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A difícil missão de colorir o envelhecimento LGBTQIA+ no Brasil

As particularidades da vivência de pessoas que fazem parte de minorias sexuais exigem da sociedade um olhar cuidadoso, especialmente na maturidade

Por Lucas Rocha Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
22 jun 2025, 06h00
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Envelhecimento é tema de preocupação para grande parte da população LGBTQIA+ (Ilustração: Vitor Matos/Veja Saúde)
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Solidão, mudanças na aparência física, preconceito de idade ou etarismo. Esses são apenas alguns receios apontados por pessoas LGBTQIA+ à medida que envelhecem.

Em breve questionário que publicamos online, também foram mencionados o medo de rejeição, da perda de entes queridos e da falta de acesso à saúde.

Mas essas não seriam questões que afligem qualquer pessoa? Se por um lado as preocupações com a velhice perpassam a todos de maneira invariável, por outro existem nuances mais intensas quando falamos desse grupo populacional específico.

É um tema que cresce com o envelhecimento populacional. Não à toa, o tema da Parada do Orgulho LGBT+ deste ano é Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro.

Há oito anos, o geriatra e especialista em sexualidade e envelhecimento Milton Crenitte, do Hospital das Clínicas de São Paulo, investiga a fundo o assunto.

Em um amplo estudo, publicado no periódico científico Clinics, o pesquisador identificou lacunas na assistência à saúde dos indivíduos LGBTQIA+ em comparação com pares da mesma idade.

Ao todo, foram incluídos mais de 6 mil participantes na análise. O médico defende que o acesso pleno aos serviços está vinculado ao chamado suporte social.

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“Cabe a nós, como sociedade, pensarmos em políticas públicas para que essas pessoas sejam incluídas, respeitadas e queridas. Hoje são poucas as estratégias voltadas ao cuidado. Precisamos, por exemplo, de instituições de longa permanência que sejam mais acessíveis e acolhedoras”, enfatiza Crenitte.

+Leia também: Precisamos dar mais atenção e cuidado a pessoas e famílias LGBTQIA+

Pois bem, os achados do estudo reforçam que solidão não combina com saúde. Grupos socialmente vulneráveis, como idosos, migrantes e moradores de asilo, são mais suscetíveis aos efeitos do isolamento.

No contexto LGBTQIA+, o peso recai sobre um conjunto de fatores que ainda estão sendo elucidados pela ciência. Pesquisas sugerem que há uma forte associação do problema com a marginalização. Porém, não estão tão claros os processos que podem estar por trás dessa relação. Avalia-se que o impacto da discriminação ao longo da vida pode tornar relacionamentos familiares difíceis e encolher o círculo social.

Bastante comum, a angústia pela solidão é refletida em dados de diversos estudos realizados mundo afora. Uma pesquisa conduzida nos Estados Unidos, por exemplo, revelou que as minorias sexuais se mostram significativamente mais solitárias em comparação aos heterossexuais veteranos.

Os dados publicados no Journal of Marriage and Family indicam que, em solo americano, a disparidade encontrada está fortemente associada a problemas nas relações mais próximas, como a ausência de uma parceria ou o afastamento da própria família. Outra perspectiva para o fenômeno é o estresse minoritário, que envolve os efeitos negativos de viver com uma identidade estigmatizada.

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Vivemos uma era de avanços em conquistas de direitos pela população LGBTQIA+. No entanto, fatores como rejeição e estigma social estão distantes de ser riscados do mapa. A marginalização se mostra na forma de assédio, discriminação, bullying, agressão e afastamento.

Como consequência, esse conjunto de vivências difíceis influencia diretamente a formação, manutenção e qualidade das relações.

“A solidão pode trazer consequências físicas e psíquicas. Para pessoas idosas, pode matar. Observamos que indivíduos LGBTQIA+ maduros têm mais chances de morar sozinhos, não ter tido filhos, não ter sido casados e de não ter ninguém para chamar diante de uma emergência ou caso precisem de ajuda”, observa o geriatra de São Paulo.

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Grupos socialmente vulneráveis são mais suscetíveis aos efeitos do isolamento (Ilustração: Vitor Matos/Veja Saúde)

Um dos caminhos para amenizar o isolamento é o envolvimento com a própria comunidade, que promove a oportunidade de conhecer novas pessoas e potenciais parceiros. É o que sugere uma análise publicada na revista Archives of Sexual Behavior, elaborada a partir de entrevistas com mais de 7,8 mil pessoas de minorias sexuais, com idade entre 18 e 88 anos, de 85 países.

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Driblar os impasses da solidão e do desamparo é apenas uma das batalhas da longevidade queer. O avanço do tempo deixa marcas físicas naturais pelo corpo.

Os anseios pelas rugas, flacidez e os famosos cabelos brancos podem começar até mesmo décadas antes de se chegar lá, o que se reflete na elevada procura por procedimentos estéticos.

Nesse contexto, vale fazer um recorte na sopa de letrinhas da comunidade. O apreço um tanto quanto excessivo à aparência tende a ser mais marcante entre homens gays cisgênero.

“Estudos mostram que eles dão grande importância ao corpo, que exerce um papel de poder na sociedade. Há, de fato, uma pressão estética e certa valorização de perfis musculosos. Com o processo de envelhecimento, as transformações que atingem a todos acabam trazendo mais sofrimento àqueles que possuem esse tipo de apego”, comenta Crenitte.

Quem não atinge a “meta” pode acabar invisibilizado.

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Diversos tons da geração prateada

Então, você já parou para refletir sobre a imagem mental que tem de alguém mais velho?

Posso apostar na figura de um vovô bonachão contando boas histórias ou da mestre-cuca de avental que enche a mesa de guloseimas para os netinhos.

Mas onde vão parar os indivíduos das minorias sexuais depois dos 60 anos? Inclusive aqueles sem família?

Para valorizar a longevidade dessa turma, ganha espaço a exposição O Mais Profundo É a Pele, do fotógrafo Rafael Medina e a curadoria de André Fischer.

Com foco nas marcas do envelhecimento, as imagens evidenciam resistência, orgulho, autoestima, beleza e sensualidade. A mostra pode ser visitada até o dia 31 de agosto, no Museu da Diversidade Sexual, em São Paulo.

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“Busco pensar em belezas para além de um padrão ou modelo a ser seguido. No contexto do envelhecimento, as marcas do corpo são como memórias físicas de uma vida”, resume Medina.

Sim, as particularidades da vivência LGBTQIA+ exigem da sociedade um olhar cuidadoso para que os tons da longevidade sejam tão coloridos quanto o arco-íris que tanto nos representa.

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