No hall do prédio, na entrada do supermercado, na saída da farmácia… Hoje em dia, a gente encontra o álcool gel em tudo que é lugar. Ainda bem! Falamos aqui de um dos principais produtos para limpar as mãos contra bactérias e vírus quando não há pia, torneira e sabão por perto. E, como você está cansado de saber, em tempos de pandemia de Covid-19, o cuidado com a higiene deve ser redobrado
Mas quem desenvolveu esse produto e como ele se disseminou pelo mundo? Tudo leva a crer que a inventora do álcool gel foi a enfermeira americana Lupe Hernandez. De origem latina, ela era estudante universitária na cidade de Bakersfield, na Califórnia, quando teve a ideia revolucionária. Seu intuito era criar uma solução para profissionais de saúde que garantisse a higienização das mãos quando água e sabão não estavam disponíveis.
Infelizmente, são poucas as informações que se têm sobre a vida de Lupe. Por mais que o fato esteja registrado no livro The Growth and Development of Nurse Leaders – Second Edition (O Crescimento e o Desenvolvimento de Lideranças na Enfermagem – Segunda Edição, sem versão em português), quase nada se sabe sobre a vida de Lupe antes ou depois desse período de estudos.
Alguns jornais e sites como Washington Post, dos Estados Unidos, e The Guardian, do Reino Unido, tentaram nas últimas semanas investigar mais detalhes sobre a biografia da enfermeira. Infelizmente, pouco se encontrou durante a apuração além desses pequenos retalhos da história.
Homenagem nos quadrinhos
O blog Túnel do Tempo recebeu a notícia em primeira mão de que Lupe Hernandez será a próxima homenageada pela Mauricio de Sousa Produções (MSP), que nos brinda há anos com as aventuras da Turma da Mônica. Você pode ver como ela ficou no desenho logo abaixo:
A enfermeira americana passará a fazer parte do projeto “Donas da Rua”, que homenageia e exalta a história de grandes personagens femininas da história. Nesse período de pandemia de Covid-19, o foco da iniciativa está justamente nas áreas de ciência e saúde.
Além de Lupe, outras cinco mulheres entraram para o grupo: a infectologista Ho Yeh Li, as enfermeiras Florence Nightingale e Ana Néri e as cientistas Éster Sabino e Jaqueline Goes de Jesus.
A primeira dona da rua
Aproveitei o contato com o pessoal da MSP para bater um papo com a Mônica Sousa, que é diretora executiva da empresa e criadora do “Donas da Rua”. Como a maioria das pessoas sabe, ela também serviu de inspiração para que seu pai, o artista e escritor Maurício de Sousa, criasse a personagem Mônica, que inspirou tantas gerações de crianças e adolescentes pelo Brasil. Você confere a entrevista completa logo abaixo:
Blog Túnel do Tempo: A MSP sempre teve um personagem cientista, o Franjinha. Isso sem citar outros que têm a ver com o tema, como o Piteco e o Astronauta. Como vocês enxergam o papel da ciência nas histórias que contam?
Mônica Sousa: Temos como objetivo, a partir dos nossos personagens e suas historinhas, levar conteúdos que auxiliem e contribuam com o conhecimento dos fãs. Alguns exemplos são a Magali, que nos últimos tempos tem abordado a questão da importância de uma alimentação mais equilibrada, e o Chico Bento, que reforça os cuidados que devemos ter com a natureza. A ciência também é um item que sempre esteve presente, seja em nossas historinhas ou em outros produtos editoriais, como o Manual do Cientista do Franjinha, desenvolvido em 2001.
Recentemente, lançamos o mangá Geração 12, que apresenta uma realidade alternativa e mostra as aventuras da primeira geração de alunos com 12 anos de idade, que irá estudar no Instituto Astro de Exploração Espacial. Na história, explorar o espaço é uma necessidade, pois a Terra está ficando inabitável e a humanidade deve se mudar para outros planetas.
De onde veio a ideia de criar personagens femininas baseados em cientistas?
Na realidade, a ideia é homenagear mulheres que fizeram história ou tiveram uma representatividade excepcional em suas áreas de atuação e, por muitas vezes, acabam não ganhando destaque por ser uma profissão, na visão das pessoas, majoritariamente masculina. Um exemplo disso é a ciência, em que vemos muitos homens ganhando os holofotes. Mas a história não é feita apenas por uma parte da sociedade e é isso que procuramos apresentar para nossos fãs.
