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Médicos, nutricionistas e outros profissionais da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) explicam as novas (e clássicas) medidas para resguardar o peito

Estresse do cuidador: quando o coração de quem cuida sofre

Cuidadores exercem funções primordiais na vida de idosos e portadores de doenças debilitantes, mas também precisam receber atenção e assistência

Por Daniel Dei Santi, cardiologista*
10 dez 2024, 09h36
saúde do cuidador
Cuidadores não profissionais acabam negligenciando sua própria saúde (Ilustração: Veridiana Scarpelli/SAÚDE é Vital)
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Para certos grupos, a sobrevivência depende de terceiros.

Entram neste hall aqueles que estão permanentemente ou temporariamente frágeis e vulneráveis, como idosos, portadores de necessidades especiais e até pacientes com insuficiência cardíaca crônica, vítimas de infarto ou de acidente vascular cerebral (AVC), que estejam muito sintomáticos, debitados e (ou) fragilizados. E aqui entra em cena um personagem necessário: o cuidador.

A demanda do cuidador – familiar que se dispõe a ajudar ou prestador contratado – contempla uma série de tarefas, considerando o nível de dependência do assistido.

Organizar e ministrar medicações, curativos, refeições; higiene; amparo em deslocamentos e (ou) mudança de decúbito; ações que envolvam cateteres e sondas, monitoramento de sinais vitais, conhecimentos básicos para vigiar sintomas e sinais de complicações de doenças; precauções para manter a segurança; atividades lúdicas e agenda médica são alguns exemplos.

Porém, por mais nobre e gratificante, este tipo de atendimento – com a preocupação constante e a dedicação de horas (ou dias) seguidos – tende a impactar a vida do cuidador, privando-o de sua própria rotina e autocuidado. E quanto mais grave o paciente, mais ele exigirá de seu tutor.

Então somos apresentados a um novo problema: o estresse do cuidador, síndrome que reúne danos físicos e psicológicos e que podem ter por consequência doenças graves, como as cardiovasculares (DCVs).

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+Leia também: Pesquisa retrata impactos socioemocionais em cuidadores

Sintomas de que o cuidador não está bem

Entre os sintomas do cuidador que adoece estão cansaço constante, perda de interesse por práticas que antes lhe eram prazerosas, ansiedade, irritação, angústia, depressão, abandono de sonhos/planos, isolamento social e comprometimento da concentração e memória.

Além disso, dor de cabeça, de estômago ou muscular, sensação de opressão no peito, ganho ou perda de peso, excesso de sono ou insônia, falta de tempo ou vontade de praticar esportes e alimentação inadequada são distúrbios diretamente ligados aos fatores de risco para a saúde do coração.

Outro aspecto que impacta o cuidador é de cunho financeiro: quando trata-se de um familiar que não recebe dividendos pela função, isso o impedirá de gerar renda, o que acarretará em outras questões pessoais.

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Envelhecimento da população

Vivemos a realidade de uma sociedade mais velha. De acordo com o Censo 2022, o número de pessoas com 65 anos ou mais no Brasil cresceu 57,4% em 12 anos, passando de 14.081.477 (ou 7,4% da população) para 22.169.101 (10,9%) em 2022. A ascendência de idosos fica evidente quando analisamos a demografia em 1980: naquele ano, apenas 4% estavam nesta condição.

E as projeções indicam uma aceleração ainda maior do envelhecimento nas próximas décadas. O IBGE estima que, em 2034, aqueles acima de 65 anos representarão 15% dos brasileiros e, até 2060, este percentual passará para 25,5% ou um idoso a cada quatro pessoas.Tudo leva a crer que em 2070 os homens viverão em média 81,7 anos e as mulheres 86,1 anos.

O alto índice de indivíduos acima dos 65 anos se deve tanto à taxa de natalidade decrescente – os casais tendem a ter menos filhos – e aos avanços da medicina. Muitas doenças que levavam pacientes a óbito, hoje são passíveis de tratamento, prolongando os anos de vida.

O ônus é que nem sempre a longevidade vem acompanhada de qualidade. Não raro, idosos apresentam patologias crônicas, como diabetes, hipertensão e DCVs ou perdas funcionais, que incluem dificuldade de locomoção e declínio cognitivo, situações que promovem necessidade de assistência permanente.

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+Leia também: Velhices cidadãs: um novo olhar para o envelhecimento

Muitos anos de vida a todos

É importante ressaltar que momentos de culpa ou sensação de não dar conta dos afazeres são comuns e esperados por parte do cuidador, que não deve nutrir sentimentos de menos valia.

Ao contrário, é preciso ter consciência dos obstáculos implícitos no ato de cuidar, certo da precisão de buscar socorro profissional ao notar os primeiros sinais de que algo não vai bem com sua própria saúde física ou mental.

Por isso, médicos devem estar atentos também ao cuidador. Uma alternativa é a aplicação da Escala de Zarit, método de classificação da sobrecarga daqueles que atuam como cuidadores. A escala mede a saúde, o bem-estar psicológico e socioeconômico e mensura a relação com o assistido.

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Entre as medidas para minimizar o estresse, é vital separar a vida pessoal da vida de quem é cuidado. Tanto para profissionais como para familiares, se recomenda revezamentos, estipulando-se horários de dedicação e pausas para refeições e descanso. Sair do ambiente e participar de atividades prazerosas ajuda na descompressão emocional e física de quem presta serviço.

Recorrer a terapias convencionais ou integrativas também são caminhos para buscar equilíbrio e lidar com os desafios de dar suporte a quem necessita. A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) tem uma série de podcasts gratuitos sobre o tema, incluindo um específico que aborda “o estresse do cuidador”.

O envolvimento de uma equipe multidisciplinar tende a desoprimir e facilitar a rotina de quem cuida: auxiliares de enfermagem para orientar ou acompanhar curativos, higiene, trocas e banho; fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais; nutricionistas indicando a dieta mais adequada, além de psicólogos e assistentes sociais que contribuirão, inclusive, para entender, aliviar o peso e dar suporte emocional ao cuidador.

E finalmente, diante de tantos fatos, precisamos de políticas públicas para criar programas governamentais que garantam que as necessidades especiais de uns não criarão novas doenças em outros.

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* Daniel Dei Santi é cardiologista e coordenador do Grupo de Estudos de Cuidados Paliativos da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).

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