As alterações no clima já dão as caras por aí — e isso não é nada bom.
É o que adverte um relatório do reputado periódico The Lancet. Além de prejuízos constatados nos últimos anos, o documento revela estimativas de danos irreversíveis se ações não forem tomadas de imediato.
“Nosso balanço sobre a saúde revela que os riscos crescentes das mudanças climáticas estão custando, hoje, vidas e meios de subsistência em todo o mundo. As projeções de um mundo 2°C mais quente revelam um futuro perigoso e são um lembrete de que o ritmo e a escala dos esforços de mitigação vistos até agora têm sido lamentavelmente inadequados para proteger a saúde e a segurança das pessoas”, diz Marina Romanello, diretora-executiva da Lancet Countdown na University College de Londres, em comunicado.
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O estudo aponta que mudanças climáticas custam vidas e meios de subsistência. Eventos extremos comprometem a segurança hídrica e a produção de comida, levando ao aumento da insegurança alimentar.
Os especialistas alertam que a redução das emissões de dióxido de carbono não acontece com rapidez suficiente para manter os riscos climáticos dentro dos níveis com os quais os sistemas de saúde são capazes de lidar.
“Há um enorme custo humano gerado pela inação, e não podemos arcar com esse nível de falta de comprometimento: estamos pagando com vidas humanas. Cada instante que nós postergamos torna o caminho para um futuro habitável mais difícil e a adaptação cada vez mais cara e desafiadora”, acrescenta Marina.
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Saúde em risco
O ano de 2023 bateu recordes de calor em todo o planeta. Ondas de temperaturas extremas foram sentidas especialmente no segundo semestre.
O relatório da Lancet aponta que as pessoas enfrentaram, em média, 86 dias de altas temperaturas que ameaçam a vida entre os anos de 2018 e 2022. Um reflexo notável dos efeitos das mudanças climáticas provocadas pela ação humana.
O alerta é ainda mais relevante para os idosos. As mortes relacionadas ao calor em pessoas com mais de 65 anos aumentaram 85% no período de 2013 a 2022 em comparação com a avaliação feita de 1991 a 2000.
Os pesquisadores enfatizam ainda que o aumento da frequência e intensidade dos eventos climáticos intensos compromete a segurança hídrica e a produção de alimentos, colocando milhões em risco de desnutrição.
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As ondas de calor e as secas mais frequentes foram responsáveis por 127 milhões a mais de pessoas passando por insegurança alimentar moderada a grave em 122 países em 2021, comparado com o valor anual entre 1981 e 2010.
Da mesma forma, a mudança nos padrões climáticos está acelerando a propagação de doenças infecciosas que causam risco à vida.
“O Brasil tem uma contribuição singular para o tema. Somando perspectivas de obtenção de créditos de carbono com o trabalho do SUS, podemos ser pioneiros em uma pegada efetivamente ‘One Health’, ou seja, estabelecer uma rota virtuosa e saudável de coexistências não agressivas”, afirma a médica Lígia Bahia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).