Eu já tinha um desejo de desenvolver um projeto de empoderamento feminino voltado para as crianças. Não somente para as meninas, mas também para os meninos, que precisam entender e respeitar o espaço delas e que também sofrem com estereótipos de que homem não pode mostrar sentimentos ou se dedicar a atividades de cuidado. E, foi a partir da aproximação com a ONU Mulheres que conseguimos estruturar melhor a ideia de trabalharmos a questão da igualdade de gêneros, contribuindo para desfazer estereótipos.
Criamos em 2016 o projeto “Donas da Rua”, no mesmo dia em que nos tornamos signatários dos princípios da ONU Mulheres. O projeto usa a força das nossas personagens para reforçar a autoestima e empoderar as meninas. E é dentro dele que inserimos essa parte de homenagens, chamado “Donas da Rua da História”, em que as personagens do Bairro do Limoeiro assumem identidades de mulheres fortes e que fizeram história em sua área de atuação.
Durante a pandemia, optamos em destacar as mulheres da ciência e saúde, tão essenciais nesse momento. É mais uma oportunidade de trazermos tantas pessoas importantes para o centro das atenções. Desde março, já colocamos algumas dessas mulheres no hall do Donas da Rua da História.
As primeiras foram as cientistas brasileiras Ester Sabino e Jaqueline Goes de Jesus, que sequenciaram o genoma do coronavírus; depois foi a vez da Infectologista Ho Yeh Li, escolhida pelo Ministério da Saúde para coordenar a missão de resgatar os 34 brasileiros que estavam na cidade chinesa Wuhan; seguida por Florence Nightingale e Ana Néri, pioneiras da enfermagem. E agora chega a Lupe Hernandez, criadora do álcool gel.
Qual a importância disso tanto para a ciência quanto para o público leitor?
Ao dar visibilidade a essas mulheres que fizeram história, buscamos torná-las uma inspiração para outras meninas. Muitos estudos mostram que as meninas se desinteressam das áreas de STEM [sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática] muito cedo, ainda crianças.
Para que possa escolher a carreira científica, é interessante que a menina desenvolva seus estudos em matemática e ciências desde cedo. Assim, ao chegar no momento de escolher o curso universitário, essas áreas apareçam como uma opção. Ao contar a história dessas mulheres, reforçamos a mensagem de que todas são capazes de atuarem nas áreas que quiserem, e que existem profissionais incríveis em todos os lugares!
O projeto foi pensado para mostrar que todas podem e devem exigir as mesmas oportunidades e os mesmos direitos que os meninos. Sua importância é incentivar as famílias a conversarem sobre o tema com as crianças.
Como está sendo o retorno do público especificamente sobre essas personagens?
Os retornos são superpositivos, tanto por parte do público quanto internamente. O resultado é nítido e rápido, principalmente nas redes sociais da Turma da Mônica, alcançado milhões de pessoas. Sejam fãs ou não da turminha, o reconhecimento por parte da população é extremamente gratificante e é a certeza de que estamos atingindo nossos objetivos.
Vocês pretendem trabalhá-las somente nesse período de pandemia? Ou é um projeto de longo prazo?
O projeto “Donas da Rua da História” é algo contínuo. É preciso mantê-lo sempre vivo, trazendo cada vez mais visibilidade às mulheres. Elas são exemplos e incentivam outras a seguirem carreira em qualquer área que desejar. O mais interessante é que, quanto mais pesquisamos, mais descobrimos histórias de mulheres que revolucionaram diversas áreas do saber, ou seja, temos ainda muito a fazer nesse campo para ajudar a torná-las mais conhecidas do público.
Nesses últimos anos também temos apoiado eventos que se propõem a levar informações sobre ciência e tecnologia às meninas, como a Campus Party e o Mergulho na Ciência USP. Na Campus Party, por exemplo, disponibilizamos os desenhos dos personagens para programação de jogos com uso de Scratch, e no Mergulho na Ciência USP, levamos as personagens ao vivo para interagir com as estudantes e distribuímos pôsteres com informações sobre as mulheres que fizeram história na área. Queremos nos envolver cada vez mais com o tema.