Há menos de duas décadas atrás, as taxas de sucesso da fertilização in vitro ficavam na casa dos 30%. Ou seja, somente uma a cada três tentativas de fecundar um óvulo com um espermatozoide no laboratório e, então, introduzi-lo no útero dava certo. Eis que, durante o Congresso da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva deste ano, os especialistas já falavam em 80% de chance de o procedimento funcionar. “Estamos orgulhosos do progresso nos índices de nascimentos. Eles são uma medida real dos avanços na área”, afirmou Bradley Van Voorhis, presidente da Sociedade Americana de Tecnologia para a Reprodução Assistida, em um comunicado à imprensa.
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A melhora de fato é inegável, mas o médico Marcio Coslovsky, da Primordia Medicina Reprodutiva, no Rio de Janeiro, pede cautela com números tão elevados. “Na verdade, as boas clínicas brasileiras trabalham com uma taxa de 40 a 45%. E as melhores atingem 51%”, estima. Isso porque as tecnologias mais modernas não devem ser aplicadas em todos os casais por uma questão de custo e acesso ao tratamento — elas são destinadas a quem apresenta problemas significativos para engravidar, por exemplo.
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Ainda assim, mesmo os cálculos menos otimistas demonstram uma evolução enorme. “E isso se deve a vários fatores”, diz Coslovsky. Um deles é o melhor preparo dos profissionais — que não se limitam ao médico. Atualmente, os embriologistas e os enfermeiros também sabem lidar melhor com os pacientes e com as técnicas disponíveis para fazer a fertilização em laboratório. Esse local, aliás, mudou bastante. A possibilidade de congelar adequadamente o embrião para implantá-lo na hora em que o útero está mais preparado é só um dos vários casos que ilustram essa nova realidade. Não duvide: os equipamentos e a educação dos profissionais são cruciais para atingir um alto patamar de sucesso. Daí porque procurar clínicas referendadas.
Um trabalho apresentado naquele congresso americano mostrou que o índice de nascimentos variava de 51 a 66% — usando as tecnologias mais inovadoras — dependendo do médico que atendia o casal.
Fora isso, dois procedimentos devem ser destacados: a análise da receptividade endometrial e a biópsia embrionária (ou diagnóstico genético do embrião). O primeiro consiste em extrair material do endométrio para verificar, via um teste genético, quando ele estará mais apto para receber o futuro bebê. Em geral, mesmo sem essa avaliação os experts têm uma boa ideia disso baseados em um calendário padronizado. A questão é que nem toda mulher respeita essa agenda. “A técnica individualiza o tratamento de acordo com eventuais particularidades”, resume Coslovsky.
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Já a biópsia embrionária nada mais é do que um exame genético feito com os embriões criados a partir da fecundação em laboratório. Com essa informação, os especialistas sabem quais estão mais aptos para evoluírem — o que facilita a escolha de qual implantar na barriga da mãe. Como um anexo, essa estratégia também pode detectar eventuais falhas no DNA que predisporiam a doenças ou síndromes genéticas. De novo, estamos falando de uma individualização nunca vista antes na área.
Aliás, são essas técnicas que, quando empregadas em conjunto e dentro de um laboratório high tech com profissionais de alto gabarito, garantem aqueles 80% de chance de a fertilização in vitro dar certo. Mas de novo: lançar mão de tudo isso é muito oneroso. “Hoje em dia, recorremos a essa tática em pacientes com falhas sucessivas de implantação e um diagnóstico fechado de dificuldade para engravidar”, informa Coslovsky. Entretanto, é provável que os custos caiam com o tempo, ampliando o acesso dessas soluções para mais gente.
Agora, não devemos medir o sucesso da reprodução assistida apenas pela porcentagem de nascimentos. Nos últimos anos, a quantidade de gestações múltiplas (quando nascem gêmeos, ou trigêmeos, ou…) caiu consideravelmente. Por quê? Os avanços permitiram implantar menos embriões no útero sem derrubar a chance de ao menos um vingar. Se no passado até 50% das fertilizações in vitro bem sucedidas terminavam em ao menos dois bebês, atualmente esse número caiu para menos de 30%. “O nascimento de um único filho é o ideal. O de gêmeos é aceitável. Mas, acima disso, já não ficamos satisfeitos”, contextualiza Coslovsky.