O óleo de coco é mais saudável para a saúde cardiovascular do que os demais? Chocolate amargo faz bem? Ovo aumenta o colesterol ruim? Nos deparamos com muitos mitos, verdades e vereditos não conclusivos sobre alimentos que estão em nossa rotina ou que viraram moda por serem considerados mais saudáveis em “dietas de internet”.
Para esclarecer sobre quem são os mocinhos e os bandidos – e também os isentões – da mesa, o departamento de Nutrição da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo criou uma nova edição de e-book Diálogos com a Nutrição, baseado no Posicionamento sobre o Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular. A publicação visa orientar os profissionais da nutrição, bem como seus pacientes, sobre alimentação e saúde cardiovascular.
O primeiro ponto a ressaltar é que as diretrizes nutricionais fazem uma ligação entre gorduras saturadas e doenças cardiovasculares, evidenciando seus malefícios para o aumento do LDL, o colesterol ruim.
Esse tipo de ácido graxo é encontrado em alimentos de origem animal, como manteiga, leite integral, queijos gordurosos, frango com pele e carnes gordas, entre outros.
Mas será que todo alimento que contém gordura saturada é inimigo do coração?
É necessário desmistificar o papel de certos grupos, já que muitas vezes se considera a restrição ou abuso de alguns itens simplesmente porque “ouvimos falar” que fazem mal ou que fazem bem.
O óleo de coco, por exemplo, é comumente lembrado como um substituto de outros óleos com foco em uma alimentação mais saudável. Mas não é bem assim: ele pode aumentar as concentrações de colesterol total e LDL, o colesterol ruim, no sangue. Inclusive, estudos demonstraram redução desses índices em indivíduos que substituíram o óleo de coco pelo de soja ou milho.
Da mesma forma, o óleo de palma surgiu como opção mais saudável da gordura trans para a produção da indústria alimentícia, mas trata-se de um equívoco: por possuir gorduras saturadas em quantidade significativa, a recomendação de consumo de óleo de palma não é diferente. Ou seja: muito restrita.
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Apesar de as carnes serem fontes de proteínas e fornecerem todos os aminoácidos essenciais, assim como minerais e vitaminas, e a quantidade de gordura e ácidos graxos variar conforme o tipo de animal e corte, existe uma associação entre a ingestão de carne e o risco de desenvolver doença cardiovascular.
As carnes processadas (a exemplo de linguiça, salsicha, bacon, pepperoni, mortadela, presunto, nuggets, salame, toucinho, carnes enlatadas, entre outras) são ainda menos indicadas.
Já o chocolate não precisa ser eliminado por quem pretende cuidar do coração. A despeito de o cacau conter significativo teor de gordura saturada – 63% da gordura total –, ela tem efeito neutro na taxa de colesterol no sangue e, por isso, não causa impacto cardiovascular.
A manteiga é um produto de origem animal, composta de 51,5% de gordura saturada, 22% de gorduras monoinsaturadas e 1,5% de poli-insaturadas. Porém, os estudos não encontram relação com o risco de doença arterial coronariana, DCV ou AVC. Por outro lado, há correspondência entre o consumo de manteiga e o desenvolvimento de diabetes.
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Leite desnatado e derivados, recomendados em dietas como a DASH por seus comprovados benefícios cardiometabólicos, também não aumentam o perigo de diabetes, doença cardiovascular ou AVC assim como o ovo, quando consumido em quantidade moderada de até um por dia. Mas, em excesso, laticínios e ovos tendem a promover alterações no colesterol.
Consulte sempre um nutricionista
É importante conhecer o potencial nutricional dos alimentos, adequando o uso de gorduras saturadas e insaturadas, otimizando a ingestão de frutas e hortaliças.
E, como as dietas são subjetivas, caberá ao nutricionista ajudar na adequação do menu de cada paciente, analisando exames prévios para entender do que ele necessita e quais são seus objetivos.
Além disso, a orientação nutricional deve incentivar a leitura dos rótulos, para que cada um possa fazer escolhas conscientes e de qualidade para si, considerando, inclusive, as preferências de paladar. Afinal, comer não pode ser um hábito que exclui a sensação de prazer.
* Valéria Machado é nutricionista e diretora científica do Departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP).