A adolescência acontece entre os 12 aos 24 anos, período marcado por profundas mudanças biológicas, cognitivas e psicossociais.
A pessoa busca por mais autonomia, forma a identidade pessoal, reavalia identificação de gênero, vivencia as orientações e os modelos afetivo-sexuais, questiona e constrói visão de mundo e posicionamento social.
As mudanças no cérebro são influenciadas pelas experiências vividas, pelo estado de saúde físico e mental e pelo uso de substâncias, principalmente as de ação sobre o sistema nervoso central.
Os jovens são mais impulsivos, buscam prazer imediato e têm baixa tolerância à frustração. Isso tudo acontece parte em função do desenvolvimento cerebral ocorrer em etapas.
O juvenil pode alternar momentos de alegria e tédio com outros de desinteresse e irritação, ter uma forte expressão de suas opiniões, muitas vezes não sabendo balancear um contraponto.
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É comum também imprimir intensidade ao que se está vivendo. Assim, fazem parte do seu vocabulário palavras como “pra sempre”, “nunca mais”, “o melhor de tudo”, “o pior de todos”.
Depressão, ansiedade e suicídio na adolescência
Diferenciar a depressão e ansiedade da oscilação normal de humor inerente à adolescência não é simples. Ambos os transtornos são as principais condições mentais que ocorrem na adolescência e estão ligadas bidirecionalmente à experimentação de substâncias psicoativas, como a cannabis e o álcool.
Eles funcionam como uma “automedicação” para aliviar emoções desagradáveis e enfrentamento das principais dificuldades, e, por outro lado, catalisam mais ansiedade e depressão. Esse ciclo aumenta o risco de suicídio.
O suicídio traz em si a esperança de acabar com dores percebidas como intermináveis, insuportáveis e inescapáveis.
Há uma distorção da realidade que não permite encontrar a resolução de suas angústias. A sobreposição do adoecimento com outros fatores, muitas vezes invisíveis, e a ausência de fatores de proteção podem levar à intenção de morte.
Estudos revelam que 30% dos adolescentes referem ideação suicida em algum momento de suas vidas, que 10% chegam a fazer tentativas, e que 60% dos suicídios acontecem no contexto de depressão.
Problema em ascenção
Estatísticas mostram que a saúde mental tem piorado nos últimos anos.
Por que o aumento? Estudos científicos e a Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam alguns fatores.
Entre eles, mudanças na estrutura familiar, fácil acesso a álcool e drogas, menos religiosidade, isolamento, prática sexual desprotegida (contração de DSTs), maior banalização das trocas de parceiros, não utilização de métodos contraceptivos, gravidez precoce, utilização de aplicativos ou sites de relacionamento.
Também o divórcio, a formação de uma nova família com padrastos e irmãos adotivos, abuso físico, moral e sexual ou a mudança para uma nova comunidade podem ser muito perturbadores e intensificar as dúvidas sobre si mesmo.
Importante destacar que as desigualdades sociais, pertencimento a minorias e discriminação são perturbadores para o adolescente.
Segundo a OMS, mais fatores de risco devem ser lembrados: história familiar de tentativas de suicídio, perda recente ou rejeição, sentimentos de desesperança ou desamparo, comportamento agressivo ou perturbador, acesso aos meios letais.
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Papel da internet
A internet é ambígua, mas pesa negativamente para a saúde. Além do cyberbullying, há a influência das redes sociais nas atitudes e ainda o comportamento de contágio (efeito Werther) provocado pela internet, que chega a quadriplicar o risco de suicídio em jovens.
Pesquisadores têm forte suspeitas, e investigam a ligação entre o tempo gasto em dispositivos com internet e o aumento acentuado da depressão e suicídio entre adolescentes.
Compreender em que estamos errando pode parecer complexo e distante.
E o enfrentamento desse problema requer um somatório de forças e a retomada de valores que protejam a criança e o adolescente, desenvolvimento de educação cibernética e de políticas públicas sociais, em saúde e educação, que tenham como foco atrasar ao máximo o contato com álcool e drogas e promover qualidade de vida.
Quem lê esse artigo pode ser mais uma das forças somadas.
* Alexandrina Maria Augusto da Silva Meleiro e Volnei Vinícius Ribeiro da Costa, são membro do conselho científico e presidente (respectivamente) da Associação Brasileira de Familiares Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata)