1. Um superexército no seu corpo
(Apenas no futuro)
Entre os mais de 5 800 estudos apresentados na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), ganharam destaque os experimentos focados nas CAR T Cells. “É talvez a novidade mais importante deste ano”, conta o médico Sérgio Simon, diretor do Centro Paulista de Oncologia. Por meio desse tratamento, células de defesa do paciente recebem, no laboratório, um receptor específico para se ligarem depois ao câncer. “As CAR T Cells reconhecem tumores que antes passavam despercebidos pelo sistema imune”, esclareceu em palestra o hematologista David Porter, da Universidade da Pensilvânia (EUA).
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Em tese, daria pra adicionar receptores nas nossas tropas celulares segundo traços de cada inimigo – o que abre portas para testar o procedimento em inúmeros tipos da doença. Mais: esse batalhão de elite se replica dentro do corpo, o que traria proteção prolongada. Em trabalhos com leucemia aguda resistente à terapia tradicional, chegou-se a observar uma resposta completa em 94% dos casos. Mas ainda é necessário muito esforço para, acima de tudo, minimizar seus efeitos colaterais, um tanto penosos.
2. Golpe duplo em um câncer infantil
(Disponível no Brasil)
Para enfrentar o neuroblastoma de alto risco, que afeta células nervosas fora da cabeça, recorre-se ao transplante autólogo – ele consiste em extrair a medula óssea da criança, dar uma químio potente e reinjetar a mesmíssima medula. “É um jeito de sermos agressivos sem destruí-la”, diz Neysimélia Villela, oncopediatra do Hospital de Câncer de Barretos, no interior paulista. Pois o Grupo de Oncologia Infantil dos EUA avaliou um transplante autólogo duplo, ou seja, a técnica foi repetida semanas depois. Aí, 61% dos pequenos ficaram sem complicações em três anos, ante 48% do grupo do método padrão. Isso sem mais reações adversas.
3. Terapia de choque
(Apenas fora do país)
Alguns pacientes americanos já passam horas por dia com eletrodos na cabeça que criam um campo elétrico capaz de frear o glioblastoma, o tumor cerebral mais perigoso. O aparelho (da Novocure) fez subir de 29 para 43% a sobrevivência após dois anos. “O resultado impressiona, porém o tratamento é caríssimo”, pondera Roberto Abramoff, oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
4. Enfim, uma boa nova para a bexiga
(Apenas fora do país)
Desde a década de 1970, tratava-se o tumor de bexiga do mesmo jeito: com químio. Mas o cenário vem mudando com o atezolizumabe, um remédio da Roche que faz o sistema imunológico identificar a doença e atacá-la. Numa pesquisa da Universidade de Nova York (EUA), ele aumentou significativamente a sobrevida dos pacientes. “E é mais bem tolerado do que quimioterápicos”, garante Arjun Balar, autor do trabalho.
5. Um freio no mieloma múltiplo
(Apenas fora do país)
Ainda sem chance de cura, esse câncer da medula óssea ao menos vem sendo contido com fármacos inovadores. Um dos mais comentados no encontro da Asco foi o daratumumabe, da Janssen. “Ele mira uma molécula presente na maioria dos mielomas múltiplos, a CD-38”, diz Vania Hungria, hematologista da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Seu uso baixou o risco de progressão em 70%.
6. Feitiço contra o feiticeiro
(Apenas fora do país)
Uma célula normal se converte para o lado negro da Força a partir de mutações no seu DNA. E essa transformação tende a se desenvolver só quando uma parcela das moléculas que reparam estragos no código genético para de funcionar. Mas o curioso é que, graças a isso, o câncer passa a depender (muito!) de uns poucos mecanismos de reparo do genoma para simplesmente não implodir.
