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O Futuro do Diabetes

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Carlos Eduardo Barra Couri é endocrinologista, pesquisador da USP de Ribeirão Preto e criador do Endodebate e do Diacordis. Aqui ele mapeia os cuidados e os avanços para o controle do diabetes

Alzheimer x semaglutida: o estudo que decepcionou (mas ensinou muito)

Semaglutida não trouxe benefícios clínicos contra o Alzheimer, mas estudo EVOKE traz importantes ensinamentos sobre Ciência

Por Carlos Eduardo Barra Couri
Atualizado em 5 dez 2025, 16h13 - Publicado em 5 dez 2025, 16h09
Em estudo com quase 4 mil participantes, Rybelsus não trouxe benefícios frente à perda cognitiva e funcional quando comparado a um placebo.
Em estudo com quase 4 mil participantes, Rybelsus não trouxe benefícios frente à perda cognitiva e funcional quando comparado a um placebo. (Design by Freepik/Freepik)
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Os estudos gêmeos EVOKE e EVOKE+, conduzidos pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, tiveram seus resultados divulgados na noite desta quarta-feira (3) em San Diego.

A proposta era ousada e promissora: testar a semaglutida oral — medicamento famoso por tratar obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares e renais — como uma possível forma de frear o avanço do Alzheimer em seus estágios iniciais.

O estudo envolveu 3.808 pessoas com idade média de 72 anos. Todos tinham diagnóstico de comprometimento cognitivo leve (um estágio anterior à doença de Alzheimer) ou Alzheimer em estágio inicial — fases nas quais os sintomas de perda de memória começam a surgir, mas ainda não há um quadro demencial estabelecido.

A semaglutida, usada na dose de até 14 mg via oral, foi comparada ao placebo ao longo de 2 anos de acompanhamento. A escolha desse medicamento se baseava em evidências anteriores (indiretas) de que ele poderia, além de controlar peso e glicemia, reduzir inflamações no sistema nervoso, um dos mecanismos envolvidos no Alzheimer.

Outro ponto importante: condições como obesidade, hipertensão e diabetes, todas associadas a maior risco de Alzheimer, podem ser tratadas com a semaglutida. Logo, a esperança era que, ao atacar essas causas, ela também pudesse proteger o cérebro.

+Leia também: “Ozempic oral”; falha em estudos contra Alzheimer

Quem eram os participantes?

Metade dos participantes tinha IMC entre 18,5 e 25 (peso considerado normal). Além disso, 35% tinham sobrepeso e 15% obesidade. Entre eles, apenas 13% tinham diabetes tipo 2. Ainda, aproximadamente metade dos pacientes estava em tratamento com medicamentos para Alzheimer, como donepezila e memantina.

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E os resultados?

Apesar da grande expectativa, os resultados não mostraram benefício clínico na comparação entre quem usou semaglutida e quem não usou:

  • Nenhuma diferença na progressão dos sintomas de memória, atenção, raciocínio e funcionalidade;
  • Também não houve impacto no tempo até a progressão para demência;
  • Houve, sim, melhora em alguns marcadores laboratoriais de inflamação (como a proteína C-reativa) e de neurodegeneração em análises de sangue e líquor (o líquido que envolve o sistema nervoso). Mas isso não se traduziu em melhora clínica percebida.

Além disso, o uso da semaglutida foi considerado seguro, mesmo em uma população idosa. No entanto, 44% dos participantes tiveram algum efeito adverso e 15,5% pararam de tomar o remédio por causa disso. Outros 22,6% precisaram reduzir a dose.

Os efeitos mais comuns foram perda de apetite, náuseas, perda de peso e diarreia. Sobre o peso, os resultados foram expressivos. Pessoas com IMC entre 25 e 30 perderam, em média, 6,5% do peso em dois anos. Já aqueles com IMC acima de 30 perderam 8,6%. Mesmo quem tinha peso normal (IMC 18,5 a 25) perdeu 4,5% do peso corporal.

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+Leia também: O exame que pode detectar Alzheimer anos antes dos sintomas

O que aprendemos com tudo isso?

A semaglutida não funcionou como proteção contra o Alzheimer nesse cenário. Mesmo com sinais de melhora em exames, o que realmente importa — a cognição e o dia a dia do paciente — não mudou.

No entanto, isso não invalida seu papel no tratamento da obesidade e do diabetes, que continuam sendo fatores de risco importantes e válidos de tratar. Também mostra que, mesmo com bons indícios biológicos, um medicamento só pode ser recomendado após testes clínicos rigorosos como este.

Como colunista, confesso: eu torcia para que desse certo. A ciência, às vezes, desafia nossa intuição. E é por isso que precisamos de estudos clínicos bem conduzidos. Só assim se constrói a medicina baseada em evidências. Já se foi a era do “achismo”.

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