Agora em novembro completam-se três anos dos primeiros casos de Covid-19, lá na China. Ondas dessa doença já deram a volta ao mundo desde então, causando, até o momento, mais de 630 milhões de casos de infecção e em torno de 6,5 milhões de mortes confirmadas. Enquanto uma nova onda do coronavírus é esperada no Hemisfério Norte e outra se insinua por nossas latitudes, uma variante recém-detectada do Sars-CoV-2 virou motivo de preocupação, a BQ.1.
Ela é uma bisneta da ômicron original, com mais mudanças na proteína espícula (aquela que lhe permite conectar nas nossas células) na comparação com a sua avó, a BA.2, e com sua mãe, a BA.5.
Essa é a família viral de sucesso atualmente, dominando boa parte do planeta. Está na África, nas Américas, no Brasil… Na Ásia, predomina a variante XBB, uma tia da BQ.1, podemos dizer.
E o que faz essa linhagem ter tanto sucesso? Pequenas mutações no gene que codifica a proteína espícula, surgidas ao acaso à medida que o Sars-CoV-2 se multiplica dentro das células humanas por aí. Elas podem tornar os anticorpos bloqueadores que nos protegem das demais variantes um tanto preguiçosos para se ligar à espícula, tornando a vida dos vírus mutantes mais fácil em termos de infecção e perpetuação.
Então é o fim para nós?! Na verdade, não. Nem só de anticorpos é feito o nosso sistema imune. Devemos lembrar que temos células de defesa, os linfócitos, ávidas por detectar e destruir células infectadas por vírus. E o melhor: elas não perdem sua força diante de mutações ligadas à espícula, ao contrário dos anticorpos.
Assim, mesmo que a BQ.1 fuja dos anticorpos produzidos pela imunidade, os linfócitos T estarão lá para nos defender.
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Porém, para contar com isso, precisamos não apenas tomar as vacinas contra a Covid-19, mas do esquema vacinal completo. É ele que deixa nosso sistema imune bem treinado para o que der e vier, incluindo variantes do Sars-CoV-2.
Mas as vacinas atuais funcionam contra toda essa família viral, até contra a BQ.1? Sim, funcionam, e não há dados por ora demonstrando a necessidade de atualização da cepa vacinal que está sendo usada para formular os imunizantes.
Bem, e você ouviu por aí que a BQ.1 é mais transmissível? Procede? É um erro gigante achar que o número de casos da doença está subindo simplesmente porque o vírus sabe se disseminar melhor.
Primeiro porque outras variantes não têm o mesmo sucesso em se esgueirar dos anticorpos que temos contra o coronavírus, e acabam dando lugar a mutantes como a BQ.1, que tomam conta do pedaço.
Segundo porque temos de levar em conta que a nova versão pode ser mais transmitida sem ser mais transmissível. Ora, o vírus gosta de pessoas perto de pessoas, de gente infectada próxima a gente não infectada e, de preferência, sem imunidade formada.
Com o fim das restrições em vários ambientes, a volta de aglomerações (eleição!) e as festas de fim de ano se aproximando, com direito a uma Copa do Mundo no calendário, vamos combinar que o Sars-CoV-2 ganha uma ajuda e tanto.
A Covid-19 causada pela BQ.1 continua sendo tão grave quanto a doença provocada pelas outras variantes. Mas, graças à vacinação, conseguimos impedir que muitas pessoas tenham as manifestações mais severas e até letais da infecção.
Só que aí vem outro problema: a imunidade para o coronavírus tende a ser curta. Para manter a proteção, precisamos nos revacinar pelo menos uma vez ao ano. E, como mostram as estatísticas, nem todo mundo adere a essa medida.
A máquina viral de geração de variantes não para. A BQ.1 vai dar lugar a suas filhas, netas, bisnetas… Num sobe e desce de mutações e anticorpos. Nós, os hospedeiros, vamos continuar com alguns maus comportamentos que só favorecem a transmissão dessas variantes todas.
Coronavírus sendo coronavírus, e pessoas sendo pessoas. Nada de novo no front.