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HIV: dez formas de discriminação que impactam quem vive com o vírus

Mais da metade das pessoas que vivem com HIV no Brasil já enfrentaram situações discriminatórias, de acordo com novo estudo lançado nesta quinta-feira, 8

Por Lucas Rocha Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
8 Maio 2025, 09h00
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A discriminação de pessoas que vivem com HIV acontece de diversas formas (Foto: Freepik/Divulgação)
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Mais da metade das pessoas que vivem com HIV no Brasil já sofreram discriminação devido ao status sorológico. Os dados alarmantes são da mais nova edição de uma pesquisa que avalia o índice do estigma em relação ao vírus no país.

Lançado nesta quinta-feira, 8, no Palácio do Planalto, em Brasília, o estudo ouviu pessoas em sete capitais brasileiras — São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Recife, Brasília e Manaus —, e atualiza os indicadores do último levantamento, realizado em 2019.

Pela primeira vez, observa-se uma redução de aproximadamente 11 pontos percentuais no índice de discriminação, sinalizando avanços.

Contudo, a análise revela uma persistência do estigma, da discriminação e das violações de direitos humanos que ainda impactam diretamente a vida dessa população.

“Apesar de estarmos em uma era de amplo acesso à informação, isso não significa que todas as pessoas tenham acesso a conteúdos de qualidade — ou que preconceitos historicamente construídos tenham sido superados. Eles continuam presentes, inclusive nos meios digitais”, afirma Andrea Boccardi Vidarte, diretora e representante do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (Unaids) no Brasil, uma das entidades envolvidas no trabalho.

A iniciativa conta ainda com apoio do Consórcio de Pessoas Vivendo com HIV e Aids, Gestos, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e da Secretaria-geral da Presidência da República.

+ Leia também: Sorofobia: entenda como a discriminação impacta pessoas que vivem com HIV

Os resultados da pesquisa

Entre os mais de 1,2 mil entrevistados, cerca de 53% afirmaram ter sofrido discriminação em função da sorologia ao longo da vida. Além disso, quase 35% relataram que o caso aconteceu na própria família.

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E os problemas se alastram também pelos serviços de saúde, justamente os espaços que têm como objetivo o acolhimento e cuidado de pacientes com quaisquer demandas.

Mais de 13% dos consultados foram tratados de forma discriminatória em unidades nos últimos 12 meses. Para mais de 46%, há uma suspeita ou confirmação de que o estado sorológico não é mantido em sigilo pelos estabelecimentos.

Como dura consequência, padece a saúde mental: 29,1% demonstraram sintomas de depressão e 41,2% relataram sinais de ansiedade relacionados ao estigma.

“Muitas pessoas ainda associam o HIV a questões morais ou a determinados públicos, quando, na verdade, deveriam vê-lo como uma questão de saúde pública. Essa postura reforça estereótipos, dificulta o acesso aos serviços de saúde e enfraquece o debate público baseado na ciência e nos direitos humanos”, enfatiza Vidarte.

+ Leia também: HIV: a importância do conceito “Indetectável = Intransmissível”

10 formas de discriminação

Colocar números e dados de pesquisa em textos é uma maneira de dimensionar um problema. Porém, pode criar um efeito colateral de distanciamento. Afinal, quem são essas pessoas? O que elas sofrem na pele? O que pode ofender ou preterir uma pessoa que vive com HIV?

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Vale observar que o preconceito e a discriminação dão as caras de diversas maneiras. Algumas são bem escancaradas, outras bastante sutis, mas não deixam de ser perversas. E algumas podem até já ter passado pela sua cabeça, mesmo sem você se dar conta.

Um passo importante para combater essa mácula de saúde pública é reconhecer onde está o problema.

Podemos pensar em uma lista de atitudes que configuram discriminação de pessoas que vivem com HIV, que tal?

• Especular se uma pessoa vive com o vírus por qualquer motivo, principalmente por mudanças corporais.

• Quebrar o sigilo sorológico de um indivíduo, sendo você um profissional de saúde ou não.

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• Realizar de exames sem consentimento, evitar contato físico ou até mesmo negar atendimento em serviços de saúde.

• Comentários especulativos sobre como uma pessoa pode ou não ter contraído o vírus. Não é uma mera fofoca!

• Uso de linguagem inadequada como: aidético, soropositivo e portador de HIV (Usa-se pessoa que vive com HIV).

• Piadas de cunho preconceituoso e moralista sobre profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP)

• Exclusão do mercado de trabalho, segregação ou demissão devido ao status sorológico.

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• Rejeição e afastamento do convívio social ou familiar.

• Diversas formas de assédio verbal.

• Agressões físicas.

Se você já se viu diante de alguma dessas situações, vale a reflexão e mudança de comportamento.

+ Leia também: A lista de vacinas recomendadas para pessoas que vivem com HIV

Combate ao estigma

Para reverter esse cenário, todas as esferas da sociedade têm responsabilidades, defende a diretora do Unaids.

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“Os serviços de saúde precisam garantir acolhimento, escuta ativa e formação continuada das equipes para lidar com o HIV sem estigma. Governos devem ampliar campanhas educativas, promover representações reais e positivas de pessoas vivendo com HIV e responder à desinformação — inclusive nas redes sociais, onde o preconceito circula com facilidade”, pontua.

Para Vidarte, organizações da sociedade civil devem estar à frente de políticas que impulsionem respostas eficazes tanto de prevenção quanto de tratamento.

Mudanças climáticas

Pela primeira vez, a pesquisa incluiu primeira dados sobre os efeitos das crises climáticas no acesso à saúde das pessoas vivendo com HIV.

Entre os participantes, 82,1% ainda não haviam recuperado a renda familiar após eventos climáticos extremos. Cerca de 20% enfrentaram dificuldades para obter medicamentos devido a esses eventos.

Enquanto 27,3% tiveram a consulta médica para acompanhamento do HIV cancelada ao menos 1 vez.

Enfrentamento ao HIV

Em 2021, os Estados-membros das Nações Unidas adotaram um conjunto de metas no contexto do HIV e da aids. Uma delas é a chamada 95-95-95: ter no mínimo 95% dos indivíduos diagnosticados, 95% deles em tratamento e 95% destes com a carga viral indetectável, que significa o controle da infecção e preservação da qualidade de vida.

Até o momento, o Brasil conquistou duas das três metas globais para eliminação da aids como ameaça à saúde pública. A lacuna permanece na adesão ao tratamento, com um percentual de 82% de cobertura. Problemas como preconceito e exclusão social afetam o autocuidado, refletindo nos índices de acesso à terapia.

“A resposta ao estigma é tão crucial quanto o acesso ao tratamento. O Unaids direciona seus esforços para garantir que ações conjuntas — pautadas no respeito, na empatia e em informação baseada em evidências — nos levem a acabar com a aids como ameaça à saúde pública até 2030”, conclui Vidarte.

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