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Daí veio a sacada: que tal criar uma medicação com a capacidade de inibir uma dessas vias e, assim, fazer o DNA do adversário se desfazer por completo? Pois esse comprimido já foi desenvolvido e aprovado nos Estados Unidos e na Europa para combater tumores de ovário – é o olaparibe, da AstraZeneca. “Temos mulheres que estão se beneficiando dessa terapia há mais de cinco anos, o que é um ganho enorme para um tipo agressivo e carente de terapias”, diz o oncologista Charlie Gourley, da escocesa Universidade de Edimburgo. A animação é tanta que a droga vem sendo avaliada em mama, próstata, pâncreas… E outras com ação parecida estão pipocando no mercado.
7. Quimioterapia repaginada
(Disponível no Brasil)
Ela existe desde a primeira metade do século 20 e nem por isso parou no tempo. No congresso da Asco, novas substâncias, combinações e formas de aplicação foram abordadas, ilustrando como uma velha tática pode render frutos. Um levantamento canadense mostra que a químio intraperitoneal – injetada na barriga – em união com a versão tradicional (intravenosa) reduziu de 42 para 23% a quantidade de pacientes que viram seu tumor de ovário seguir em progressão por nove meses.
8. Alvo certo em tumores gástricos
(Apenas no futuro)
Esse tipo é o quinto mais comum – e temos poucas opções para vencer os casos resistentes. Eis que surge o IMAB362, princípio ativo da farmacêutica Ganymed, que mira a proteína claudin18.2. “Como ela é abundante em cânceres gástricos, estimo que metade das pessoas em estágio avançado é candidata ao tratamento”, calcula o oncologista Salah Al-Batran, do Nordwest Hospital, na Alemanha. Nos testes, a sobrevida de alguns pacientes subiu de 8 para 13 meses com a adição do IMAB362.
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9. Raro, porém não mais negligenciado
(Disponível no Brasil)
“Até pouco tempo, mediamos a sobrevida de gente com GIST disseminado, um tipo raro de tumor gastrointestinal, em meses”, lembra-se Rui Weschenfelder, oncologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. “Hoje, não é difícil vê-los vivendo cinco anos”, diz. A mudança se deve à terapia-alvo, classe de remédios precisos que foi inaugurada, nesse tipo da doença, com o imatinibe, da Novartis. Depois chegou o sunitinibe (Pfizer) e, agora no Brasil, o regorafenibe (Bayer), outro destaque na Asco.
10. Revolução pelo pâncreas
(Disponível no Brasil)
Um exemplo de como ajustes na químio fazem uma baita diferença vem do Grupo Europeu de Estudos sobre Câncer Pancreático. Em um experimento com participantes submetidos à cirurgia para remoção desse tumor – o terceiro mais letal -, 107 seguiram a estratégia padrão de receber gencitabina, da Eli Lilly, para aniquilar unidades maléficas remanescentes. Já outros 109 também tomaram a capecitabina, um quimioterápico de uso oral da Roche. Após cinco anos, 16% da primeira turma não morreu, enquanto 29% da segunda seguiu viva. É um número baixo, só que quase duas vezes maior que o anterior. “A descoberta é valiosa, porque mostra como a combinação de agentes citotóxicos dá uma chance maior de sobrevivência sem acrescentar reações colaterais”, conclui John Neoptolemos, um dos responsáveis pela investigação.
11. Cavalo de Troia anticâncer
(Apenas no futuro)
Diz a lenda que, após anos protegendo as muralhas de sua cidade, os troianos viram os gregos recuarem, deixando para trás somente um enorme cavalo de madeira – a oferenda foi vista como sinal de trégua. Ao levarem-no para o interior de seus muros, foram surpreendidos com inimigos saindo desse “presente de grego”, o que culminou na derrota de Troia. Guardadas as devidas proporções, é essa a lógica do Rova-T, fármaco criado pela Stemcentrx. “Ele se ancora em uma molécula do tumor chamada DLL3 e, então, libera um veneno potente”, ensina o oncologista Antonio Carlos Buzaid, chefe do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes, na capital paulista. A promessa possibilita dar uma pancada no alvo sem afetar o resto do corpo. Em dados preliminares, ela brecou o crescimento de um tipo de câncer de pulmão com alta expressão de DLL3 em 89% dos casos.
