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Tá na internet, tá na TV, tá nos livros... tá no nosso dia a dia. O jornalista André Bernardo mostra como fenômenos culturais e sociais mexem com a saúde — e vice-versa.
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“Aquela coisa terrível”: Matthew Perry e a dependência química

“Passei metade da minha vida em centros de tratamento ou casas de reabilitação”, afirma ator em sua autobiografia

Por André Bernardo
31 out 2023, 09h43

O ator Matthew Perry, que morreu no último dia 28, não gostava de ver Friends, a série que ele mesmo protagonizava. Mas não era por mania de perfeição ou algo do gênero. As reprises, admitiu várias vezes, traziam péssimas recordações.

Durante a gravação da sitcom, que começou no dia 22 de setembro de 1994 e deixou saudades em 6 de maio de 2004, seu peso variou de 58 a 102 quilos.

“Dá para acompanhar a trajetória da minha dependência química pelo meu peso entre as temporadas”, abriu o jogo em Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível (Best-Seller, 2023). “Quando estou mais pesado, era álcool; quando estou magro, eram remédios”.

Não é só isso. Embora garanta que nunca gravou nenhum dos 236 episódios “doidão”, houve dias em que apareceu nos estúdios da Warner, na Califórnia, com ressacas horrorosas.

Tem mais. Lembra do casamento de Chandler Bing, seu personagem, com Monica Geller, a personagem de Courteney Cox, na sétima temporada? Então, naquele 17 de maio de 2001, Perry estava internado num centro de desintoxicação em Los Angeles.

Os médicos liberaram sua saída para gravar a cena. Terminada a filmagem, ele voltou para o rehab, acompanhado de um funcionário da clínica.

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Aquela não foi a primeira internação de Matthew Perry. Nem a última.

No livro, ele estima que passou por 65 desintoxicações ao longo da vida – tomou o primeiro porre aos 14 anos e foi internado pela primeira vez aos 26. E calcula que gastou algo em torno de US$ 7 milhões “tentando ficar sóbrio”, cerca de R$ 35 milhões pela cotação de hoje.

Para superar o vício, fez terapia duas vezes por semana e contratou um ‘coach’ de sobriedade.

+ Leia também: A anatomia dos vícios: por que eles surgem e como domá-los

São muitos os números que Perry cita no livro. Um deles é particularmente impressionante. No auge de seu vício no remédio Vicodin – quem assistiu à série House (2004-2012) sabe do que se trata – , Perry chegou a ingerir 55 comprimidos por dia. E consegui-los não era nada fácil ou barato.

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Por incontáveis vezes, precisou recorrer a “enfermeiros trambiqueiros” para conseguir o analgésico. O vício em opioides começou em 1997 depois de sofrer um acidente de jet ski durante as filmagens de E Agora, Meu Amor? 

Há outros números igualmente chocantes: em seus piores momentos, o ator chegou a fumar 60 cigarros e a tomar 14 doses de vodca por dia.

“Tenho um amigo sem grana nenhuma, que mora em um apartamento alugado. Nunca fez sucesso como ator, tem diabetes, vive preocupado com dinheiro, não trabalha. E eu trocaria de lugar com ele num piscar de olhos. Na verdade, eu daria toda a fortuna, toda a fama, tudo, para viver em um apartamento alugado em um programa assistencial do governo. Eu aceitaria viver preocupado com dinheiro se isso me livrasse dessa doença, desse vício”, desabafa num dos trechos mais emocionantes do livro.

Em 2018, aos 49 anos, Perry viu a cara da morte de perto. Depois de alguns dias sem evacuar, seu intestino estourou. Literalmente. O motivo? Uso abusivo de opióides.

Foram duas semanas em coma, cinco meses no hospital e mais nove meses usando bolsa de colostomia. Os médicos chegaram a dar 2% de chance de sobrevivência. Ele escapou, mas teve que fazer 14 cirurgias para consertar o estrago.

