Mulheres jovens são as vítimas inusitadas das doenças cardíacas
Estresse é uma das causas por trás de problemas cardiovasculares entre elas
Se a maioria de nós tivesse que escolher uma imagem para retratar um ataque cardíaco, intuitivamente optaria por uma foto de um homem acima dos 60 anos. Afinal, ainda convivemos com a impressão de que as doenças do coração são exclusividade desse público.
Mas trata-se de uma falsa impressão: estudos e pesquisas desmistificam essa ideia e colocam mulheres jovens no protagonismo das doenças cardiovasculares (DCVs). Sim: as vítimas de infarto podem ter 40, 30, 20 anos – ou até menos.
Em os trabalhos sobre o tema, a Associação Americana de Cardiologia aponta a síndrome coronariana aguda (SCA) como responsável por 35% dos infartos em mulheres com menos de 50 anos sem fatores de risco.
Já a Pesquisa Internacional de Síndromes Coronarianas Agudas em Países em Transição – nações como Rússia que estão implementando economia de mercado – concluiu que o infarto foi a mais comum manifestação clínica em jovens (68% versus 59,6% em pacientes mais velhos) e as mulheres representaram as maiores taxas de mortalidade em 30 dias após a ocorrência, considerando o mesmo tipo de tratamento dispensado aos homens.
Entre os problemas cardíacos que acometem as jovens temos a MINOCA (sigla para Myocardial Infarction and Nonobstrutive Coronary Arteries ou Infarto do Miocárdio na Ausência de Obstrução Arterial Coronariana), que compromete a microcirculação coronariana e atinge 10,5% das mulheres e apenas 3,4% dos homens.
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Também citamos a dissecção espontânea de artéria coronária, uma laceração que retarda ou bloqueia o fluxo sanguíneo para o coração, causando ataque cardíaco e até morte súbita.
Estresse é uma das causas
O estresse é apontado como uma das causas de ataques cardíacos nas jovens.
O fato de as mulheres assumirem responsabilidades cada vez mais cedo, enfrentando rotinas puxadas e jornadas duplas ou triplas – que incluem estudo, trabalho e cuidados domésticos – pode explicar essa mudança de cenário, que as coloca como alvo.
E as mais novas acabam negligenciando os sintomas por não acreditarem pertencer ao grupo de risco.
E existem outras doenças associadas que contribuem para um infarto mesmo com pouca idade. É o caso de ovário policístico, disfunções de hipertensão na gravidez, diabetes gestacional e parto prematuro, além da menopausa precoce.
Fatores convencionais de risco cardíaco – como obesidade, tabagismo e colesterol alto – também justificam o acometimento das mulheres mais novas, uma vez que a alimentação desregrada (que pode promover a obesidade, colesterol e hipertensão) e o cigarro estão presentes na realidade dessas moças.
+ Leia também: Obesidade: novos remédios, velhos dilemas
Desmistificar a ideia de que devido à pouca idade uma doença cardíaca não faz parte da realidade feminina é um dos objetivos da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo para a campanha, que será realizada ao longo do mês de março, pela passagem do Dia Internacional da Mulher.
Estamos empenhados em esclarecer a população por meio de nossas redes sociais, sites e entrevistas com especialistas.
Precisamos alertar que as patologias que afetam o coração são democráticas e não escolhem vítimas.
Mas a boa notícia é que o “remédio” também é democrático e não precisa de receita: conscientização sobre a necessidade de uma vida saudável e controle constante da pressão arterial, do colesterol elevado e do risco de diabetes.
*Ieda Jatene é cardiologista, especialista em Cardiopatias Congênitas e Cardiologia Pediátrica. É a presidente da SOCESP (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo) para o biênio 2022/2023 e Salete Aparecida da Ponte Nacif é diretora da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP e integrante da equipe do SOCESP Mulher.