Como evitar o estresse na volta às aulas?
Médicos pontuam cinco atitudes capazes de tornar esse momento mais leve para crianças e jovens
O período estudantil está relacionado a muitas emoções. O processo de aprendizado intelectual e social e o desenvolvimento causam estresse, mas isso é uma reação normal dos seres humanos e está envolvido com mecanismos de proteção e fortalecimento. Contudo, quando ocorre de maneira prolongada – especialmente entre crianças e adolescentes – pode levar a impactantes prejuízos para a saúde mental.
Vale destacar que o estresse é uma reação fisiológica. Funciona assim: quando o organismo percebe situações de perigo, desencadeia reações psíquicas e hormonais de forma rápida e simultânea, gerando consequências em praticamente todos os sistemas fisiológicos do nosso corpo. Essa complexa resposta ao perigo é programada para se encerrar brevemente, tão logo o perigo tenha passado.
Falando de escola, esse é um período em que alguns desafios implícitos no processo de aprendizado intelectual e social podem causar estresse prolongado.
O desenvolvimento do senso de responsabilidade associado ao crescente e precoce volume de informações, o controverso aumento a exposição aos eletrônicos e a escassez de tempo dos pais são ingredientes capazes de piorar a situação. Precisamos considerar ainda que a atual geração de jovens tem sido apontada por pesquisadores como a mais estressada dos últimos tempos, segundo a Academia Americana de Psicologia.
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A ansiedade manifesta-se por meio de sentimentos de tensão, medo e preocupação inerentes ao ser humano – e é normal até certo ponto. Mas, em excesso, pode se tornar uma doença mental, conhecida como transtorno de ansiedade.
Quando se torna constante, esse sentimento passa a ser algo perturbador e chega a limitar a pessoa, atrapalhando até mesmo as suas atividades cotidianas – para esse público mais jovem, os problemas aparecem na escola ou na vida social.
As causas são complexas e envolvem diversos fatores biológicos, ambientais, emocionais, culturais, entre outros. Hereditariedade, aprendizagem de como lidar com medos e problemas a partir de modelos parentais e familiares, exposição a diferentes formas de violências, modelo de educação familiar com excessiva proteção ou cobrança exagerada são alguns exemplos.
Um artigo do Massachusetts General Hospital, nos Estados Unidos, traz cinco passos fundamentais na promoção à saúde mental na volta às aulas. Confira:
Passo 1
O dia de aula começa na noite anterior. O que ocorre a partir do jantar acaba refletindo na aula da manhã seguinte. É preciso considerar, então, a alimentação, o ambiente (que, em casa, deve ser mais calmo), as conversas, a higiene do sono e o horário de dormir.
+ Leia também: Aula mais tarde é saudável para aluno
Passo 2
O aluno deve participar da preparação da volta às aulas. Algumas ideias: visitar a escola, reconhecer o espaço e a sala de aula, fazer o trajeto até a instituição, auxiliar na compra do material escolar e ajudar na arrumação de roupa, uniforme e mochila. É importante estabelecer uma rotina de preparo.
Passo 3
Dar espaço e estimular o estudante a falar da escola, dos seus sentimentos, dos medos e da ansiedade – mas sem julgá-lo ou tentar ficar dando ensinamentos.
Deixe-o falar e busque conduzir a conversa de uma forma positiva. Uma dica valiosa é preparar algum evento no dia anterior à volta às aulas, especialmente nas noites de domingo. Um jantar especial ou outro programa legal traz um marco diferente na volta às aulas.
Passo 4
Ajude a estabelecer uma agenda possível, realística e com prioridades. Lembre-se do tripé: disciplina, auto desafio e prazer. É importante que a agenda não leve o adolescente à sensação de incapacidade e que inclua horários livres com a família.
Passo 5
Talvez esse seja o mais difícil: o cuidador precisa ser o próprio modelo. As crianças e os jovens estão muito atentos e aprendem com pequenos gestos (bons ou ruins) dos pais. O problema é que somos tomados pela rotina e pelo estresse sem perceber, e também por necessidade.
Pode ser que a maioria das informações que trouxemos aqui não esteja funcionando e, nesse caso, será necessário a ajuda de profissionais de saúde mental, que podem indicar intervenções mais específicas.
A busca pelo equilíbrio faz parte da natureza humana e deve ser incansável – para o nosso bem e o das pessoas que de fato são importantes para nós.
*Alexandrina M. A. S. Meleiro é médica psiquiatra e membro do conselho científico da Abrata e Volnei V. R. Costa é médico psiquiatra e presidente do conselho científico da Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos)