Maio Amarelo: os invisíveis no trânsito
Uma mulher com deficiência visual conta, a partir de uma experiência própria, como precisamos ser mais respeitosos e inclusivos no trânsito brasileiro
Ainda lembro bem quando me coloquei em perigo como pedestre à noite. Logo eu, que tenho baixa visão por causa da neuromielite óptica (NMO), uma doença rara.
Explico: fui para uma consulta, mas ela demorou mais do que o esperado. Quando me dei conta, já havia escurecido.
Acontece que sofro com fotofobia, uma sensibilidade extrema à luz. E isso não me permite olhar para os faróis dos carros. Usar óculos escuros ajuda, mas não resolve – com eles, não consigo enxergar onde piso à noite.
Mas lá estava eu saindo da consulta e precisando voltar para casa. As luzes dos carros ofuscavam minha visão e olhar o trânsito já não era possível. Então tracei um plano: caminhar de cabeça baixa com os olhos fixos olhando para o chão até o ponto de ônibus.
Estava indo tudo bem. Até que o desespero bateu ao me deparar com uma faixa de pedestres num cruzamento, e ver todos atravessando apressadamente. Justo eu que tem mobilidade reduzida! Pois é: a NMO também pode afetar a locomoção.
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Sei que meus passos curtos e esforçados não combinam com o relógio de quem está atrasado. Até entendo, porque o mundo não enxerga deficiências invisíveis como a minha, muito menos a finalidade do colar de girassol que uso.
Mas a impaciência dos motoristas é um comportamento comum que anula a empatia e aumenta consideravelmente os riscos de acidente no trânsito. Dessa vez, eu me safei, apesar do medo. Mas sabe por que nos sentimos vulneráveis?
Porque, seja com ou sem deficiência, vivenciamos a falta de educação no trânsito cotidianamente. O que custa respeitar o semáforo, a faixa de pedestres, as sinalizações, a vaga exclusivas para idosos e deficientes?
Nessa matemática, o que vale mais? Seus dois minutos ou a vida de alguém?
O Maio Amarelo serve para conscientização sobre acidentes no trânsito. O respeito salva e a imprudência mata anualmente milhares de pessoas no Brasil. Por isso, alerto: o limite de velocidade deve ser respeitado, e o seu veículo precisa estar com os equipamentos de segurança em dia.
Essas recomendações não são apenas para me proteger como pedestre. Se você parar para pensar, estará salvando sua vida também. O pior cego é aquele que não quer ver!
*Bianca Lima de Oliveira tem neuromielite ótica (NMO) e gosta de dizer que está superando as sequelas dessa condição.