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7 tratamentos desnecessários e como reconhecê-los

Entidade internacional lista estratégias médicas bastante usadas, mas que trazem poucos benefícios reais ou podem até prejudicar o paciente

Por Thiago Nepomuceno
Atualizado em 13 jul 2018, 17h59 - Publicado em 28 nov 2016, 16h12
 (Foto: Alex Silva/)
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O avanço da Medicina trouxe inúmeras opções terapêuticas para variados problemas. Mas nem sempre elas são proveitosas ou bem aplicadas. Tanto que, em 2012, a fundação American Board of Internal Medicine (ABIM), dos Estados Unidos, lançou a campanha Choosing Wisely (“escolhendo sabiamente”, em tradução livre). Conduzida por médicos de diversas áreas, ela tem como objetivo levar ao público informações que evitem exames, tratamentos e procedimentos desnecessários. A ideia é diminuir o uso de técnicas que, em certos quadros, não conferem benefícios para a saúde ou que chegam a trazer prejuízos. Em outubro de 2016, o Reino Unido abraçou a causa e lançou uma lista com as suas próprias recomendações. Separamos desse manual sete situações em que táticas amplamente prescritas por especialistas seriam dispensáveis. E, claro, conversamos com profissionais brasileiros para ponderar essas recomendações. Confira:

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1) Dor nas costas
Ela vai atingir cerca de 80% das pessoas em algum momento da vida. Mas, na maioria dos casos, não exige qualquer intervenção. Sim, o tempo é o melhor remédio para os quadros leves, segundo os levantamentos. Caso o desconforto não venha seguido de complicações sérias, ou não seja intenso a ponto de atrapalhar a rotina, também se deve evitar ao máximo a realização de exames de raio x, por exemplo. Isso porque provavelmente o teste não acusará nenhuma encrenca — e você estará expondo seu organismo a doses de radiação. Uma boa conversa com o profissional de saúde certamente ajudará a definir o caminho adequado para você.

Sinais de alerta

Na maioria das vezes, as dores vem de pequenas lesões que não preocupam tanto. Mas elas podem, sim, ser consequência de transtornos graves, a exemplo de câncer. Como então saber se o tormento na lombar não indica uma doença séria? Fique atento se ele é constante, crescente e não some mesmo depois de seis semanas. Desconfie também quando o incômodo vier acompanhado de deformidades, perda de peso, limitação persistente de movimento, déficit neurológico ou febre. Usuários de drogas ou de corticoides merecem uma investigação pormenorizada, assim como pessoas infectadas com HIV ou com histórico de tumores malignos. Na dúvida, fale com seu médico de confiança.

2) Cortes e arranhões
Estudos demonstram que a água potável da torneira, desde que seja de boa qualidade, é tão efetiva para lavar e limpar esses machucados quanto as soluções salinas compradas em farmácias. Essa higienização obviamente não dispensa o uso de curativos.

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3) Menopausa
Depois dos 45 anos, geralmente não é mandatório fazer um exame de sangue para detectar a entrada nessa fase. Aí basta confiar em sinais clínicos, como ondas de calor, suores e ausência de menstruação, para tomar eventuais medidas. O fundamental é não recorrer a quaisquer remédios para aliviar esses sintomas sem o aval de um especialista.

4) Quimioterapia paliativa
Segundo os especialistas da Choosing Wisely do Reino Unido, o uso dos quimioterápicos em um estágio avançado do câncer acarreta mais prejuízos do que benefícios. Isso porque a medida dificilmente gerará uma resposta positiva significativa se outras químios ou terapias já falharam. Eles lembram que esse tratamento é tóxico, o que abalaria o bem-estar e prejudicaria o funcionamento do corpo nos últimos dias de vida — sem contar que criaria falsas expectativas.