12. Um aplicativo tão eficaz quanto remédios de última geração
(Apenas no futuro)
Qualquer tática que suba o índice de sobrevivência de 49 para 75% em um ano entre vítimas de câncer de pulmão avançado seria pra lá de comemorada. É esse o poder de um app online, ainda em desenvolvimento, que chamou atenção em meio a tantos medicamentos na reunião da Asco. Não tem segredo: ele pede para o sujeito reportar semanalmente a intensidade de 12 sintomas e, sozinho, identifica alterações suspeitas no quadro, avisando um profissional. “Introduzimos uma era na qual o paciente dá um feedback contínuo”, diz Fabrice Denis, médico envolvido no projeto, do Instituto Interregional de Cancerologia, na França. O oncologista Stephen Stefani, do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, dá outra boa notícia: “Estamos trabalhando num programa similar que deve estar disponível ano que vem por aqui”.
13. Exame simples e mais preciso para a próstata
(Apenas no futuro)
O câncer que se instala nessa glândula faz aumentar a produção de uma proteína, o PSA. Desse achado surgiu um teste sanguíneo capaz de flagrá-la e que ganhou o mundo na década de 1990. Contudo, o tempo mostrou que, isolado, esse método não pega uma parcela considerável de tumores agressivos e, na contramão, capta em excesso os indolentes, que podem dispensar tratamento. Tanto que, até hoje, nenhum estudo ligou o rastreamento populacional com PSA a uma menor mortalidade. “Gastar recursos com um exame que acaba submetendo alguns homens a procedimentos com efeitos colaterais sem aumentar a chance de cura é algo questionável”, afirmou em uma aula o epidemiologista Henrik Grönberg, do Instituto Karolinska, na Suécia. O médico anunciou os resultados de uma pesquisa com um novo teste feito por sua equipe, o Stockholm-3, que usa vários marcadores tumorais e variáveis clínicas. “Ele é mais barato e eficaz que o PSA. E estará disponível em Estocolmo a partir de setembro”, revela.
14. Para além da localização
(Disponível no Brasil)
O pembrolizumabe, princípio ativo da MSD, destacou-se em 2016 por, entre outras coisas, trazer bons resultados diante de tumores de pulmão. Mas as melhores respostas foram vistas em gente cuja doença tinha alta taxa da proteína PD-1 – na ausência dela, o poder da droga era similar à químio. Ou seja, a escolha da terapia certa depende cada vez mais de traços moleculares do tumor e menos do local.
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15. Biópsia sem corte
(Disponível no Brasil)
Para vislumbrar o perfil molecular de um câncer, é preciso tirar um pedaço dele, o que pode ser uma baita chateação em quem se submete à técnica repetidas vezes para saber a evolução do quadro. Daí porque cientistas da Universidade da Califórnia (EUA) compararam biópsias normais a outras feitas com simples amostras de sangue. “A acurácia foi parecida. Isso põe a biópsia líquida como opção de acompanhamento”, diz Philip Mack, autor da experiência.
16. A era das combinações
(Disponível no Brasil)
Homenageado por suas contribuições na oncologia, Paul Bunn, da Universidade do Colorado (EUA), fez uma ressalva em seu discurso: “Um remédio sozinho dificilmente vai curar um câncer”. Não à toa, ganham força as alianças farmacológicas. Exemplo: juntos, nivolumabe e ipilimumabe (da Bristol), acarretam uma resposta duas vezes maior para um tumor de pulmão do que o uso isolado do primeiro.
17. Mais tempo para a hormonioterapia
(Disponível no Brasil)
É comum mulheres tomarem pílulas que bloqueiam a ação de hormônios femininos por cinco anos após o câncer de mama ter sumido dos radares. Mas um estudo da Universidade Harvard (EUA) indica que ampliar o tempo para uma década derruba em mais 34% o risco de recorrência. “Ele reforça um protocolo já adotado em mulheres de alto risco. Contudo, reações adversas, como secura vaginal, precisam ser debatidas”, diz Buzaid.
