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O alto impacto do estresse na saúde cardiovascular das mulheres

Estudos científicos comprovam a relação entre doenças do coração e a percepção de estresse, depressão e desigualdade social de mulheres

Por Maria Cristina Izar, cardiologista, e Antonio Cordeiro Mattos, epidemiologista*
7 nov 2024, 10h30
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  • Brasileiras não brancas são mais suscetíveis ao aumento do estresse e ao estilo de vida pouco saudável. Portanto, estão mais vulneráveis às doenças cardiovasculares.

    Esta foi uma das conclusões do estudo Estresse Psicológico e Saúde Cardiovascular em Mulheres Brasileiras, desenvolvido pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) para examinar a relação entre questões emocionais e risco cardiovascular. O trabalho foi publicado nos Cadernos de Saúde Pública, da Fiocruz.

    O estresse permanente tem impacto significativo para o coração. Nesta situação, o corpo libera hormônios que elevam a pressão arterial e a frequência cardíaca. Também pode provocar inflamação crônica e acúmulo de placas nas artérias, aumentando episódios de aterosclerose.

    +Leia tambémCom o coração nas nossas mãos: aprenda a cuidar melhor dele

    Outra questão é que o estresse, muitas vezes, está associado a comportamentos que trazem prejuízo cardiovascular, como tabagismo, consumo excessivo de álcool, alimentação não saudável e sedentarismo.

    A pesquisa da SOCESP contemplou cerca de 94 mil usuários de unidades básicas de saúde, dos quais 66,4% eram mulheres. Mais de 50% delas relataram a vivência de alguma experiência estressante nos 12 meses anteriores. Para os homens, este percentual foi bem menor: 37%.

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    O grupo feminino teve autopercepção intensa e grave de estresse doméstico (28% contra 13% do sexo oposto); 11% de estresse social (8% entre homens) e 26% delas apontaram estresse de ordem financeira enquanto 19% deles fizeram esta menção.

    +Leia também: Sobrecarga mental ajuda a explicar por que mulheres adoecem mais

    Estes estresses “autopercebidos” foram mais relevantes no grupo das não brancas – definição que engloba todas as mulheres que se definiram como negras, pardas, morenas, entre outras –, que também acumulavam demais fatores risco cardiovasculares, como hipertensão, falta de atividade física na rotina e menor consumo de alimentos saudáveis, como frutas, legumes e verduras.

    Negras, em particular, apresentaram uma prevalência desproporcionalmente maior de pressão alta e obesidade.

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    Mais investigações

    A relevância do tema pode ser mensurada pela quantidade e qualidade de estudos sobre ele. A publicação da pesquisa Prospective Urban Rural Epidemiology (PURE), sobre status socioeconômico e mazelas cardiovasculares em 20 países, revelou a importância de determinantes sociais e ambientais no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.

    O trabalho explora a associação entre educação, riqueza familiar, saúde e mortalidade para avaliar qual marcador é preditor mais forte para a recorrência das enfermidades cardiovasculares.

    Durante outra análise do estudo, com 155.722 pessoas de 21 países, 11,3% relataram sintomas consistentes com depressão no ano anterior ao inquérito. Identificou-se o estresse e a falta de apoio social como agravantes significativos para o infarto.

    Já o estudo Interheart, desenhado para avaliar a importância de fatores que levam à doença arterial coronariana em uma análise específica de fatores psicossociais, demonstrou que o estresse de modo geral (em casa e no trabalho) aumenta em duas vezes a chance de infarto.

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    Ações preventivas

    Essas e outras pesquisas deixam clara a importância de minimizar o impacto das psicopatias na saúde do coração, principalmente entre mulheres não brancas e de classes sociais menos favorecidas.

    É fato que programas de acesso a alimentos saudáveis e de incentivo à prática de atividades físicas desempenham papel fundamental na mitigação dos riscos cardiovasculares. Mas já é possível comprovar a necessidade de ações integrativas, com apoio psicológico e social, incluindo políticas de redução de estresse no trabalho.

    Considerando os achados de estudos e vulnerabilidades do sexo, é essencial olhar especificamente para a saúde femininina, trabalhando para a construção de vidas mais saudáveis e longas. Vale lembrar que, em 60 anos, a proporção de mortes por causas cardiovasculares em mulheres aumentou 37%.

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    *Maria Cristina Izar é cardiologista, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp – biênio 2024/2025) e professora adjunta livre docente da Disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo. Antonio Cordeiro Mattos é epidemiologista com ênfase em saúde pública, coordenador de projetos de pesquisa clínica e epidemiológica.

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