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As diretrizes atuais contra a hipertensão e as medidas preventivas

Mudanças nos parâmetros que definem essa doença marcada pela pressão alta e os modos de controlá-la são discutidos por um cardiologista

Por Rui Póvoa, cardiologista*
11 abr 2021, 11h33
Foto de mão segurando um esfigmomanômetro
Documento reduz limites da pressão arterial e pede mais atenção a eles.  (Bruno Marçal/SAÚDE é Vital)
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Coração, cérebro, vasos sanguíneos e rins: estes são as principais estruturas afetadas por uma doença sorrateira, que só “dá as caras” depois de prejudicar pra valer o funcionamento de algum desses sistemas do corpo. Trata-se da hipertensão arterial (HA), uma patologia crônica caracterizada por elevação persistente da pressão arterial (PA).

A hipertensão é um atalho e tanto para doenças cardiovasculares (DCVs), doenças renais crônicas (DRCs) e morte prematura. Em 2019, o DataSUS apurou a ocorrência de 1 314 103 óbitos no Brasil, sendo que 27,7% decorreram de DCVs. A hipertensão estava associada a 45% dessas mortes cardíacas.

A estimativa é de que cerca de 25% dos brasileiros sejam hipertensos. Após os 60 anos, o percentual gira em torno de 65%. Nas faixas etárias mais jovens, a pressão é mais elevada entre homens, mas, depois dos 60 anos, são as mulheres as mais sujeitas ao quadro.

A relevância do tema fez com que, neste ano, fosse divulgada uma nova diretriz. Até então, era considerada hipertensa a pessoa com “máxima” (pressão sistólica) igual ou acima de 140 e “mínima” (diastólica) até 90 mmHg. Ou seja, acima de 14 por 9. O novo parâmetro, porém, apresenta o indivíduo como pré-hipertenso com pressão máxima entre 13 e 13,9 e mínima entre 8,5 e 8,9.

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A pressão ideal agora é a que registra números abaixo de 12 por 8. As faixas entre 12 e 12,9 e 8 e 8,4 são consideradas normais, mas não ótimas. Quem apresentar esses parâmetros nas medições em consultório será orientado a iniciar o controle.

Apesar das consequências graves, o diagnóstico e tratamento de hipertensos é relativamente simples e eficaz. Ele envolve mudanças no estilo de vida e a introdução de medicamentos que causam pouco ou nenhum efeito adverso.

A maior preocupação, entretanto, é a gestão desses pacientes, pois a hipertensão é absolutamente assintomática. Boa parte só toma conhecimento do problema depois que a HA já causou estragos.

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Correr na frente

Existe uma relação direta entre falta de exercícios físicos com a elevação da pressão arterial. O sedentarismo é um dos dez principais fatores para a mortalidade global, causando cerca de 3,2 milhões de óbitos por ano.

Todos os adultos são aconselhados a fazer pelo menos 150 minutos de atividades físicas moderadas ou 75 minutos de exercícios mais vigorosos por semana. Os aeróbicos – caminhada, corrida, ciclismo ou natação – devem tomar 30 minutos diários, de cinco a sete dias por semana.

Já a obesidade geral e a gordura abdominal estão associadas ao aumento do risco de hipertensão. Do lado oposto, a redução de peso promove a diminuição da pressão. Está aí mais um benefícios de se manter dentro da faixa da normalidade do IMC (Índice de Massa Corpórea).

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Sódio e outros fatores de risco

O uso excessivo de sódio é apontado como o mais relevante para o desenvolvimento da doença. Logo, moderar no seu consumo é um eficiente meio de controlá-la, sendo que o efeito redutor é maior em negros, idosos e diabéticos.

A ponderação do uso de sal entre a população brasileira é prioridade das políticas de saúde pública, mas requer um esforço combinado entre indústria, governos e sociedade. É necessário romper com costumes “de família” de salgar demais a comida e adquirir o hábito de analisar os níveis de sal em embalagens, uma vez que 80% do consumo acontece involuntariamente, por meio de alimentos processados. A recomendação da OMS é de apenas 5 gramas por dia, o equivalente a uma colher de chá. O brasileiro consome o dobro.

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Além da redução do sódio, há várias propostas de dietas para a prevenção da hipertensão e que também contribuem para a saúde como um todo. Temos, por exemplo, a DASH e suas variantes, que valorizam frutas, verduras, legumes, cereais, leite e derivados, além da diminuição de gordura no cardápio.

Já o consumo excessivo de álcool é responsável por até 30% dos casos de hipertensão arterial e por 6% da mortalidade mundial. A ingestão deve ser limitada a, no máximo, uma garrafa de cerveja (5% de álcool, 600 ml), duas taças de vinho (12% de álcool, 250 ml) ou uma dose de destilados como uísque, vodca ou aguardente (42% de álcool, 60 ml).

A equação “tabagismo mais hipertensão arterial” também tem resultado desastroso: a nicotina eleva a frequência cardíaca, a pressão arterial e a contração miocárdica.

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No mais, a medicina considera que fatores psicossociais, como o estresse, podem contribuir para a hipertensão, assim como a espiritualidade. Já há evidências científicas de que valores morais, emocionais, comportamentais, além de atitudes com relação aos estímulos sociais, podem interferir no controle da pressão.

A hipertensão representa uma grande ameaça. Mas, felizmente, as possibilidades de cortar esse mal pela raiz são ainda maiores.

*Rui Póvoa assessor científico da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP, chefe do Setor de Cardiopatia Hipertensiva e professor da Disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo

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