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“O melhor emprego do mundo”

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(Warner/Divulgação)

Matthew Langford Perry foi o último ator escalado para fazer Friends, que ele chama de “o melhor emprego do mundo”. A princípio, estava reservado para outra série: uma comédia de sci-fi chamada L.A.X. 2194.

Curiosamente, não era nem para Chandler, o mais sarcástico dos seis amigos, existir. Tanto ele quanto Phoebe, de Lisa Kudrow, foram criados depois.

A ideia original dos produtores David Crane e Marta Kauffman era retratar o cotidiano de quatro amigos de Nova Iorque: Monica, Rachel, Ross e Joey.

Mais duas curiosidades: os criadores da série quebraram a cabeça até chegar ao título definitivo. Cogitaram, entre outros, Six of One, Insomnia Café e Friends Like Us. E mais: o tema de abertura seria Shiny Happy People, da banda REM, e não I’ll Be There For You, dos The Rembrandts.

O sucesso de Friends, considerada uma das mais lucrativas da TV norte-americana, pode ser mensurado pelo cachê dos atores. Na primeira temporada, Jennifer Aniston, Courteney Cox, Lisa Kudrow, Matt LeBlanc, Matthew Perry e David Schwimmer ganhavam, cada um, US$ 22 mil (R$ 110 mil) por episódio. Na décima e última temporada, essa cifra subiu para US$ 1 milhão (R$ 5 milhões).

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“O elenco de Friends era talentoso e a química entre os atores, fantástica”, avalia a jornalista Kelsey Miller, autora da biografia I’ll Be There For You: The One About Friends (inédita no Brasil). “A maior razão do seu sucesso, porém, é o fato de ser uma série sobre amizade, algo totalmente atemporal e universal. Todo mundo, em qualquer tempo e lugar, vai se identificar”.

Luta contra a dependência

Em setembro de 2022, durante entrevista ao podcast de Tom Power para divulgar seu livro, Perry disse que, quando morresse, gostaria de ser lembrado por sua luta contra as drogas e, também, por ter ajudado pessoas que viviam situações parecidas com a dependência química.

“Tive muitos altos e baixos na minha vida. Ainda estou trabalhando nisso, mas a melhor coisa é que, se um alcoólatra ou viciado vier até mim e disser: ‘Você pode me ajudar?’, eu direi: ‘Sim, posso. Farei isso por você, mesmo que nem sempre consiga fazer por mim’”.

Entre outras iniciativas, Perry fundou uma instituição, a Perry House, em Malibu, para ajudar dependentes químicos, e até escreveu uma peça, The End of Longing (“O fim do desejo”, em livre tradução), que trata do tema.

“Sei que, quando eu morrer, as pessoas vão falar só de Friends. Fico feliz por isso. Mas, seria bom se Friends estivesse listado depois das coisas que fiz para tentar ajudar os outros”.

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+ Leia também: Em nova autobiografia, Rita Lee avalia: “Cada dia a mais é um dia a menos”

Ontem, o elenco de Friends divulgou nota lamentando a perda do amigo: “Éramos mais do que colegas de elenco. Somos uma família”, diz o comunicado assinado por Aniston, Cox, Kudrow, LeBlanc e Schwimmer.

Os criadores da série, Marta Kauffman e David Crane, também prestaram homenagem: “Estamos chocados e profundamente tristes. Ainda parece impossível. Tudo o que podemos dizer é que nos sentimos abençoados por tê-lo como parte de nossas vidas. Era um talento brilhante”, escreveram.

Fãs depositaram flores em frente ao prédio que serviu de fachada para a residência dos seis amigos, na esquina das ruas Bedford e Groove, no bairro do Greenwich Village, em Nova Iorque.

Matthew Perry foi encontrado morto, aos 54 anos, na banheira de hidromassagem em sua casa, em Los Angeles, nos Estados Unidos. O caso está sendo investigado pela polícia, que aguarda o resultado dos exames toxicológicos para definir a causa da morte.

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