Imagine investir em um medicamento para o tratamento do diabetes tipo 2, mas, aí, descobrir que você caiu num golpe? Pois é. Recentemente a Anvisa detectou três lotes falsificados de Ozempic – dois no ano de 2023 e um lote agora em 2024.
O Ozempic é o nome comercial de um medicamento à base de um hormônio chamado semaglutida. Assim como outros da mesma classe, ele possui ação semelhante ao hormônio produzido pelo intestino chamado GLP-1. A prestigiosa revista Science estampou em sua capa esse grupo de remédios como o “avanço do ano de 2023”.
Segundo a farmacêutica Laura Fonseca Orlando, gerente de qualidade e farmacovigilância da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk no Brasil, os lotes falsificados apreendidos tinham embalagens semelhantes às comercializadas no Brasil, mas em idioma espanhol. “A patente da semaglutida vai até o ano de 2026 no Brasil e a legislação é clara em apontar que é proibido se comercializar produtos que ainda não perderam patente”.
E a novela da falsificação não para por aí: “Já foram encontrados produtos ditos à base de semaglutida em farmácias de manipulação, sob a forma de comprimidos, implantes subcutâneos, adesivos e até de uso nasal”, afirma Laura.
Segundo a farmacêutica, para importar e comercializar semaglutida no Brasil, é necessário ter o licenciamento na Anvisa. Um ponto para pensar é que não haveria o mercado da falsificação sem consumidores comprando, com ou sem consciência, esse tipo de produto.
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Se pesquisar sobre o Ozempic na internet, você vai encontrar ofertas de diversas formulações, com preços usualmente mais baixos e em apresentações não aprovadas no Brasil. Recentemente, a Anvisa se comprometeu a utilizar seus esforços para reduzir 95% das propagandas irregulares de medicamentos na internet.
Imagine uma pessoa com diabetes tipo 2 usando semaglutida falsificada. “Além de não sabermos que tipo de substâncias existe nesse produto irregular, haverá sérias questões sobre eficácia e segurança envolvidas”, alerta Thais Emy Ushikusa, gerente médica da Nordisk Brasil.
E tem um outro ângulo nessa história. No Brasil, grande parte do Ozempic “original” vendido nas farmácias é adquirido sem receita médica, apesar de ser um medicamento com tarja vermelha. E essa sinalização tem sentido: ela indica que deveria ser obrigatória a apresentação da receita.
Segundo consta no site da Anvisa, isso é importante porque esses medicamentos podem trazer efeitos colaterais indesejáveis, caso sejam usados inadequadamente.
No Brasil , apesar de Ozempic ser aprovado para o tratamento do diabetes tipo 2, um número enorme de pessoas faz uso com o objetivo de emagrecer.
Temos aprovado por aqui o Wegovy desde janeiro de 2023, uma versão com dosagem mais alta de semaglutida para pacientes com excesso de peso, mas ele ainda não está disponível nas farmácias para a compra. O efeito desse remédio no peso corporal em geral é ainda maior do que o do Ozempic.
Por isso, todos nós como sociedade temos que ficar ainda mais atentos para coibir e evitar o uso indevido e o acesso a medicamentos falsificados.
Regras gerais para evitar remédios falsificados são simples:
- Use apenas medicamentos prescritos pelo seu médico.
- Compre em farmácias conhecidas.
- Fique atentos às características do rótulo e do produto após aberto.
- Tenha cuidado com pechinchas: via de regra, produtos baratos demais são suspeitos de falsificação ou até mesmo de contrabando.
Se houver suspeita de ter adquirido um medicamento falsificado, a primeira coisa a fazer é entrar em contato com seu médico e com a Anvisa. A agência possui diversos canais disponíveis ao público. Para acessá-los, basta clicar aqui.