Crianças com asma não têm risco maior de desenvolver Covid-19
Bom controle da asma e uso de corticoides nas crises e menor expressão de proteína que favorece o ataque do coronavírus estariam por trás da descoberta
Logo no surgimento dos primeiros casos de infecção pelo coronavírus, no início de 2020, uma das principais preocupações dos pediatras era saber como ele se comportaria com as crianças asmáticas. A preocupação se justificava: a asma é a doença pulmonar crônica mais comum na faixa etária pediátrica e as crianças, em geral, são bastante afetadas pelos impactos das doenças respiratórias. Como o Sars-CoV-2 ataca justamente os pulmões, a comunidade científica decidiu pesquisar se essas crianças apresentavam maior risco para a Covid-19.
A boa notícia é que não. Um amplo estudo publicado no periódico científico Pediatrics fez uma revisão retrospectiva dos dados de saúde de 46 900 crianças entre 5 e 17 anos nos Estados Unidos, e concluiu que a proporção de pequenos com asma que desenvolve a Covid-19 era semelhante à proporção dos sem asma. Os dados são referentes ao período de 1 de março de 2020 a 30 de setembro de 2021 e se referem ao período em que a variante Delta era predominante – a Ômicron foi identificada após esse período.
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Segundo os pesquisadores, do total de registros analisados, 12 648 crianças foram testadas pelo menos uma vez para o coronavírus e 706 (5,6%) testaram positivo, sendo 350 (2,8%) com asma e 356 (2,8%) sem a doença. Apenas uma criança com asma precisou de hospitalização para tratar a doença.
“O resultado desse trabalho é importante e bastante robusto. O que vimos durante a pandemia foi que o acometimento das crianças pela Covid-19, embora importante, teve uma incidência baixa em comparação com adultos e idosos. Há outros trabalhos que mostram que os asmáticos adultos tiveram mais complicações pela infecção e maior índice de mortalidade. Como em crianças a quantidade de casos era menor, os pesquisadores demoraram mais para ter um número suficiente para chegarem a essa conclusão”, afirmou o pediatra Celso Terra, que também é médico intensivista do Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Israelita Albert Einstein.
Entre as hipóteses apontadas pelos pesquisadores para esse achado envolvendo as crianças asmáticas estão o uso dos corticoides inalatórios – que reduziriam a inflamação que a doença provoca nos pulmões e também diminuiriam a replicação viral. “Quando estão em uma crise aguda, os asmáticos usam corticoide, que é um poderoso anti-inflamatório. Na alta incidência dos casos de Covid no Brasil e no mundo, um dos tratamentos para os pacientes foi o uso de corticoides”, lembrou Terra.
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A segunda hipótese apontada pelos pesquisadores é que as crianças com asma teriam menor expressão da proteína ACE-2, que está associada ao início do processo inflamatório dentro do organismo pelo Sars-CoV-2. “Na teoria, o vírus teria menos condições de atacar esse organismo”, explicou o pediatra.
Para Terra, os resultados desse estudo reforçam que as medidas universais de prevenção foram e continuam sendo fundamentais para o controle da pandemia: uso de máscaras, higienização das mãos e a vacinação. E que o controle adequado das doenças crônicas também é essencial para evitar complicações.
“Esse trabalho nos mostrou que a Covid-19 não atinge as crianças com quadros pulmonares da forma como imaginávamos no começo da pandemia. Mas indicou também que, quanto mais bem cuidada e mais bem controlada estiver a asma dessas crianças, mais protegidas elas ficam”, finalizou Terra.
*Este conteúdo foi produzido pela Agência Einstein