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Como o diagnóstico de diabetes direcionou meu trabalho em genética

Pesquisador conta, a partir de sua própria experiência, como o combate da doença crônica pode se beneficiar dos avanços genéticos

Por Rafael Malagoli, patologista e gestor*
22 nov 2024, 13h49
aconselhamento-genetico
Avanços científicos aumentaram as possibilidades do uso dos conhecimentos genéticos na saúde (Jian Fan (DNA), LUVLIMAGE (mão), Liudmila Chernetska (mão com luva)/Getty Images)
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Eu tenho diabetes e dependo de insulina há 40 anos. Quando fui diagnosticado, no começo da década de 1980, a medicina e a ciência estavam longe do que temos hoje em termos de tecnologia e conhecimento sobre a doença.

Naquela época, as insulinas ainda estavam em um estágio inicial de desenvolvimento, e os métodos de controle da glicemia eram precários, por assim dizer. Os testes não eram tão rápidos e precisos quanto os de hoje, e o acompanhamento se limitava muitas vezes ao monitoramento da glicose e à tentativa de ajustar a dose de insulina.

Ao longo das décadas, vi uma evolução impressionante na ciência e na medicina, que sempre me ajudaram a ter uma vida mais saudável e a controlar a doença.

A revolução no tratamento do diabetes tem sido, sem dúvida, uma jornada de descobertas. Hoje vejo um futuro muito mais promissor para quem enfrenta essa condição. A introdução de testes genéticos e o avanço do conhecimento sobre a microbiota intestinal são apenas alguns exemplos de como a ciência tem nos auxiliado a melhorar a qualidade de vida e o controle glicêmico.

Com a possibilidade de prever, em alguns casos, o risco de desenvolver diabetes, tanto tipo 1 quanto tipo 2, conseguimos atuar de forma mais precoce e personalizada. Hoje, podemos identificar predisposições genéticas que nos ajudam a direcionar tratamentos mais eficazes e adaptados a cada indivíduo e até mesmo identificar acometimentos genéticos que podem ser transmitidos aos filhos.

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No caso das minhas filhas, por exemplo, entender essas predisposições genéticas pode ser uma ferramenta importante para prevenção e para agir antes que o diabetes se manifeste.

Além disso, estudos preliminares mostram que a modulação da microbiota intestinal pode ter um impacto direto no controle glicêmico. Algumas bactérias intestinais têm um efeito glicêmico menor, e privilegiá-las pode ser uma estratégia importante para melhorar a resposta ao tratamento.

+Leia também: Aconselhamento genético: o que é e quando vale a pena procurar

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Foi com esse olhar para o futuro que, junto com outros profissionais, criei a Bioma Genetics, uma empresa voltada para a realização de testes genéticos e de microbiota, que olha com cuidado para as ferramentas que auxiliam no controle do diabetes.

Cenário alarmante do diabetes no Brasil

Os números do diabetes no Brasil são alarmantes. Estima-se que cerca de 10% da população brasileira viva com a doença, mas o pior é que metade dessas pessoas sequer sabe disso. São aproximadamente 16 milhões de brasileiros diagnosticados, e esse número continua crescendo devido a fatores como aumento da longevidade e, principalmente, da obesidade.

A obesidade é um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2, que já representa 99% dos casos de diabetes no país. O diabetes tipo 1 (que é o meu caso), que é mais comum em crianças e jovens, é responsável por apenas 1% dos casos.

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Porém, a boa notícia é que, com a evolução do conhecimento e da tecnologia, há cada vez mais formas de retardar o aparecimento do diabetes ou até mesmo prevení-lo. Programas de prevenção, controle da alimentação, monitoramento glicêmico contínuo e a conscientização sobre a doença são fundamentais.

A evolução da ciência nos últimos 40 anos tem sido incrível, e sou testemunha dessa transformação. O diabetes, que antes parecia uma sentença definitiva, hoje pode ser gerido com muito mais eficiência e qualidade de vida.

Como alguém que convive com essa condição, posso afirmar com certeza: a ciência nunca esteve tão ao nosso lado, e o futuro para quem tem diabetes é, sem dúvida, muito mais promissor.

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*Rafael Malagoli é CEO da Bioma Genetics e professor orientador do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

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