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A raiva nos afasta das pessoas e nos aproxima das doenças

Com as eleições, esse sentimento anda aflorado. Só que ele não faz nada bem à saúde, como explica especialista

Por Suzana Pacheco Avezum, psicóloga e psicanalista*
Atualizado em 28 out 2022, 09h26 - Publicado em 28 out 2022, 09h25
raiva nas eleições
Sentir raiva traz impactos negativos no organismo. (Foto: Engin Akyurt/Unsplash/Divulgação)
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Este ano eleitoral tem se superado na promoção de um estado de exasperação coletiva motivado por posições políticas antagônicas e por uma total incapacidade de compreender (ou ao menos respeitar) que amigos e familiares podem ter visões diferentes sobre um mesmo tema.

É um cenário que favorece a raiva, uma emoção básica e natural do ser humano, mas que, ao extrapolar o bom senso, prejudica o convívio social, reduzindo nosso círculo e lançando pessoas queridas no hall das desprezadas.

Desencadeada após um evento de contrariedade ou frustração, mas também como resposta a uma ofensa injusta e desmedida, a raiva pode ser entendida como um mecanismo de defesa.

Ela estimula a produção de hormônios responsáveis por nossas reações defensivas, como quando estamos prestes a atacar ou sermos atacados – ou seja, tem a ver com tudo que sugere agressividade ou necessidade de fuga. Olhando por esse lado, a raiva seria até saudável, funcionando como impulso para ações necessárias ou motivação para mudanças.

Porém, alguém colérico, que convive constantemente com essa sensação, sofre os efeitos negativos do estímulo: destilar raiva em tempo integral faz mal ao corpo e à alma.

Os danos emocionais são comprovados pelo constante estado de mal-estar. Não é raro identificarmos e rotularmos pessoas como mal-humoradas, ranzinzas e bravas. O resultado é que elas têm dificuldade em relacionamentos de todos os tipos.

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O impacto no organismo

O corpo bombardeado diariamente pelas substâncias químicas derivadas desse processo de raiva entra em estado de estresse. Afinal, a descarga de adrenalina é muito grande, causando alterações fisiológicas importantes, inclusive do ponto de vista cardiovascular, como aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos.

Em casos extremos, a raiva pode até ser considerada responsável por enfermidades graves, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC).
Alguns estudos já até demonstram uma associação entre raiva e diabetes: os mais raivosos teriam maior tendência em desenvolver a doença.

Tonturas, vertigens, tremores, inquietação, cansaço físico excessivo, falta de memória, problemas gastrointestinais, insônia e distúrbios alimentares (com aumento ou diminuição da ingestão de alimentos) também estão entre os malefícios físicos promovidos pela raiva.

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Refletindo sobre isso, publicamos no site da SOCESP esclarecimentos sobre a raiva e o impacto dela na saúde cardiovascular e geral.

Use a caixa de busca ou clique no índice para encontrar o verbete desejado:

Raiva e espiritualidade

Não é fácil, mas é possível gerenciar o que nos causa raiva. Uma vez que conseguimos identificar os focos geradores – e isso é subjetivo – temos que aprender a evitar as situações que provocam esse sentimento.

Cada um tem seu gatilho, mas um dos mais comuns é a dificuldade em lidar com frustração. Por isso, uma postura mais positiva perante à vida e ao outro é uma possibilidade.

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Aceitar que nada é perfeito e que a frustração pode ser uma excelente aliada para nos levar a tentar novamente é um caminho viável.

Nesse sentido, cabe aqui falar da dificuldade de se lidar com as diferenças: a intolerância com os que pensam de outra maneira, que fazem escolhas contrárias às nossas e que têm outras crenças é algo que merece ser apontado como um dos fatores causadores da raiva.

Note que as mesmas pessoas que militam corretamente a favor da aceitação e inclusão das diferenças podem ser autores de atos de intolerância.

Entender que certas coisas são imutáveis e aprender a não brigar e a relevar quando alguém nos contraria afasta a raiva do nosso dia a dia.

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Temos capacidade de sermos felizes mesmo quando nem tudo é do jeito que gostaríamos, desde que possamos desenvolver capacidade de tolerar as frustrações e contrariedades.

Perdoar quem nos ofendeu entra nesse ranking de busca pela espiritualidade que faz bem ao coração – nos dois sentidos – e deixa a raiva limitada ao seu lugar, sem extrapolar.

Ofensas infundadas e bate bocas infindáveis, que se tornaram recorrentes nos últimos tempos por motivos políticos, devem ser evitados e não apenas para mantermos as boas relações, mas porque ninguém muda a opinião do outro com truculência.

A única coisa capaz de mudar quando nos alimentamos de doses diárias de raiva é a nossa saúde física e mental. Para pior.

*Suzana Pacheco Avezum é psicóloga e psicanalista e diretora executiva do Departamento de Psicologia da SOCESP.

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