflagra o diabetes tipo 2.

    “Mas, claro, o risco da mulher muda conforme seu estilo de vida e outras características. Idade e a chegada da menopausa são algumas”, explica Lenita Zajdenverg, professora do Departamento de Nutrologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Sbem.

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    Aliás, um estudo que acompanhou mulheres por dez anos concluiu que a menopausa precoce (por volta dos 40 anos) aumenta o risco do diabetes tipo 2.

    Gravidez e diabetes

    Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) reuniu dados de 270 mulheres com diabetes em idade fértil. As cientistas descobriram que 18,9% não estavam usando método contraceptivo. Entre essas, só cerca de uma em cada cinco queriam realmente engravidar.

    O problema é que esse mesmo grupo estava com níveis de hemoglobina glicada (exame que traça uma espécie de histórico da glicose no organismo dos últimos 60 a 120 dias) de 9,6%, em média. O mais seguro é engravidar com o índice perto dos 6%. Acima de 9%, a gestação em geral é desaconselhada. Os dados são do mestrado da médica Caroline Reis Gerhardt e o trabalho ainda não foi publicado em periódicos científicos.

    O maior risco de manter uma gestação nesse estado é a má formação do feto. Além disso, a gravidez em si favorece o aumento da glicemia, inclusive em mulheres sem diabetes. O descontrole, portanto, pode agravar a saúde da futura mamãe.

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    + Leia também: O que é diabetes gestacional: sintomas, diagnóstico e tratamento

    Para mulheres com diabetes que desejam engravidar, médicos tendem a indicar o seguinte:

    Durante a gestação, a glicemia idealmente precisa estar abaixo de 92, mas médicos vão definir metas de forma individualizada, especialmente entre as mulheres que já possuem diabetes. “Nas que não tem a doença, dieta e exercícios costumam dar conta do recado, mas há casos em que é preciso usar insulina durante a gravidez. A falta de controle nesse período aumenta o risco de o filho desenvolver diabetes ao longo da vida, e de a própria mãe ter a doença no futuro”, diz Cristina. Cerca de 16% a 18% das mulheres que engravidam podem apresentar diabetes gestacional.

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    Já a mulher com diabetes que não deseja engravidar deve conhecer os melhores métodos anticoncepcionais para ela. “É preciso de uma avaliação completa antes de indicar a estratégia mais adequada, mas é importante ressaltar que a gestação não planejada oferece mais risco a essas mulheres do que o uso de qualquer anticoncepcional”, pontua Fabíola Satler, endocrinologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e membro da Sbem.

    + Leia também: Anticoncepcional em avaliação pela Anvisa reduziria risco de trombose

    A médica pontua, ainda, que há mais do que pílulas à disposição. Métodos como o DIU (dispositivos intrauterinos) e implante intradérmico contraceptivo ainda são pouco utilizados pelas mulheres em comparação a outros métodos, segundo Fabíola. “São os mais efetivos e seguros para mulheres com diabetes. O limitante desses métodos é a acessibilidade pelo SUS”, completa a médica.

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