A arte de sujar os sapatos… E aprender com a ciência
Edição de agosto de VEJA SAÚDE faz uma imersão na nova era de medicamentos para a obesidade — um trabalho de fôlego entre congressos, aulas e entrevistas
Eu era um jovem universitário quando deparei com a expressão. E ela me marcou. A ponto de me lembrar quando e onde a li pela primeira vez, no assento do ônibus que pegava diariamente para voltar da faculdade. “A Arte de Sujar os Sapatos.”
Era o título do posfácio escrito por um grande jornalista, Humberto Werneck — inspirado numa frase de outro grande jornalista, Ricardo Kotscho —, que encerrava o livro de mais um grande jornalista, Gay Talese. Qualquer estudante ou profissional de comunicação se encontrou ou vai se encontrar, ao menos em textos de jornais, revistas e sites, com um desses nomes. Todos eles expoentes dessa arte de sujar os sapatos, tão bem sintetizada na expressão e na prosa de Werneck.
Arte que nada mais é que o trabalho do jornalista de bater perna, investigar aqui e acolá, entrevistar Deus e o mundo olho no olho, testemunhar o acontecimento histórico quando ele nem história virou. Qualquer jornalista que se preze deveria, portanto, tentar cultivar essa arte. Ou seria uma ciência? Talvez um ofício?
Werneck falava, naquele posfácio, de um fenômeno que se intensificaria nas redações: o repórter sai cada vez menos às ruas, restringindo seu métier ao telefone e ao computador. Fato é que, com a internet e a revolução na indústria de mídia, com suas boas e más consequências, sujar os sapatos quase ganhou verniz de obra de arte, rara e bonita de ver a distância.
Mas ela resiste… Entre velhos e novos jornalistas, naqueles que têm sangue e vocação de repórter. Em homens e mulheres que cobrem Olimpíadas, buracos de rua e epidemias.
Não vou negar que o Google facilita demais a nossa vida, que entrevistas por e-mail quebram o galho e até áudios de WhatsApp salvam um fechamento. Porém, tem matéria que só ganha envergadura, conquista certa aura, vira, por que não, obra-prima quando o repórter suja o sapato, nem que seja no ambiente mais asséptico do mundo, como um centro de pesquisa.
E dou essa volta toda — neste caso, sem gastar minha sola — para chegar à reportagem de capa do mês, uma imersão na nova era de tratamento da obesidade.
Sua autora, a piauiense radicada em São Paulo Ingrid Luisa, andou para cima e para baixo em congressos médicos, pisou em universidades e perambulou até por laboratórios, conversando, ao vivo e em cores, com alguns dos maiores especialistas no assunto do Brasil, para escrever, correndo contra o tempo da gráfica, uma matéria aprofundada que traz o DNA desta revista: buscar e fazer a diferença na cobertura de saúde.
Valeu cada caloria queimada, cada palestra assistida, cada entrevista anotada, cada estudo lido, cada mancha no tênis… Que continuemos a seguir a arte e as pegadas dos mestres.
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Para apurar e escrever a reportagem de capa, Ingrid Luisa cobriu o Congresso Internacional de Obesidade, realizado em São Paulo, e viajou até Campinas para participar de uma preceptoria destinada a alunos de medicina na Unicamp.
Na ocasião, ela teve a oportunidade de assistir a aulas com alguns dos maiores experts em obesidade, acompanhar a rotina de laboratórios de pesquisa e entender melhor o tamanho do problema e as perspectivas que a ciência oferece. Sujou os sapatos.