Imagine uma bio-impressora capaz de gerar curativos feitos com células-tronco, que então são colocados nas feridas das pernas de pessoas com diabetes. Essas lesões, que demorariam meses ou anos para cicatrizar, fecham-se bem mais rapidamente. Parece ficção científica, mas não é.
Uma interessante e inédita linha de estudos conduzida no Brasil pelo grupo da empresa INSITU, de Ribeirão Preto, está fazendo exatamente isso. São os biocurativos.
Os pesquisadores, liderados pela bióloga Carolina Caliari, usam células-tronco mesenquimais coletadas direto do cordão umbilical. Essas células possuem capacidades anti-inflamatórias e regenerativas, que são primordiais para uma rápida cicatrização. Além disso, não provocam rejeição — o organismo de quem as recebe não cria anticorpos contra elas.
A INSITU possui um banco de células-tronco mesenquimais congeladas. Assim que surge um novo paciente, basta descongelar algumas, proliferá-las e, em seguida, fazer a bio-impressão de placas de 1 por 1 centímetro de hidrogel. O processo demora, em média, uma semana.
O hidrogel é uma espécie de malha biodegradável em que são espalhadas 100 mil células por centímetro quadrado. Na maioria das vezes, basta uma aplicação na ferida.
Em 2020, o produto foi aprovado para pesquisas em seres humanos com queimaduras e contra a anemia falciforme. E os pesquisadores aguardam a liberação de estudos em pessoas com diabetes.
O estado diabético predispõe ao surgimento de feridas, que em muitos casos evoluem para amputação (especialmente de pernas e pés). O diabetes é a segunda causa de amputações no Brasil.
Enquanto o biocurativo com células-tronco não é lançado para todos, vale ressaltar que a principal arma contra as feridas é a prevenção. Todas as pessoas com diabetes devem usar calçados confortáveis, na maioria das vezes fechados e com meia. Elas também precisam evitar fungos e bactérias e manter os pés hidratados, o que afastas as rachaduras. O corte correto e cuidadoso das unhas é outro ponto essencial para não apresentar machucados que podem evoluir para amputações.
E é sempre bom o paciente fazer o autoexame dos pés — ou pedir para familiares observarem se há feridas. Em caso positivo, elas devem ser prontamente tratadas. Muitas vezes, a falta de sensibilidade nos pés decorrente do diabetes dificulta a sensação de dor, que é um sinal de alerta e de proteção.