18. Abaixo a resistência
(Apenas fora do país)
Certos tumores de mama conseguem driblar os efeitos da hormonioterapia. A ciência não se contentou com isso e elaborou o palbociclibe (Pfizer), que, além de abalar a divisão celular das células cancerosas, atua em seus receptores de estrogênio, contribuindo para que não se tornem resistentes. Em uma pesquisa, a união dessa molécula com um anti-hormônio aumentou o tempo de vida sem reincidência do mal. E ela é bem pouco tóxica.
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19. Menos cortes, mesma eficácia
(Disponível no Brasil)
Aquelas cirurgias radicais e mutiladoras estão virando história. Quer prova? Uma investigação de entidades americanas com 891 voluntárias demonstrou que uma operação contra nódulos de mama que preserva mais a região das axilas não culmina em maior risco de recidiva após dez anos. “A vantagem é que ela minimiza limitações de movimento do braço”, informa Simon.
20. Quem tem que sofrer é o câncer
(Disponível no Brasil)
Tolerar o tratamento é o primeiro passo para seguir com ele pelo período necessário. É com base nessa lógica que a contenção das reações indesejadas sempre tem espaço nos encontros da Asco. Um trabalho da Universidade da Califórnia, por exemplo, revela que o simples gargarejo com um tipo de corticoide previne feridas na boca causadas por alguns medicamentos.
21. Coração resguardado
(Disponível no Brasil)
Sabe-se há tempos que a químio agride o músculo cardíaco. E mesmo as classes modernas das drogas resultam nesse efeito adverso. “Umas elevam o risco de fibrilação atrial, outras de pressão alta”, exemplificou numa aula Javid Moslehi, cardio-oncologista da Universidade Vanderbilt (EUA). O bacana é que, segundo ele, conter tais problemas cedo não os deixa virarem crônicos.
22. Opção acessível
(Apenas fora do país)
As drogas biológicas são tão revolucionárias quanto caras. É aí que entram os biossimilares. “Eles têm ação parecida com as originais e são mais baratas”, resume Simon. Em estudo da Universidade da Califórnia, o MYL-1401O (da Mylan), biossimilar do trastuzumabe (Roche), exibiu eficácia igual em voluntárias com um tumor de mama. “Achados assim são vitais para dar segurança na hora da prescrição”, conta a hematologista Hope Rugo, que conduziu o teste.
23. Juntos, vamos superar o câncer
(Apenas no futuro)
Para vencer o câncer, precisamos de mais abertura. Mais abertura de informações científicas. Mais abertura para colaborações. E, acima de tudo, mais abertura de mentes
Joe Biden, vice-presidente dos EUA
Um dos pontos altos da reunião da Asco foi o discurso de Joe Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, que perdeu um filho por causa de um tumor cerebral. “O desconhecido é ameaçador. Eu e minha família fizemos de tudo para aprender mais sobre a enfermidade contra a qual meu filho lutava. Acreditamos nos melhores doutores para explicar o desconhecido para a gente. […] Aí notei que ninguém acharia uma resposta sozinho”, proferiu. Biden coordena um projeto bilionário que, entre outras coisas, pretende erradicar o câncer apostando no compartilhamento total de informações científicas a respeito dessa doença. Segundo ele, pesquisadores, universidades e empresas têm que disponibilizar todos os dados de suas descobertas para não perdermos tempo com estudos redundantes ou que trazem pouco benefício real. É um desafio sem precedentes – até porque mexe com interesses comerciais enormes. Mas o fato de ser encarado pelo governo americano é um bom sinal. “Imaginem se todos trabalhássemos juntos. Imaginem!”
*O editor Theo Ruprecht viajou ao congresso a convite de Pfizer