Fim da escala 6×1 no trabalho é questão de saúde física e mental
Além de concretizar o fim deste modelo, devemos questionar esquemas anacrônicos que esbulham a sanidade do trabalhador
A ideia de saúde mental no trabalho é claudicante. Desenvolve-se, muitas vezes, sobre um só apoio, justamente a saúde mental “no trabalho”, deixando de lado a discussão sobre como o desequilíbrio entre vida profissional e pessoal pode prejudicar o bem-estar dos trabalhadores.
Neste sentido, o clamor pela abolição da escala 6×1 (seis dias de expediente com um dia de folga por semana) que tomou a mídia e as redes sociais nos últimos dias mostra que o debate não pode se restringir à adequação do trabalhador ao trabalho, sob risco de não romper os vícios sociais e culturais responsáveis pelo sofrimento psíquico.
Em um mundo onde a exigência do trabalho ocupa um lugar central em nossas vidas, ideias que possam ajudar as pessoas a terem tempo para cuidar de si são bem-vindas. Não apenas porque fazem bem para a saúde física e mental dos funcionários, mas porque têm se mostrado favoráveis à produção de riqueza e capital.
Sempre foi assim: menos tempo trabalhado faz as pessoas trabalharem melhor. Por mais contraintuitivo que possa parecer.
No início do século XX, a convenção que proibiu jornadas de trabalho que chegavam a 16 horas por dia, sem folgas semanais, e estabeleceu a jornada 6×1 com um limite diário de 8 horas foi acompanhada das previsões mais pessimistas.
O ano era 1919, e os resultados do avanço deixaram o presidente da Organização Mundial do Trabalho, o ministro francês Albert Thomas, surpreso ao constatar que a mudança trouxe aumento, e não queda, da produtividade.
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No Brasil, os primeiros resultados da pesquisa sobre o modelo 4×3, quatro dias de trabalho com três de descanso, já apresentam um cenário promissor para deixarmos a timidez de lado e avançarmos ainda mais na discussão.
Além de concretizar o fim da escala 6×1, devemos questionar modos de funcionamento da organização do trabalho anacrônicos que esbulham a saúde mental do trabalhador.
Entre os trabalhadores brasileiros que experimentaram a escala 4×3, 73,7% avaliam como boa ou excelente a sua saúde física e 77,3% a sua saúde mental.
Em consonância, 72,7% das empresas viram suas receitas aumentarem e 63,6% tiveram aumento do lucro. As empresas também ganham na atração e retenção dos melhores talentos, reduzindo custos com rotatividade e perdas de produtividade com afastamentos e presenteísmo.
Dentre os participantes da pesquisa, lideranças e liderados constataram ganhos de produtividade, bem-estar e relacionamento entre os membros das equipes.
Quase metade das pessoas (49,6%) relataram redução de insônia, 71,3% disseram sentir ter mais energia para investir na família e nos amigos e 87,4% se sentem com mais energia para trabalhar. Houve aumento de 60,3% no engajamento das equipes e 70,1% sentem-se alegres e de bom humor.
A conquista da saúde mental no trabalho não depende apenas do que se faz no ambiente laboral. Depende também do que se faz nas horas livres, nos tempos em que a gente produz experiências desinteressadas da produção de riquezas e capitais.
As pausas organizam os ritmos da vida. Permitir que as pessoas tenham mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional pode ajudar na conquista de ambientes de trabalho psicologicamente mais seguros, atraentes e produtivos.
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