Mas esse ponto de vista é controverso. Segundo Carolina Fittipaldi Pessôa, médica do Serviço de Oncologia Clínica do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a quimioterapia paliativa pode sim, oferecer maior qualidade e até tempo de vida. “Pacientes com diagnóstico de câncer que apresentem condições adequadas para receber esse tratamento podem ganhar sobrevida, um maior controle da doença e uma diminuição dos sintomas”, rebate. A especialista defende que alguns tumores continuam a responder a outros tipos de intervenções mesmo se a primeira linha de terapia não foi bem sucedida. A recomendação, então, consiste em estabelecer um diálogo franco para que o oncologista possa avaliar o paciente individualmente e, baseado em seu conhecimento técnico, oferecer o melhor tratamento. “Isso, sim, evita a adoção de medidas fúteis que apenas prolongam o sofrimento”, afirma.

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5) Bronquiolite

Ela é uma infecção com inchaço e acúmulo de muco nos bronquíolos, estrutura dos pulmões, ocasionada por algum vírus. E é bastante comum, afetando principalmente bebês com menos de 2 anos. A questão é que essa condição quase nunca precisa de tratamento medicamentoso, até porque não existem drogas que combatem a encrenca em si e o próprio organismo do pequeno consegue enfrentar o agente infeccioso. Mas atenção: isso não significa que a enfermidade dispensa o olhar de um médico. “O especialista vai avaliar o curso da doença para tratar os sintomas e verificar se a bronquiolite não pode evoluir para algo mais grave, apesar de raramente isso acontecer”, comenta a pneumologista Beatriz Barbisan, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ela explica que, atualmente, o preconizado é evitar ao máximo os exames de raio x, que expõem a criança à radiação e eventualmente confundem o diagnóstico do médico.

6) Fraturas nas mãos e nos pés

Acredite se quiser, elas raramente necessitam de gesso. Para impedir a movimentação desses membros, talas e imobilizadores já dão conta do recado. “Mas, nas mãos, comumente necessita-se de cirurgia para tratar o problema”, comenta o ortopedista Fernando Baldy dos Reis, chefe da Disciplina de Traumatologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp. O mais importante é entender que cada fratura oferece suas particularidades. Elas começam pelo osso afetado e terminam na extensão — o comprometimento de ligamentos também exige uma análise criteriosa. Daí porque passar no médico antes de já sair enfaixando a região machucada.

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7) Câncer de próstata

Homens sem histórico familiar ou algum fator de risco para a doença, de acordo com o documento da Choosing Wisely, não devem fazer exames de PSA como rotina para detectá-la. Esse teste de sangue flagra a concentração de uma proteína — a tal PSA —, que costuma ser produzida em larga escala quando um tumor surge na próstata. A questão é que essa avaliação apresenta algumas falhas, entre elas a de acusar um número relativamente alto de falsos positivos (quando o exame diz que há uma doença, mas, na verdade, ela não existe). “Se o rastreamento acha alguma anormalidade, mesmo que erroneamente, realiza-se um ultrassom e uma biópsia”, afirma Arn Migowski, sanitarista e epidemiologista da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede de Atenção Oncológica, do Inca. “E isso pode causar complicações, como dor persistente, hemorragia e infecção. Fora o estresse de um resultado alterado”, completa.

Leia também: Quando fazer um exame para detectar câncer de próstata?

O PSA ainda enfrenta outro problema: a maioria dos idosos desenvolve um tipo de câncer de próstata que evolui muito lentamente. Em outras palavras, não raro os homens sequer manifestam complicações em vida. Porém, se o rastreamento diagnostica um nódulo, talvez o indivíduo se submeta a um tratamento desnecessário. Nesse sentido, órgãos americanos afirmam que o rastreamento com exame de PSA para tumores de próstata não reduziu a mortalidade da doença entre a população. Migowski sugere que tais avaliações sejam feitas quando surgem sintomas ou o médico identifica um indício suspeito. E julga necessária uma conversa franca entre paciente e médico para avaliar os perigos e a real necessidade de exames preventivos.

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