Agrotóxicos são detectados até em lagos isolados e fórmulas infantis
Estudos brasileiros detectam pesticidas em áreas naturais protegidas e produtos substitutos do leite materno

Uma investigação conduzida por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) encontrou 17 defensivos agrícolas em lagos e turfas nos parques nacionais do Itatiaia e da Serra dos Órgãos, em território fluminense.
“O que chama a atenção é que essas áreas estão a mais de 2 mil metros de altitude, muito distantes de onde essas substâncias são usadas”, diz o biólogo Claudio Parente, principal autor do trabalho, publicado no periódico Environmental Pollution.
A hipótese (não averiguada pelo estudo) é que os compostos tenham chegado lá por dispersão atmosférica na sua forma gasosa e, uma vez em um local mais frio e alto, sejam condensados e depositados no solo.
“E todos eles se mantinham ativos, ou seja, com seus efeitos herbicidas e inseticidas”, nota. Trata-se de uma ameaça a regiões de biodiversidade única, com espécies não encontradas fora dali e que deveriam ser blindadas de perigos do tipo.
Substâncias mais encontradas
Clorpirifós: Flagrado em maior concentração. Seus níveis passaram a aumentar depois que foi banido na Europa e nos Estados Unidos, tendência vista em outras pesquisas do grupo carioca.
Carbendazim: Presente em 90% dos locais. Era um dos mais usados no país, mas foi proibido pela Anvisa em 2022 por riscos à saúde humana. Foi encontrado em sedimentos do solo, então poderia estar lá há bastante tempo.
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Estudo detecta pesticidas em fórmulas lácteas

Em seu doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pesquisadora Marcella Vitória Galindo analisou a presença dessas substâncias potencialmente tóxicas em 30 amostras de fórmulas lácteas vendidas no Brasil.
Alguns dos produtos substitutos do leite materno continham o mesmo clorpirifós encontrado nos lagos fluminenses. E o mais preocupante: 10% das amostras avaliadas escondiam carbofurano, agrotóxico proibido no país desde 2017.
A explicação para isso é a mesma do trabalho da UFRJ: esses pesticidas podem ficar acumulados (e causando estragos) no ambiente anos e anos depois de deixarem de ser empregados.