A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) aprovou a inclusão de mais uma opção contra a meningite no Programa Nacional de Imunizações (PNI). É a vacina meningocócica ACWY, que será voltada especificamente para adolescentes de 11 a 12 anos no sistema público.
Anteriormente, o imunizante estava disponível apenas na rede privada. Em 2019, o Ministério da Saúde comprou algumas doses e passou a oferecê-las aos jovens a partir de março de 2020 em todo o Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como uma espécie de teste.
Agora ela foi incorporada de maneira permanente ao Calendário Nacional de Vacinação para a turma de 11 a 12 anos. Além deles, portadores de um problema de saúde genético e raro, a hemoglobinúria paroxística noturna (HPN), têm acesso a essa vacina.
O pediatra Marco Aurélio Sáfadi, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que essa opção combate a meningite provocada por quatro tipos de meningococo: A, C W e Y. Daí seu nome, aliás.
“Hoje circulam 12 diferentes tipos dessa bactéria. Cinco são responsáveis por praticamente todos os casos da doença no mundo. Entre eles, quatro estão contemplados nesse imunizante”, complementa Sáfadi.
Como vai funcionar a vacinação contra a meningite meningocócica
Desde 2010, o Brasil oferece um imunizante contra a meningite meningocócica no PNI. Mas ele abrange apenas o sorotipo C, o mais comum no país, respondendo por 80% dos diagnósticos.
Essa vacina é aplicada aos 3 meses de vida e mais uma vez aos 5 meses. Depois vem outras duas doses de reforço: uma entre 12 e 15 meses de idade e outra aos 5 ou 6 anos.
“Isso propiciou uma redução substancial da enfermidade no nosso país, principalmente em um grupo etário com o maior número de infecções e complicações”, informa Sáfadi
Desde 2017, a vacina contra o sorotipo C também é dada aos jovens de 11 e 12 anos. Segundo o membro da SBIm, isso ajuda a proteger os adolescentes, que também correm risco de complicações pela meningite. Mas há um segundo motivo por trás dessa dose de reforço. “Os jovens são responsáveis por boa parte da transmissão dos meningococos na comunidade”, afirma o pediatra. Ao alcançar uma boa cobertura vacinal nessa faixa etária, será possível controlar a disseminação do problema.
A nova vacina disponibilizada no SUS muda justamente o protocolo de atendimento entre os adolescentes. Em vez de tomarem a dose de reforço que protege apenas contra o tipo C, agora eles recebem uma versão que os blinda frente aos sorotipos A, C, W e Y.
Apesar do meningococo C ser o mais comum no Brasil como um todo, cada local possui suas particularidades. “Em Santa Catarina, o W está por trás do maior número de diagnósticos desde 2017”, exemplifica Sáfadi. “Com essa inclusão, o Brasil se coloca no mesmo patamar dos melhores programas de imunização contra a meningite meningocócica do mundo”, comemora.
A meningite é uma inflamação das membranas que revestem o cérebro (as meninges). Ela pode ser provocada por vírus, bactérias e fungos. A versão bacteriana é grave, imprevisível e leva um em cada cinco infectados no Brasil à morte. “Uma parcela significativa dos sobreviventes vive com sequelas visuais, auditivas e neurológicas”, avisa Sáfadi. Fora isso, eles podem sofrer com amputação de membros.
Os meningococos estão entre os grandes responsáveis pelas meningites bacterianas, mas não são os únicos. Os pneumococos e as bactérias Haemophilus influenzae (que também causam pneumonia) e o bacilo de Koch (por trás da tuberculose) também tem potencial para atacar nossas meninges. A boa notícia é que há vacinas contra esses micro-organismos na rede pública.